17 Junho 2013
Multiplicam-se as entrevistas do presidente von Freyberg. E o diretor Cipriani afirma: "é necessário" para a Igreja ter o banco vaticano, sem o qual ela "não seria livre".
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 14-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para a Igreja, a independência financeira não é apenas "essencial", mas "necessária". São as surpreendentes palavras do diretor-geral do Instituto para as Obras de Religião (IOR), Paolo Cipriani, relatadas em uma entrevista ao jornal italiano Il Giornale.
Uma entrevista que se insere em uma verdadeira uma estratégia midiática do IOR, na qual o protagonista em várias frentes é o seu novo presidente, o alemão Ernst von Freyberg, ao qual, depois da brutal demissão de Gotti Tedeschi, o Vaticano escolheu confiando nos serviços da prestigiosa sociedade internacional Spencer Stuart para a seleção de gestores.
Von Freyberg foi nomeado no último minuto, quando Bento XVI já havia anunciado a sua renúncia. A três meses da sua posse, ele começou a conceder – como explica a Rádio do Vaticano – "uma série de entrevistas a representantes qualificados da imprensa internacional", intervindo em jornais e agências, do Financial Times ao Le Figaro, até a Reuters e a Associated Press".
São três as principais mensagens que surgem das entrevistas dadas por von Freyberg. Primeiro, o presidente do IOR, que, quando está em Roma reside em Santa Marta, não falou pessoalmente com o novo papa sobre o Instituto. Segundo, o verdadeiro principal problema do banco vaticano não é a sua recente gestão, as operações que acabaram na mira do Judiciário ou as suas contas suspeitas. Trata-se, ao invés, de uma questão de "imagem". Um problema de comunicação.
É por isso que von Freyberg, entre as suas primeiras decisões, decidiu confiar em uma enésima empresa externa, embora a Santa Sé tenha uma Sala de Imprensa, um Pontifício Conselho para as Comunicações, um jornal, uma rádio, um centro de televisão e, há um ano, também um jornalista conselheiro para as comunicações da Secretaria de Estado, o norte-americano Greg Burke. A escolha da sociedade de mídia recaiu sobre a alemã CNC – Communications & Network Consulting.
Nas entrevistas, von Freyberg revela que no último ano foram encerradas milhares de contas do IOR e que prossegue o trabalho de revisão das mesmas contas, razão pela qual o novo presidente decidiu confiar no gigante norte-americano Promontory, que também trabalhou para a Casa Branca.
Outra mensagem importante que von Freyberg lança com as entrevistas é a sua perfeita colaboração e total sintonia com a atual gestão do Banco do Vaticano, isto é, com a atual direção geral. Nem todos do outro lado do Tibre consideram tão positivos esses sinais, aos quais se somam as palavras de Cipriani sobre a "essencialidade" do IOR à missão da Igreja e sobre o dever desta de possuir o "banco".
Vale a pena lembrar que antes e também depois do conclave houve purpurados influentes que afirmaram o contrário. O coordenador do grupo de oito cardeais que o Papa Francisco nomeou há dois meses para ajudá-lo no governo da Igreja universal e na reforma da Cúria, o hondurenho Oscar Rodríguez Maradiaga, disse publicamente que o IOR será modificado.
E enquanto seguem os rumores sobre iminentes procedimentos judiciários por parte da magistratura italiana que poderiam afetar gestores do Instituto no âmbito das conhecidas investigações já abertas, não podem passar em silêncio as repetidas referências a esses temas que o próprio pontífice fez nas suas homilias.
A impressão geral é que esse frenesi midiático, além das mensagens que se pretendem lançar tanto à opinião pública, quanto dentro dos muros vaticanos (a entrevista de Cipriani sobre a "essencialidade" do IOR para a Igreja parece pertencer a essa segunda categoria), não dá uma representação exaustiva dos processos em curso do outro lado do Tibre.
Nos últimos dias, o jornal italiano Il Fatto Quotidiano revelou o montante do salário do diretor da AIF (Autoridade de Informação Financeira), René Bruelhart, chamado em novembro passado pela Secretaria de Estado para resolver os problemas da transparência: 35 mil euros por mês, mais 5 mil de despesas.
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A ''guerra'' midiática do Banco do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU