18 Mai 2013
"O que é o ser, o que é a essência da alma e qual seu lugar no mundo visível e invisível? Qual sua relação com o corpo? Somos imortais? E como é essa imortalidade? Tomás de Aquino responde com esse elenco de temas algumas das questões de sua época, as inquietações do dia e da noite e do cotidiano. Será que essas questões mudaram tanto de lá pra cá?", escreve Luiz Felipe Pondé, professor da PUC-SP, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 04-05-2013.
Eis o artigo.
O mundo medieval é distante do nosso. Aquele banhado pelas sombras, este pelas luzes dos iPhones. Mesmo a espiritualidade se faz prestadora de serviço e Jesus, um consultor de sucesso.
A metafísica, antes uma elegante ciência do intelecto, torna-se, a cada dia, mero imaginário a serviço de nossas pequenas neuroses instantâneas: hoje sou budista, amanhã seguidor de algum neocacique aborígene.
Pensamos na Idade Média como um esgoto grande cheio de peste, mulheres queimadas, anjos e demônios.
Mas não, a Idade Média foi uma época de grande atividade intelectual, com grande diversidade de interesses e concepções, ao contrário da nossa época, uma hora obcecada pelo cérebro, outra pelos genes, outra ainda pelo "social".
Uma das formas de conhecer a Idade Média, ultrapassando o "nosso senso comum de esgoto" sobre ela, é conhecer sua filosofia e o santo italiano Tomás de Aquino (1225-1274), que foi um dos seus maiores expoentes.
O Aquinate, como ficou conhecido seu conjunto de ideias, buscou pôr em diálogo a tradição bíblica e a filosofia grega, elaborando um sofisticado sistema filosófico de difícil redução a algum conjunto limitado de manias. Essas duas tradições são "costuradas" de modo sutil ao longo de sua obra.
Um belo exemplo desse percurso é "Questões Disputadas Sobre a Alma", que a editora É Realizações nos traz agora, numa elegante edição bilíngue latim-português, com excelente prefácio de Carlos Augusto Casanova Guerra, doutor pela Universidade de Navarra.
GRANDES TEMAS
A edição é um presente não só para o grande público erudito, interessado em conhecer mais a "mente medieval", mas também, e principalmente, para o público especializado, que agora dispõe de uma peça com tradução em português para seus estudos acadêmicos.
Tomás de Aquino arrola várias fontes na obra - Bíblia, Platão, Aristóteles, patrística, neoplatonismo -, todas organizadas de modo escolástico, ou seja, buscando clareza no encadeamento dos argumentos e conclusões.
O repertório erudito de sua época está todo ali, a serviço do esclarecimento de 21 questões sobre a alma que podem ser resumidas em alguns grandes temas.
Por exemplo, o que é o ser, o que é a essência da alma e qual seu lugar no mundo visível e invisível? Qual sua relação com o corpo? Somos imortais? E como é essa imortalidade?
O filósofo responde com esse elenco de temas algumas das questões de sua época, as inquietações do dia e da noite e do cotidiano. Será que essas questões mudaram tanto de lá pra cá?
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Obra de Tomás de Aquino ilumina Idade Média - Instituto Humanitas Unisinos - IHU