Por: André | 23 Agosto 2012
O sacerdote Alejandro Solalinde (na foto) admitiu que deixará em novembro próximo a Comissão Diocesana da Mobilidade da Pastoral Humana da Diocese da Cidade do México, pontualizando que há seis meses deixou o seu cargo como presidente da Coordenação do Migrante “Irmãos do Caminho”, que se localiza em Ciudad Ixtepec, argumentando questões de regulamento e norma.
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 21-08-2012. A tradução é do Cepat.
Embora o clérigo tenha lançado uma severa crítica à hierarquia católica, apelando-a para que deixe de lado a postura “fria e rígida” e assuma uma atitude mais missionária a favor das causas mais sensíveis da sociedade.
Disse que depois do mês de novembro assumirá uma pastoral itinerante para continuar protegendo a dignidade e os direitos humanos dos migrantes.
“Há seis meses deixei os trabalhos no albergue ‘Irmãos do Caminho’. Tenho uma equipe coordenadora excelente que soube integrar e fazer o meu trabalho, é formada por um corpo eclesiástico onde há religiosas e uma equipe administrativa eficiente e muito capaz. Tive que fazer isso porque sei que algum dia teria que faltar por uma ou outra razão, e não quero que este albergue feche devido à minha ausência”, precisou.
Disse que o albergue, situado na zona do Istmo de Tehuantepec, “não é propriedade de ninguém, que ninguém se creia com direitos de antiguidade; ele pertence exclusivamente aos migrantes que acodem ao mesmo em busca de abrigo e alimento. Nós, eu pessoalmente, sou meramente um servidor a mais”, esclareceu.
Entretanto, apontou que continuará a sua missão evangélica na região protegendo os direitos dos mais necessitados, inclusive fora de seu território, em outras entidades do país.
Quanto à presidência da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, afirmou que por razões de normas e regulamento será preciso fazer a mudança em novembro próximo, afirmando que será substituído pela advogada leiga Nancy García García, que atualmente é diretora da Casa do Migrante na cidade de Oaxaca (COMI).
Solalinde participou de uma nova reunião de trabalho para avaliar os alcances das medidas cautelares ditadas pela Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), depois das ameaças de morte que sofreu da parte de supostos membros do crime organizado e até de políticos.
Reconheceu que há avanços mínimos, embora haja o compromisso por parte das Procuradorias de Justiça tanto estaduais como federal para assinar o interrogatório elaborado para que dentro de três semanas se tenham expedido as ordens de apreensão dos responsáveis pelas intimidações contra a sua pessoa.
O sacerdote admitiu que foi internado há uma semana em um hospital do município de Juchitán de Zaragoza após uma dengue hemorrágica, argumentando que após ter recebido alta voltou a sofrer uma recaída que o obrigou a ser levado à cidade de Oaxaca, onde se submeteu novamente a diversas análises clínicas na sede do Hospital de Especialidades, onde continua sob observação médica.
“Estou morando em uma casa na cidade de Oaxaca intermediada pelo próprio governo de Gabino Cué, muito segura, onde fiz meus “check-up” médicos; me dão mais seis meses para que o fígado e o pâncreas voltem ao normal”.
O padre Alejandro Solalinde criticou a Igreja católica que trabalha com uma estrutura muito “fria e rígida” que impede seus representantes de se abrirem para novas formas de cultivar a ação missionária para humanizar-se.
“Creio que tem que haver um esforço de abertura, de flexibilidade, para que a Igreja se transforme e se humanize. Não dizem que não aceito as ordens por fazer coisas diferentes para atrair mais fiéis”.
Disse que a Igreja está em crise ao perder, na última década, mais de 45 milhões de fiéis e necessita de mudanças, precisando que a hierarquia católica tem a obrigação de cuidar da estrutura e do carisma de seus sacerdotes, mas tem medo de fazer as grandes mudanças que se requerem e por isso fazem as transferências.
“A Igreja tem medo de dar um salto no vazio e digo isso porque temem a liberdade e a sacerdotes como eu, que representam uma pedrinha no sapato; não gostam disso, sentem-se ofendidos e incomodados”.
Assegurou que dentro da Igreja é filho do Concílio Vaticano II e tudo o que fez é no sentido de que se privilegie a palavra e o evangelho de Deus, além do magistério da Igreja.
“Creio que a Igreja deve deixar de lado as posturas de posse e ser mais receptiva em relação às demandas dos setores mais vulneráveis e marginalizados, sem odiar os ricos e poderosos”.
Afirmou inclusive que os chamados irmãos separados estão se tornando mais bíblicos e missionários que a própria Igreja Católica Apostólica Romana.
O padre Alejandro Solalinde admitiu que Ciudad Ixtepec segue sendo um lugar muito cobiçado e apreciado pela criminalidade para lucrar com o tráfico de pessoas, principalmente migrantes que cruzam a região para avançar rumo à fronteira norte.
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Solalinde deixa a comissão de pastoral da Cidade do México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU