24 Setembro 2013
"Um amigo me perguntou se o papa se dá conta dos danos que ele faz com esses comentários extemporâneos. Certamente, usar a palavra 'obsessão' com relação àqueles que sempre trabalharam pela defesa da vida é algo que fere".
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicado no jornal La Stampa, 21-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em mais de 20 anos que o conhecemos, nunca tinha acontecido antes ouvir palavras tão dúbias com relação ao papa por parte de Michael Novak, talvez o mais conhecido filósofo católico norte-americano, muito ligado a João Paulo II e a Bento XVI.
Eis a entrevista.
O que você pensa da entrevista concedida por Francisco à Civiltà Cattolica?
Eu vi dois tipos de reações: a do meu amigo, que eu descrevi; e a de George Weigel, segundo o qual é preciso nos acostumarmos aos comportamentos de um pontífice evangélico, que não se dirige a nós como acadêmico, mas sim como pregador. Weigel tem razão, mas usar palavras como "obsessão" fere os fiéis que até mesmo arriscaram as suas vidas para proteger a vida.
Francisco quer mudar a doutrina ou o tom da Igreja?
O tom. Mas o efeito corre o risco de ser prejudicial.
Por quê?
Ele coloca muitos cristãos na defensiva, justamente quando são atacados. Ao mesmo tempo, incentiva as críticas contra a Igreja, por parte dos seus adversários declarados, que não esperavam outra coisa.
A que você se refere?
As suas palavras o expõem à instrumentalização por parte daqueles que querem atacar a Igreja. Basta olhar como o New York Times as usou.
Existe o risco de que uma parte dos fiéis norte-americanos deixe a Igreja?
Eu não acredito. Talvez os mais frágeis extremistas, mas será um fenômeno muito limitado. A esquerda, no entanto, vai se sentir encorajada a pressionar por mudanças da doutrina.
Não há também a possibilidade inversa, a de que um "papa evangélico" reaproxime os fiéis?
Cristo também trouxe elementos de contradição, talvez não seja possível evitar isso. Talvez seja bom que esse papa, reconduzindo a Igreja às raízes da sua missão, nos leve a refletir.
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''Francisco não se dá conta dos danos que está fazendo''. Entrevista com Michael Novak - Instituto Humanitas Unisinos - IHU