11 Março 2013
A entrada em cena e a expansão dos movimentos eclesiais nos anos 1970 foi saudada no pontificado wojtyliano como uma ajuda providencial na batalha pela demandada "reevangelização" da sociedade. A Igreja se sentia cercada e na defensiva com relação à secularização, à influente cultura marxista e ao forte impulso laico, que se manifestava justamente na Itália, desde sempre considerada domínio indiscutível da ideologia católica.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 11-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Joseph Ratzinger, então cardeal, era um dos mais fervorosos defensores do "movimentismo" eclesial, julgando-o como uma feliz reação à onda do 1968 que tanto o havia assustado.
Em 1998, já prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ele fez um discurso apaixonado no encontro mundial dos novos movimentos, elogiando-os como "evento maravilhoso" que ocorreu em uma Igreja do pós-Concílio que, depois de tantas discussões, parecia "exausta e achatada". Ratzinger falou da sua felicidade em assistir ao estímulo e "ao entusiasmo com que eles viviam a fé". Indicou as "sempre novas irrupções do Espírito Santo, que tornam cada vez mais viva e mais nova a estrutura da Igreja".
Movimentos igual a Nova Primavera da Igreja, esse foi o slogan que se espalhou rapidamente. Foi assim que – com exceção de momentos de atrito com os episcopados, causados pela tendência à autonomia dos movimentos e do clero que se remetia aos ideais de cada grupo – substancialmente abriu-se caminho para novas experiências e novas formas comunitárias. Cada uma das quais – sob a égide da doutrina católica – tinha (e tem) a sua visão religiosa do mundo.
E então a luz verde para o Opus Dei, os Focolarinos, o Comunhão e Libertação, a Renovação no Espírito, os Neocatecumenais, os Legionários de Cristo, a Comunidade de Santo Egídio. Para citar apenas algumas das siglas mais conhecidas – obviamente, muito diferentes entre si em termos de conteúdos, cultura e modalidades de ação – e sabendo que, em nível internacional, a lista é muito mais longa e que, dentro dos países individuais, há uma pluralidade de microexperiências extremamente intensas.
Não faltam cartas favoráveis. Um salto de qualidade da participação na experiência de fé, não mais baseada na estrutura geográfica da paróquia (muitas vezes percebida como burocrática), mas em uma escolha de vida orientada pelo carisma do fundador e pela organização, e intensificada pela convivência com pessoas que pensam e sentem da mesma forma.
Os pontos fracos: a inserção em uma estrutura, muitas vezes convencida de representar a versão "mais justa" do cristianismo na era contemporânea, com deslizes no integralismo particularmente evidentes no Comunhão e Libertação (por exemplo) ou com um impulso exasperado à autonomia com relação aos bispos como o do Opus Dei, que, com João Paulo II, conseguiria se tornar uma "prelazia pessoal" (ou seja, uma espécie de superdiocese particular). À parte algumas misturas políticas ou financeiras que foram realizadas em alguns países. Além de casos evidentes de esquizofrenia como a situação dos Legionários de Cristo, orientados para um obsessivo rigor tradicionalista e guiados por um fundador de vida dupla e abusador de menores de idade (incluindo filhos) como Marcial Maciel, sobre o qual, durante décadas, as autoridades vaticanas se recusaram a investigar, apesar das denúncias das vítimas.
Reduzir essa variedade a um único denominador comum é impossível. Há um elemento, no entanto, para se refletir. Embora as organizações eclesiais leigas que surgiram no início do século XX (ou fim do do século XIX), como por exemplo a Ação Católica, se depararam desde o início com a questão da democracia interna – influenciadas nisso pela democratização da sociedade civil –, muitas experiências comunitárias florescidas no fim do século XX são marcadas por uma ideologia "liderista", mais ou menos carismática ou soft, mas que exclui a prática transparente dos congressos internos, das eleições públicas dos dirigentes, da possibilidade de comparar plataformas diferentes. É isso que distingue, por exemplo, uma comunidade como a Santo Egídio de uma organização clássica como as ACLI [Associações Cristãs de Trabalhadores Cristãos, na sigla em italiano].
O efeito a longo prazo é de diminuir, dentro da Igreja, a taxa de debate livre, de expressão e crítica, e do hábito a chamar dirigentes e hierarquias a prestar contas das suas escolhas e decisões. O resultado é formar gerações de fiéis para os quais é normal seguir um líder ou líderes, que sempre têm razão. Como está mostrando a evolução da cena política italiana das últimas décadas, esse, porém, é um problema não só das comunidades religiosas, mas também de uma série de formações partidárias presentes na Itália.
Voltando a falar sobre o tema em 2010, durante a sua viagem a Portugal, Bento XVI reiterou que os novos movimentos são um sintoma de uma "nova primavera", mas sublinhou ao mesmo tempo que "eles devem se submeter à liderança dos bispos". Sinal de que o ex-papa, guardião do caráter universal do catolicismo, havia percebido os perigos de uma fragmentação do ser cristão. O risco de uma multiplicação de ligas religiosas, se poderia dizer.
O jogo continua em aberto. Porque, quanto mais as paróquias estão sem párocos e são fundidas burocraticamente, mais as "novas comunidades" – mais compactas – oferecem refúgio aos que o buscam. A menos que, como ocorre na América Latina, muitos católicos deem um salto para os movimentos evangélicos, onde a taxa de fideísmo e de "liderismo" é ainda mais alto, e o maior calor da participação se mistura muitas vezes a pulsões fortemente irracionais.
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Novas comunidades: uma ''ajuda providencial'' para o Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU