Por: André | 28 Junho 2013
Lucas nos faz caminhar com Jesus na estrada que leva a Jerusalém, onde terão lugar os acontecimentos fundadores da fé cristã. É uma longa caminhada que todos os cristãos de todos os tempos devem fazer para se tornar verdadeiros discípulos de Cristo. É uma caminhada difícil e se Lucas nos coloca nela é para nos fazer tomar consciência da urgência da missão cristã que é a nossa ainda hoje. E como esta missão comporta suas exigências, temos que conhecê-las antes de nos comprometermos com elas. Mas quais são essas exigências?
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette (Quebec), Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 13º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico. A tradução é do Cepat.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
Segunda Leitura: Gl 5, 1.13-18
Evangelho: Lc 9, 51-62
Nesse 13º Domingo do Tempo Comum, Lucas nos faz caminhar com Jesus na estrada que leva a Jerusalém, onde terão lugar os acontecimentos fundadores da fé cristã. É uma longa caminhada que todos os cristãos de todos os tempos devem fazer para se tornar verdadeiros discípulos de Cristo. É uma caminhada difícil e se Lucas nos coloca nela é para nos fazer tomar consciência da urgência da missão cristã que é a nossa ainda hoje. E como esta missão comporta suas exigências, temos que conhecê-las antes de nos comprometermos com elas. Mas quais são essas exigências?
1. A liberdade
A fé não se impõe; ela se propõe. Se alguém se recusa a crer, é seu direito mais sagrado, e, como Igreja, não temos o direito de obrigar as pessoas a acreditar naquilo que nós acreditamos e na maneira como nós acreditamos. Não devemos agir como se tivéssemos a verdade sobre Deus e sobre o mundo! Não foi esta a atitude dos discípulos Tiago e João que queriam impor aos samaritanos o Cristo Pascal? “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles?” (Lc 9, 54). Não é também essa a nossa atitude, enquanto Igreja, quando intervimos na sociedade para impor a nossa moral e as nossas convicções?
É possível a Igreja não compartilha certos valores da nossa sociedade secularizada, diversificada e laica; ela pode manifestá-los, certamente, mas deve saber fazê-lo no respeito aos outros. Dom Martin Veillette, ex-presidente da Assembleia dos Bispos católicos de Québec, escreveu sobre o aborto: “Nós sabemos que a nossa convicção não é compartilhada por todos os nossos compatriotas. Devemos, portanto, como sociedade, encontrar uma maneira de viver e de caminhar na escuta e no respeito mútuos”.
Em sua carta aos Gálatas, que é a segunda leitura de hoje, São Paulo nos diz ainda que Cristo nos libertou e se ele o fez, foi para que nós fossemos verdadeiramente livres (Gl 5, 1a). Nós não podemos impor nada aos outros; temos de nos libertar das amarras da nossa antiga escravidão (Gl 5, 1b). E quais são essas amarras? A circuncisão (Gl 5, 2), a lei (Gl 5, 4) e o egoísmo, que nos impedem de amar uns aos outros (Gl 5, 13). São Paulo acrescenta, e é a parte da leitura de hoje, que a única lei que conta é a lei do amor: "Amar o próximo como a si mesmo" (Gl 5, 14). E explicita: “Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente” (Gl 5, 15). E para viver verdadeiramente a liberdade que vem de Cristo, como mulheres e homens livres devemos nos deixar conduzir pelo Espírito de Cristo: “Mas, se forem conduzidos pelo Espírito, vocês não estarão mais submetidos à Lei” (Gl 5, 18).
2. A despossessão
É fácil dizer que queremos seguir Cristo e tornar-nos seus discípulos. Mas, tornar-se discípulo de Cristo significa preferi-lo a tudo: “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26). E no evangelho de hoje, o Cristo de Lucas diz a quem quer segui-lo: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9, 58). Isso não quer dizer que não podemos possuir nada, mas que devemos ser livres em relação às nossas posses, de sorte que possamos livremente partilhá-las com os outros.
3. A urgência da missão
Ao ler o versículo assim como nos é apresentado – “Jesus disse a outro: ‘Siga-me’. Esse respondeu: ‘Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai’” (Lc 9, 59) –, podemos ter a impressão de que se trata aqui de um prazo muito curto, o tempo de participar do funeral do pai que acabou de morrer. Caso fosse isso, a resposta de Jesus seria muito drástica: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” (Lc 5, 60). Portanto, precisamos aqui compreender que o homem pede antes a Jesus: que ele lhe dê tempo para viver com seu pai até sua morte! Mas o tempo da missão urge, e é agora que é preciso se comprometer. Comprometer-se a seguir Jesus é deixar o mundo dos mortos e entrar na vida agora. Se não nos preocuparmos com a vida futura, já estamos do lado da morte, e isso é contrário à fé cristã e à missão que nos foi confiada.
4. Olhar para frente
Seguir Cristo, responder ao seu chamado, não é viver na nostalgia do passado: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha família” (Lc 9, 61), é olhar para frente, é construir o futuro: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus” (Lc 9, 62). Na Igreja, quando nos apoiamos exclusivamente na tradição, no passado, sobre aqueles e aquelas que nos precederam, recusamo-nos a tomar novos caminhos, explorar novos desafios e arriscar o futuro; de que sorte que se torna impossível construir o Reino, demasiado ocupados que estamos em salvaguardar um passado que desapareceu, maneiras de fazer e maneiras de viver que não correspondem mais às realidades das mulheres e dos homens do nosso tempo. Queremos pôr a mão no arado, mas puxar para trás, em vez de seguir para frente.
O exegeta francês Jean-Paul Berlocher escreve: “Em síntese, pegar firme no arado e olhar reto para frente, para o sulco a ser feito, este é o ideal daquele que segue seu Senhor. Cada dia o cristão é convidado a relativizar suas seguranças, a hierarquizar seus deveres e seus afetos em vista de um melhor serviço do Reino de Deus”. Basicamente, é o futuro que devemos preparar. Se Cristo está vivo, ele o é, atualmente, nas mulheres e homens de hoje. Não podemos mudar o passado; só podemos construir o futuro a partir do que somos hoje. E como o futuro resta a ser feito, na estrada da vida, vamos depressa! Não é hora de recuar! É hora de seguir em frente e depressa! Mas o que apressa tanto?
O teólogo francês Gérard Bessière escreve, e termino com isso: “Eles são lançados para frente. Como se o fogo os perseguisse no caminho empoeirado. Não há forma de parar. Velhas brigas com os samaritanos? Passemos. Chamar um raio sobre eles? Jesus grita contra seus discípulos que não compreenderam nada: violência e vingança não existem mais no mundo novo em direção ao qual eles se apressaram. Devemos soltar as amarras para o desconhecido. Onde dormiremos esta noite? As raposas e os pássaros têm suas tocas e seus ninhos. O Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. Não há mais aldeia, casa, posse: deixamos tudo. Vivemos no futuro. Resta a família? Nem essa. Enterrar o pai, depositar na terra sua última raiz, tornar o dever mais sagrado? Jesus responde: deixa que os mortos enterrem seus mortos. Tu, vai anunciar o Reino. Ir, ao menos, despedir-se da família? Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não serve para o Reino de Deus. Para onde vão com tanta pressa? Para Jerusalém. Para a Sexta-feira Santa”.
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A exigência de ser cristão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU