09 Fevereiro 2011
O enorme sucesso do filme Des hommes et des dieux (Sobre Homens e Deuses), de Xavier Beauvois, me emociona profundamente. Esse entusiasmo não deixa de ser surpreendente e vou dizer aqui porque este filme me tocou e porque eu acho que ele tocou tantos espectadores. Seu primeiro ponto forte é sua simplicidade e sua lentidão. Sem grandes discursos, pouca música, com longos "planos", onde a câmera para nos rostos e atitudes, ao invés de uma série de planos rápidos alternados à maneira dos comerciais.
A análise é de Frédéric Lenoir e está publicada em Le Monde des Religions, 20-10-2010. Lenoir é diretor de redação do Monde des Religions. A tradução é do Cepat.
Em um mundo agitado, barulhento, onde tudo anda muito acelerado, o filme nos permite mergulhar durante duas horas em uma temporalidade diferente que leva à interioridade. Alguns não suportam isso e se aborrecem um pouco, mas a maioria dos espectadores vive uma viagem interior de grande riqueza. Porque os monges de Tibhirine, interpretados por atores admiráveis, nos mergulham em sua fé e em suas dúvidas. E esta é a segunda grande qualidade do filme: longe de qualquer maniqueísmo, ele nos mostra as hesitações dos monges, suas forças e suas fraquezas.
Filmando o mais próximo possível do real e apoiado totalmente pelo religioso Henry Quinson, Xavier Beauvois escova o retrato de homens nos antípodas de super-heróis hollywoodianos, ao mesmo tempo atormentados e serenos, angustiados e confiantes, e que não param de perguntar sobre a utilidade de permanecer em um lugar onde eles correm o risco de serem mortos a qualquer momento. Estes monges, que vivem uma vida ainda nas antípodas da nossa, tornam-se próximos. Nós somos tocados, crentes ou não crentes, por sua fé límpida e seus medos; nós compreendemos suas preocupações, nós sentimos o seu apego a esse lugar e às pessoas.
Esta fidelidade para com os moradores com os quais vivem e que será, por outro lado, a principal razão para sua recusa em sair, e, portanto, do seu fim trágico, constitui sem dúvida nenhuma a terceira força deste filme. Porque esses religiosos católicos optaram por viver em um país muçulmano que eles amam profundamente, e eles mantêm uma relação de confiança e de amizade com a população que mostra que o choque de civilizações não é uma fatalidade. Quando as pessoas se conhecem, quando vivem juntas, os medos e os preconceitos caem e cada qual pode viver a sua fé respeitando a dos outros.
É o que expressa de maneira comovedora o prior do mosteiro, o padre Christian de Chergé, no seu testamento espiritual lido em off por Lambert Wilson no final do filme, quando os monges são sequestrados e partem rumo ao seu destino trágico: "Se algum dia me acontecesse – e isso pode acontecer hoje – de ser vítima do terrorismo que parece querer abarcar agora todos os estrangeiros que vivem na Argélia, eu gostaria que a minha comunidade, a minha Igreja, a minha família, se lembrassem de que a minha vida estava entregue a Deus e a este país. (...) Eu gostaria de, ao chegar esse momento da morte, ter um instante de lucidez que me permitisse pedir o perdão de Deus e o dos meus irmãos em humanidade, ao mesmo tempo que de perdoar de todo o coração, aos que me tiverem ferido."
A história desses monges, assim como um testemunho de fé, é uma verdadeira lição de humanidade.
Nota da IHU On-Line. O filme pode ser visto em "Peliculas online" - www.divxonline.info
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Os monges de Tibhirine. Uma lição de humanidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU