04 Junho 2013
Uma recomendação dirigida pelo bispo da diocese de Novo Hamburgo vem provocando polêmica nas paróquias da região do Vale do Sinos. Dom Zeno Hastenteufel determinou que as igrejas sob sua jurisdição não devem vender bebida alcoólica nas festas religiosas que promovem.
A reportagem é de João Novoa e publicada pelo jornal Zero Hora, 04-06-2013.
A decisão, baseada nas estatísticas crescentes de mortes no trânsito por embriaguez e uma lembrança da aparição de Nossa Senhora, em Caravaggio, Itália, no ano de 1432 – segundo a Igreja, uma mulher que era constantemente espancada pelo marido alcoólatra teria visto a santa –, desagradou muitos padres.
O prejuízo financeiro e a decisão sem consultar as paróquias foi criticada por membros do clero do Vale do Sinos, do Paranhana e do Caí, regiões em que a diocese atua.
"Já vendemos 260 caixas de cerveja há dois anos em uma festa do nosso padroeiro, São José. Só com esse dinheiro, conseguimos melhorar a infraestrutura de nossa igreja, além de contribuir com obras sociais", afirma o padre Círio João Schommer, do bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo.
Ele completa reiterando que a decisão do bispo é arbitrária.
"É uma tradição da nossa região. Que alternativa eles propuseram a nós? Nenhuma. Tenho medo que os fieis não compareçam mais às festas", reclama o padre.
Em Taquara, a reação foi semelhante. Receoso com o impacto financeiro na sua paróquia, o padre Francisco Buttenbender enxerga o veto como uma atitude “desproporcional” do bispo.
"A venda de cerveja nos ajuda muito na questão de angariar recursos. Se as pessoas compreendessem o que é uma paróquia, não precisaríamos fazer festa para levantar dinheiro. Bastaria cada um doar um real que fosse. Hoje, não há uma comunidade na cidade que não venda cervejas para se manter", explica.
Segundo o bispo Zeno Hastenteufel, a sua recomendação servirá para justamente trazer mais fiéis às paróquias, “mais crianças, pais, a família no geral”.
Dioceses têm autonomia para decidir sua atuação
Dom Jaime Splenger, bispo auxiliar de Porto Alegre, defende a posição do colega de Novo Hamburgo. Conforme Splenger, fechar os olhos para as notícias de abuso de álcool ao trânsito e em casa, com casos de violência doméstica, é uma afronta aos bons costumes.
Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cada diocese tem autonomia para decidir sobre a sua legião de fiéis. A entidade máxima da igreja católica no país afirma que há entre duas a três festas religiosas em cada paróquia e lembra que na grande maioria a cultura do consumo de álcool ainda é comum entre os devotos.
Segundo estudo de 2010 do Centro de Estatística Religiosa e Investigações, atualmente há 10.720 paróquias no Brasil, sendo 4.360 na região sul do país.
“Já temos estatísticas negativas”
Autor do pedido, o bispo quer reduzir acidentes relacionados ao consumo de álcool.
Eis a entrevista.
Por que o veto?
Temos que superar essas festas com bebidas alcoólicas. Muitos fieis vão a essas festas, como a de Nossa Senhora do Caravaggio, e voltam dirigindo embriagados. Não queremos isso. Já temos estatísticas negativas suficientes.
Há alguma simbologia?
Em 1432, em Caravaggio, na Itália, Nossa Senhora apareceu para uma mulher que era constantemente agredida pelo marido bêbado. Pensei na questão da violência doméstica também.
Pode reduzir o público?
Com certeza não. A venda de refrigerantes cresce. As famílias voltam.
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Bispo barra álcool em festas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU