16 Julho 2012
Gays e lésbicas episcopalianos dos Estados Unidos estão celebrando a aprovação por parte da sua Igreja, no dia 10 de julho, de ritos litúrgicos para abençoar casais do mesmo sexo. Mas os conservadores estão ameaçando tomar medidas "drásticas" para se distanciarem da Igreja Episcopal.
A reportagem é de Daniel Burke, publicada no sítio Religion News Service, 12-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os episcopalianos reunidos em sua Convenção Geral trienal em Indianápolis, nos EUA, aprovaram os novos ritos por maioria esmagadora. Membros leigos e pastores somaram 171 votos a favor e 41 contra as bênçãos do mesmo sexo. Os bispos tiveram 111 votos a favor e 41 contra, com três abstenções.
Fazendo isso, a Igreja Episcopal se juntou a um pequeno mas crescente número de grupos religiosos nos EUA que sancionaram ritos para celebrar uniões do mesmo sexo. Poucos, no entanto, fazem parte de órgãos internacionais.
Os episcopalianos, por outro lado, formam o ramo norte-americano da Comunhão Anglicana, uma irmandade com 85 milhões de membros no mundo inteiro e com raízes na Igreja da Inglaterra. Preocupados em manter a comunhão intacta, os líderes anglicanos alertaram a Igreja Episcopal contra a adoção de políticas pró-gays. Muitos anglicanos na África e em outras partes do mundo consideram o homossexualismo como pecaminoso.
No dia 11, David Brownlie-Marshall, representante do arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder espiritual da Comunhão Anglicana, disse: "O arcebispo não está planejando divulgar um comunicado nesta fase". Williams planeja se aposentar no fim deste ano.
A bispa episcopaliana presidente, Katharine Jefferts Schori, votou a favor das bênçãos do mesmo sexo no dia 9. Uma porta-voz disse que ela não estava disponível para comentar.
A Rev. Susan Russell, antiga ativista dos direitos gays na Igreja Episcopal, louvou as novas bênçãos como um "passo rumo à plena inclusão de todos os batizados em todos os sacramentos". Mas o associado sênior da All Saints Church, de Pasadena, Califórnia, disse que o trabalho está incompleto.
Os ritos do mesmo sexo se assemelham a uma cerimônia de casamento, com uma troca de votos e de anéis – mas não são, tecnicamente, um matrimônio. Assim como não são as bênçãos incluídas no Livro de Oração Comum, o livro oficial da Comunhão Anglicana para celebrações e ritos, que define o matrimônio como sendo a união entre um homem e uma mulher.
Alguns ativistas gays já criticaram os novos ritos episcopalianos como "separados e desiguais".
Russell disse que as bênçãos, que a resolução aprovada no dia 10 chama de "provisórias", são uma fase do caminho, não o ponto final. "Estou bastante confiante de que, em três anos, voltaremos a nos encontrar e nos moveremos em direção à plena igualdade do matrimônio", disse.
Mas será que os episcopalianos conservador ainda estarão por perto para debater com eles?
A delegação da diocese da Carolina do Sul abandonou a Convenção Geral em protesto, no dia 11.
"Devido às ações da Convenção Geral, a delegação da Carolina do Sul concluiu que não podemos continuar como se não houvesse acontecido nada", disse a diocese em um comunicado. "Todos nós concordamos que não podemos e não permaneceremos no plenário da Câmara nem agiremos como se tudo estivesse normal".
No dia 10, o Rev. Kendall Harmon, teólogo canônico da diocese da Carolina do Sul, chamou a aprovação das bênçãos do mesmo sexo de "não bíblicas" e "inconvenientes".
"Ao tomar essa decisão, a Igreja Episcopal se move para longe de Jesus Cristo e seus ensinamentos", disse Harmon. "Assim, torna-se necessário para a diocese da Carolina do Sul tomar ações mais decisivas e dramáticas para se distanciar desse passo em falso".
Harmon disse que a Carolina do Sul não está necessariamente ameaçando se separar da Igreja Episcopal, como quatro dioceses fizeram desde que a Igreja consagrou um bispo gay em 2003. Mas a sua diocese já começou a se afastar da Igreja nacional, e os episcopalianos locais esperam agora que essa distância aumente, disse Harmon.
De acordo com as diretrizes aprovadas com as bênçãos do mesmo sexo, os bispos não têm que permiti-las em sua diocese. Os pastores também não podem ser forçados a realizá-las.
O bispo do Texas, C. Andrew Doyle, disse que as congregações e os clérigos podem tomar suas próprias decisões, um plano publicamente apoiado pelo ex-secretário de Estado, James A. Baker.
"Pessoas 'linha-dura' dos dois lados da questão podem achar essa proposta falha", escreveu Baker, episcopaliano, no site da diocese. "Mas, para mim, essa parece ser a melhor forma de estabelecer uma situação em que os dois lados ganham, em que não há um grupo de vencedores e um grupo de perdedores".
O bispo Paul Marshall, de Bethlehem, Pensilvânia, autoriza a bênção de casais do mesmo sexo desde 2009, quando a Igreja Episcopal removeu uma proibição temporária.
"Por um lado, há para nós, então, muito pouca novidade em ação por parte da Convenção Geral hoje", escreveu Marshall no dia 10 no site de sua diocese.
Mas "há algo muito novo no fato de a Igreja adotar publicamente um único rito para se usar sempre que as bênçãos sejam celebradas – em uma igreja tão liturgicamente centrada como a nossa, isso torna as bênçãos mais oficiais, mais ritualmente 'reais' e teologicamente substanciosas", disse Marshall.
Outras crenças
Os ramos conservador, reformista e reconstrucionista do judaísmo também permitem o casamento gay, assim como a Associação Unitária Universalista e a Sociedade Religiosa dos Amigos (Quakers).
A Igreja Unida de Cristo, que tem cerca de 1,5 milhões de membros, é a única Igreja Protestante principal a sancionar o casamento gay. A porta-voz Barbara Powell disse que a Igreja começou a oferecer os mesmos ritos litúrgicos para casamentos hetero e homossexuais em 2005.
No início deste mês, a Igreja Presbiteriana dos EUA votou contra uma resolução que sancionaria os casamentos do mesmo sexo. A votação de uma proposta semelhante foi cancelada na convenção da Igreja Metodista Unida em maio.
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Bênção para casais homossexuais na Igreja Episcopal gera reações mistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU