Por: Jonas | 04 Mai 2012
De 2001 até agora, o Vaticano atendeu mais de 120 casos de abusos sexuais contra menores, cometidos por clérigos católicos no México. Um número ínfimo se comparado com os milhares de casos registrados para além da fronteira, nos Estados Unidos, neste mesmo período. Para prevenir e combater estes abomináveis atos, a Conferência Episcopal Mexicana (CEM) acaba de aprovar um documento com linhas diretivas: um texto que busca enfrentar de frente o problema da pederastia, mas não somente isto.
A reportagem é de Beltrano Álvarez, publicada no sítio Vatican Insider, 02-05-2012. A tradução é do Cepat.
Fruto do trabalho de uma comissão formada por especialistas em direito canônico, direito civil, psicologia e pedagogia, o texto foi aprovado no dia 18 de abril, durante a mais recente assembleia dos bispos do país. O coordenador da redação e pastor da diocese de Tula, Juan Pedro Juárez Meléndez, trabalhou em meio a um grande hermetismo.
Assim, a Igreja mexicana se prepara para superar os erros cometidos e a discricionariedade na forma de lidar com os abusos contra menores. Irá fazer isto impondo uma “cultura da transparência” que substitua a “cultura do silêncio”, muito difundida no passado, e cujo expoente mais emblemático foi o poderoso sacerdote Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo que, entre outras coisas, por anos se comportou como um pedófilo incorrigível.
Em entrevista ao Vatican Insider, o bispo coadjutor de Papantla, Jorge Carlos Patrón Wong, assegurou que as novas políticas, aprovadas pelo episcopado, são um “passo claro e firme” na renovação da Igreja, pois permitirão uma atenção próxima e amorosa às vítimas, familiares e comunidade ofendida.
“O documento se caracteriza pela ênfase colocada na prevenção de possíveis abusos e na seleção dos candidatos ao sacerdócio. Une os elementos humanos psicológicos, espirituais e vocacionais que a experiência nos seminários mexicanos demonstra como eficazes para formar personalidades sadias, coerentes e alegres nos futuros sacerdotes. E leva em conta todos os aspectos da legislação civil mexicana”, indicou.
Na redação das novas linhas diretivas, o prelado contribuiu com seus conhecimentos como psicólogo, mas também com suas experiências como ex-presidente das Organizações dos Seminários Mexicanos (Osmex) e dos Seminários Latino-Americanos (Oslam). E contribuiu com as recomendações do próprio Vaticano, transmitidas a todas as conferências episcopais do planeta, durante o simpósio “Para a cura e a renovação”, que a Universidade Gregoriana organizou em Roma.
Patrón Wong foi conferencista nesse encontro, cujo principal objetivo foi assessorar os bispos de diversos países, para o processo de redação de suas próprias normas “antipederastia”, e assim cumprirem uma exigência direta da Congregação para a Doutrina da Fé.
No dia 3 de maio de 2011, o prefeito dessa seção da Santa Sé, o cardeal William Joseph Levada, enviou a todos os bispos do mundo uma circular que solicita que cada conferência episcopal redija um documento com “procedimentos claros e coordenados para lidar com os casos de abuso”. E estabeleceu uma data de entrega: os últimos dias de maio de 2012.
Segundo previu o coadjutor de Papantla, nas próximas semanas o episcopado mexicano enviará a Roma suas linhas diretivas para uma aprovação final, condição necessária antes de torná-las conhecidas publicamente, em sua totalidade.
Embora seu conteúdo ainda permaneça reservado, Patrón antecipou que as respostas para este flagelo, integradas no texto, “estão baseadas na verdade e no amor”, que permitirá estabelecer uma cultura de prevenção que garanta ambientes sadios e seguros para as novas gerações.
Patrón revelou que cada bispo contará, em sua diocese, tanto com sacerdotes como com leigos especialistas responsáveis pela atenção e cura de pessoas envolvidas. Além disso, serão feitos cursos de formação permanente, em nível nacional e regional, para todos os agentes católicos dedicados à evangelização e educação. “São linhas diretivas, com todo o rigor científico e legislativo, que nos permitirão uma resposta global, transparente e justa. Assegura-se, assim, o bem das crianças, a confiança das famílias e a santidade do sacerdote. Trata-se de uma nova cultura de prevenção, e educação permanente, para assegurar que os ambientes, onde vivem e convivem as crianças e adolescentes, sejam adequados para seu desenvolvimento integral no humano e espiritual”, apontou.
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No México, bispos aprovam normas “antipederastia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU