Por: Jonas | 17 Agosto 2013
O Paraguai vem crescendo em ritmo sustentável há dez anos, mas a pobreza extrema continua nos mesmos níveis (20%) e um punhado de famílias continua sendo os donos da terra. Há pouco mais de um ano, a ocupação de uma fazenda em Curuguaty, por alguns camponeses, terminou com a morte de onze camponeses e seis policiais. Também com a presidência de Fernando Lugo, destituído mediante um julgamento político expresso, incentivado por liberais e colorados, que o responsabilizaram pela matança na propriedade. Um abrupto final para um governo que colocou a ênfase na política social dirigida aos setores mais vulneráveis.
A reportagem é de Mercedes López San Miguel, publicada no jornal Página/12, 16-08-2013. A tradução é do Cepat.
“Declaro guerra à pobreza”, promete o empresário e novo presidente colorado Horacio Cartes. Pobreza que alcança 49% de uma população de 6,2 milhões de habitantes, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).
No entanto, o homem a quem Cartes designou para a área econômica, Germán Rojas, antecipou que estarão sem caixa. “Não espere um país rico, mas com pouco dinheiro”. Em sintonia com o discurso de Cartes, Rojas destacou ao jornal Página/12 que um dos principais desafios de sua gestão será reduzir a pobreza extrema. Como? “Fundamentalmente, gerando emprego. Necessitamos atrair investimentos estrangeiros para criar empregos no âmbito privado e também desenvolver obras de infraestrutura”, respondeu de forma genérica.
A grande maioria dos paraguaios não percebe que seu país conta com uma década de boa saúde. O crescimento do Produto Interno Bruto (4%) não produz efeito na extrema pobreza, assim como também não contribui para uma melhor distribuição de renda. O economista Fernando Masi, que foi assessor do governo de Lugo, destacou para este jornal alguns problemas no modelo paraguaio. “O próprio modelo se baseia em dois pilares: a agricultura empresarial – produção de commodities – e o comércio de reexportação ou triangulação, ou seja, a compra de bens de consumo suntuário do sudeste asiático, de forma legal e a preços muito baixos, e sua revenda ao Mercosul, principalmente para o Brasil”.
O especialista explicou por que os dois pilares tem pouco efeito sobre a economia. “A agricultura empresarial (soja e outros grãos e pecuária) quase não emprega mão de obra e ao ser extensivo em terra, expulsa mão de obra do setor rural, que ainda constitui o 40% da população total do país. Esta expulsão provocou uma rápida urbanização, mas com emprego muito precário em razão do ainda escasso nível de industrialização do país para absorver mão de obra e qualificá-la. Por sua vez, o comércio de triangulação se concentra apenas nas áreas fronteiriças, cria emprego de má qualidade e produz concentração de renda que não volta a ser investida no país”.
Para Germán Rojas, a evasão e a baixa carga tributária contribuem para o desajuste econômico. Por isso, o novo governo procurará reverter este assunto. “No Congresso se discute, atualmente, uma lei de generalização do IVA; é preciso incorporar setores e ampliar a base de contribuição. O setor agropecuário é o que menos contribui, devemos incorporá-lo e melhorar o sistema de arrecadação”. Em relação aos sonegadores, advertiu que serão penalizados.
Nos quatro anos que Lugo governou, até ser destituído em junho de 2012, foram aplicadas políticas em favor dos setores mais necessitados, como o Programa de Transferências de Rendas Condicionadas – uma assistência às mães, caso apresentem a carteira de vacinação e a inscrição de seu filho na escola – e o programa Tekoporá (viver bem), que procura garantir alimentos, saúde e educação à população pobre da cidade e das áreas rurais. A política social foi um baluarte do governo da Aliança Patriótica para a Mudança, e alguns especialistas destacam que Cartes não tem delineado colocar em marcha programas para lutar contra a desigualdade e que, pelo contrário, privilegiará a lógica do mercado. Haverá cortes nos programas sociais? Rojas disse que, primeiramente, irão dar a eles uma “melhor coordenação” e que serão centrados no combate à pobreza extrema.
A concentração da terra no Paraguai é histórica e é um dos fatores que explicam a distância entre ricos e pobres, assim como a falta de oportunidades no setor rural, onde é registrada a maior quantidade de pobres extremos no país. Lamentavelmente, Lugo não pôde avançar com uma reforma agrária. Cartes deveria prestar atenção neste sério problema, porque não basta crescer.
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Paraguai. Cresce, mas não reparte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU