27 Outubro 2011
Na ausência de mudanças radicais, o movimento experimentou um notável declínio no número de seus membros desde a descoberta do escândalo, em 2009.
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 25-10-2011. A tradução é do Cepat.
Quando o papa Bento XVI assumiu, no ano passado, o controle da desacreditada ordem religiosa dos Legionários de Cristo, criou-se a impressão de que rolariam cabeças em consequência de um dos maiores escândalos da Igreja católica no século XX.
Um ano depois, no entanto, nenhum dos superiores dos Legionários foi responsabilizado por facilitar os crimes do já falecido fundador, o mexicano Marcial Maciel, um viciado em drogas que abusou sexualmente de vários seminaristas, teve três filhos e criou um movimento similar a uma seita dentro da Igreja, que prejudicou alguns de seus membros espiritual e emocionalmente.
Uma apuração da The Associated Press mostra que os membros desiludidos estão abandonando o movimento em grande número, por terem perdido as esperanças de que o Vaticano promova as mudanças necessárias.
A implosão da ordem, outrora uma das mais influentes na Igreja, tem implicações de peso para o catolicismo, que está perdendo adeptos em alguns lugares devido ao fato de que a hierarquia eclesiástica encobriu abusos sexuais cometidos por sacerdotes.
Em uma entrevista exclusiva, o homem escolhido por Bento XVI para reformar os Legionários de Cristo insistiu em que o pontífice recomendou a ele que apenas guie a ordem e ajudasse a redigir novamente suas normas e não "decapitar" sua cúpula nem vingar as irregularidades.
O cardeal Velasio De Paolis descartou toda nova investigação dos crimes de Maciel, que, como favorito do Papa João Paulo II, era considerado como um santo em vida, apesar das denúncias – mais tarde confirmadas – de que era pederasta.
"Não sei para que serviria" continuar investigando um encobrimento, disse o cardeal italiano. "Correríamos o risco de submergir em uma intriga sem fim. Porque estas são coisas muito privadas para que eu as investigue", assegurou.
A Santa Sé estava a par das acusações de pederastia, mas durante anos fez ouvidos moucos às suas vítimas – assim como também às queixas sobre suas características de seita – devido ao fato de que trazia homens e dinheiro ao sacerdócio.
O próprio legado de João Paulo II se viu enlamaçado por sua estreita associação com Maciel; o legado de Bento XVI, já esfumado pelo escândalo de abusos sexuais, poderia depender em parte do modo como tratasse os despropósitos de Maciel.
Os críticos, entre eles alguns dignitários do Vaticano, acreditam que De Paolis tem a obrigação de descobrir a verdade e tomar uma ação mais radical, dado que o próprio Vaticano descobriu que Maciel criou uma ordem tergiversada e abusiva para favorecer sua dupla vida.
O Vaticano também decidiu que, para que os Legionários sobrevivam, devem "purificar-se" da influência de Maciel, que morreu em 2008, posto que sua própria estrutura e cultura se viram contaminadas por sua obsessão com a obediência e o segredo.
Aos membros era proibido criticar os seus superiores, eram isolados de suas famílias e diziam a eles como fazer até as coisas mais mínimas, desde rezar até comer.
Na ausência de mudanças radicais, o movimento experimentou uma notável queda no número de seus membros desde a descoberta do escândalo, em 2009.
Cerca de 70 dos 890 sacerdotes dos Legionários e mais de um terço das 900 mulheres consagradas saíram ou se afastaram temporariamente para ponderar seu futuro.
Os seminaristas fugiram em massa: 232 somente no ano passado, uma deserção fora do comum de 16% para um único ano. Acredita-se que os novos recrutas serão menos de 100 este ano, a metade da média anterior ao escândalo.
A The Associated Press recopilou os números com base em entrevistas com mais de 10 membros e ex-integrantes.
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Deserções em massa nas fileiras dos Legionários de Cristo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU