04 Abril 2011
Jean Arsène Yao, marfinense de 41 anos, é doutor em História e professor da Universidade de Abidjã. Mora em Madri, mesmo que se desloque com frequência à cidade que está prestes a ceder às forças de Alassane Ouattara, o presidente eleito.
A entrevista é de Silvia Blanco e está publicada no El País, 02-04-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O estopim da violência é eleitoral. Laurent Gbagbo se nega a abandonar o poder mesmo que tivesse perdido as eleições de 2010. Em que momento se pode situar a origem do conflito?
Tudo começa em 1993, ao morrer o primeiro presidente, Félix Houphouët-Boigny. Seu primeiro ministro, Alassane Ouattara, e o presidente do Parlamento, Henri Konan Bédié (o sucessor segundo a Constituição), disputam a presidência. Vence Bédié e um ano depois, inspirado por um grupo de intelectuais marfinenses, cria o conceito de ivoirité (marfinidade), que foi se desvirtuando para se converter em arma contra parte da população, principalmente a do norte (malinké e senufo), zona de origem de Ouattara. Nesta região, Ouattara obteve 70% e 90% dos votos.
Ouattara foi vetado para se candidatar por duas ocasiões porque seu pai era de Burkina Fasso. Há um transfundo de xenofobia?
Antes de 1960, quando a Costa do Marfim era uma colônia, os franceses trouxeram muita mão de obra para as plantações de cacau. Um terço da população é estrangeira. Procedem do Níger, Mali, Senegal e Guiné, mas sobretudo de Burkina Fasso. Os imigrantes chegaram de países muito mais pobres e de maioria muçulmana atraídos pelo "milagre marfinense" dos anos 1970, e se identificaram mais com os povos do norte. Ouattara, em sua luta por chegar a ser presidente, se converteu em um símbolo para eles. O problema com Ouattara era a origem de seu pai, que, mesmo que vivesse na Costa do Marfim, foi enterrado em Burkina.
A Costa do Marfim é o principal produtor de cacau do mundo. Como condiciona o conflito?
O cacau representa 40% das exportações do país. Serviu para financiar grandes projetos e também a guerra. Quem controla o cacau controla a guerra, a política e a economia, o que explica o interesse das forças de Ouattara em tomar o porto de São Pedro, por onde se escoa o cacau. O comércio e o transporte são controlados pelos malinké, etnia de Ouattara. Economicamente fortes, só lhes faltava o poder político. A Costa do Marfim é um importante mercado que sempre foi controlado pela França. Com a chegada de Gbagbo as coisas começaram a mudar. China, Rússia, África do Sul e Brasil ganharam mercado e tiraram poder da França, que vê em Ouattara um defensor dos seus interesses.
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"Quem controla o cacau controla a política e a guerra na Costa do Marfim’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU