21 Abril 2012
A vida e o pontificado de Bento XVI podem ser definidos com dois adjetivos, que os caracterizam como um caminho inseparavelmente dramático e luminoso.
A opinião é do teólogo italiano Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, na Itália. O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 19-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Os dias 16 e 19 de abril são duas datas importantes na vida de Joseph Ratzinger, Bento XVI. A primeira é a do seu nascimento, em Marktl am Inn, na Baviera, há 85 anos. A segunda é a data da sua eleição ao pontificado em 2005. Ambas as ocorrências despertaram uma onda de atenção, de votos por parte dos grandes da Terra, de inúmeras mensagens de afeto, de sinais de ternura e de confiança dos pequenos e dos humildes de todas as partes do mundo.
As duas datas são também uma ocasião de reflexão e de balanço do impacto desse pontificado, que já marcou a história. É o filão que eu gostaria de seguir, perguntando-se quais características fundamentais a obra fundamental desse papa apresenta e o que, sobretudo, ela vai dizendo à Igreja e ao mundo. Não hesitarei em definir a vida e o pontificado de Bento XVI com dois adjetivos, que os caracterizam como um caminho inseparavelmente dramático e luminoso.
O aspecto dramático da existência de Joseph Ratzinger e da sua ação como Sucessor de Pedro só fica evidente se pensarmos no contexto histórico dos seus dias: nascido nos tempos da República de Weimar, o atual papa viveu muito cedo os anos agitados da ditadura nacional-socialista e da guerra. Educado pelos pais firmemente religiosos, aprendeu com naturalidade a desconfiança para com as mentiras do poder, que o levou, como estudante muito jovem, a declarar abertamente aos que com a força do poder queriam alistá-lo nas fileiras do regime que os seus projetos eram totalmente diferentes, porque no seu coração ele se sentia chamado ao ministério do perdão e da caridade do sacerdócio.
A reação violenta que se seguiu a essa declaração não deslocou nem minimamente a firmeza do jovem Ratzinger, tanto que ele foi destinado a papéis secundários e "insignificantes" na defesa antiaérea. Ao drama do totalitarismo, seguiu-se a experiência não menos difícil do pós-guerra, da Alemanha dividida entre os dois blocos, de um Ocidente atravessado pelas contraposições ideológicas e pelo vento da contestação de 1968.
O jovem sacerdote, professor de teologia, não cedeu às modas, e – assim como havia lucidamente rejeitado quando jovem a barbárie ideológica – continuou a se opor às simplificações de leituras inspiradas nos "grandes relatos" das ideologias, matrizes de violência e de instrumentalização da dignidade humano.
Ao lado de João Paulo II, o cardeal Ratzinger foi o amigo, o conselheiro lúcido e discreto, o companheiro de viagem posto ao lado do Moisés que Deus havia escolhido para atravessar a vau entre os dois milênios. Os cenários do "choque de civilizações" do início do novo milênio acentuaram ainda mais o sentido dramático dos processos em andamento, dos quais o Papa Bento XVI mostrou ter uma consciência precisa, pronunciando desde o início o seu "não" decidido a todo uso da violência em nome de Deus, seja por força da razão empregada retamente, seja por força da fé no único Pai e Senhor de todos.
Mas o drama também atravessou a Igreja por dentro: foi a crise da fé sobre o qual este papa se manifestou com singular clareza e determinação. "Quando anunciei que queria instituir um Departamento para a promoção da nova evangelização – afirmava Bento XVI no dia 30 de maio de 2011 –, eu dava uma saída operativa para a reflexão que eu havia conduzido por um longo tempo sobre a necessidade de oferecer uma resposta particular ao momento de crise da vida cristã, que está se verificando em muitos países, sobretudo os de antiga tradição cristã".
Essa não é uma crise superficial que pode tocar uma ou outra estrutura da Igreja, mas sim uma crise que vai à raiz de toda a existência religiosa. Trata-se daquela "perda do sentido do sagrado, que chega a pôr em questão os fundamentos que pareciam ser indiscutíveis, como a fé em um Deus criador e providente, a revelação de Jesus Cristo, único Salvador, e a comum compreensão das experiências fundamentais do homem, como o nascer, o morrer, o viver em uma família, a referência a uma lei moral natural".
Diante dos cenários do drama em andamento, Bento XVI não cedeu à renúncia ou ao pessimismo: ele não hesita em anunciar o grande "sim" de Deus, que ressoa em Jesus Cristo, e a propor razões de vida e de esperança que tornem sensata a vida e belo o compromisso pelo bem de todos. Trata-se de uma mensagem luminosa, que visa a promover e a apoiar um extraordinário esforço de renovação da vida cristã e eclesial: como ele havia afirmado como jovem professor de teologia, a reforma "não consiste em uma quantidade de exercícios e de instituições exteriores, mas sim em pertencer única e inteiramente à fraternidade de Jesus Cristo (...) Renovação é simplificação, não no sentido de um encurtamento ou de uma diminuição, mas sim no sentido de tornar-se simples, de voltar-se àquela verdadeira simplicidade (...) que, no fundo, é um eco da simplicidade do Deus uno. Tornar-se simples nesse sentido – essa é a verdadeira renovação para nós, cristãos, para cada um de nós e para a Igreja inteira" (Il nuovo popolo di Dio, Bréscia 1971, p. 301-303).
A autêntica reforma desejada por este papa é, em suma, a da conversão evangélica, a única capaz de levar a Igreja novamente para a beleza original e de fazê-la resplandecer como sinal elevado entre os povos. Será desse reconhecimento reencontrado do primado de Deus confessado e amado – ao qual o ano da fé convocado para 2012-2013 aponta precisamente – que virá a nova primavera da Igreja e do mundo, dos quais os homens e mulheres têm uma imensa necessidade e urgência.
"O que mais precisamos neste momento da história – disse ele algumas semanas antes de se tornar papa – são homens e mulheres que, através de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus credível neste mundo. O testemunho negativo de cristãos que falavam de Deus e viviam contra ele, obscureceu a imagem de Deus e abriu a porta da incredulidade. Precisamos de homens e mulheres que mantenham seu olhar voltado para Deus, aprendendo a partir daí a verdadeira humanidade. Precisamos de homens e mulheres cujo intelecto seja iluminado pela luz de Deus e aos quais Deus abra o coração, de modo que o seu intelecto possa falar ao intelecto dos outros, e o seu coração possa abrir o coração dos outros. Somente através de homens e mulheres que sejam tocados por Deus, Deus pode retornar para junto dos homens" (Subiaco, 1º de abril de 2005).
Esse é, em primeira pessoa, este papa: e o reconhecimento do cada vez mais amplo que lhe é tributado diz que a força da verdade, por ele amada e servida, se irradia por si só, através da humildade do gesto e da simplicidade da vida, da força dos argumentos e da escuta do outro, do testemunho corajoso e da esperança vivida.
Que tudo isso alcance e ilumine muitas mentes e muitos corações é o desejo mais verdadeiro, certamente o mais agradável, que podemos fazer ao papa de 85 anos, jovem de apenas sete anos de pontificado...
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Bento XVI: um caminho dramático e luminoso. Artigo de Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU