07 Agosto 2013
6 de agosto de 1978, festa litúrgica da Transfiguração de Cristo, há 35 anos... É o dia da morte, de alguma maneira imprevista – caso contrário, não teria acontecido em Castel Gandolfo – de Paulo VI. A surpresa foi grande.
A reportagem é de Gianni Gennari, publicada no sítio Vatican Insider, 06-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Naquele dia, eu estava no Passo della Mendola, consultor como teólogo para um curso anual do SAE, Secretariado de Ação Ecumênica, e, no momento do anúncio, estava na frente da TV com um amigo padre, sábio e culto, rico em sabedoria e de humanidade feliz, grande fé e, ao mesmo tempo, grande abertura à modernidade combinada com a tradição, professor de teologia ecumênica na Faculdade Teológica de Veneza, padre Germano Pattaro.
Nos anos anteriores, em torno de 1975, tínhamos participado juntos também das atividades da ATI, Associação Teológica Italiana, criada por iniciativa de colegas ilustres como o Mons. Luigi Sartori, e naqueles anos sede de dialética viva entre aqueles que queriam ler o Concílio só como fonte "secundária" de aggiornamento pastoral e outros que o pensavam como uma proposta de autêntica "reforma" eclesiástica, embora na identidade da fé de sempre.
Haviam sido anos, e congressos da ATI, em viva dialética, até mesmo pública, com alguns nostálgicos do passado, particularmente provenientes de Gênova, entre os quais o padre Gianni Baget Bozzo, sempre acompanhado por um belo grupo de seguidores que, remetendo-se todos ao arcebispo de Gênova, o grande cardeal Giuseppe Siri, insistiam na continuidade e desconfiavam de toda leitura do Concílio que chamavam de "progressista" e perigosamente aberta a novidades, também políticas, para a Itália daqueles anos inquietos, quando o Partido Comunista Italiano de Enrico Berlinguer tinha quase alcançado a porcentagem de votos da Democracia Cristã de Fanfani e sucessores.
Aquele 1978 já tinha sido um ano crucial. Em março, houve o sequestro de Aldo Moro, seguido do seu assassinato: estava-se no auge dos "anos de chumbo". Uma certa visão tradicionalista ligava as "novidades" do Concílio até com os perigos do terrorismo de esquerda e com o crescimento, entre os italianos, do Partido Comunista Italiano, principal antagonista da Democracia Cristã. Dentre outras coisas, dois meses antes, o Parlamento italiano aprovara a Lei 194 sobre o aborto, que também gerava discussões dentro do mundo católico...
Portanto, naquele 6 de agosto, estávamos na Mendola, envolvidos na Semana de Atualização do SAE, Secretariado de Ação Ecumênica, fundado 20 anos antes pela professora Maria Vingiani, veneziana, inspirada também pelo encorajamento do Papa João XXIII, através do seu fidelíssimo secretário, Dom Loris Capovilla... No SAE, o padre Germano Pattaro, também veneziano, era de casa desde as origens.
Sabia-se que Paulo VI tinha problemas de saúde, mas ninguém tinha previsto uma morte tão imprevista, que atingiu a todos de surpresa. Era óbvio que, imediatamente, entre nós, se pensasse também no futuro, do Concílio deixado como herança e, portanto, também da sucessão. Discutindo amigavelmente sobre isso, a mim, que o havia conhecido muito bem, e de muito perto, nos anos 1965-1970, e a ele, que era padre veneziano e, portanto, o tinha a seu lado há anos, veio em mente a hipótese da eleição de Luciani... Imediatamente e, como que em confiança, ele me disse, sincero, que não ficaria feliz com isso e que esperava que isso não acontecesse.
Isso me impressionou muito, porque, para mim, Luciani parecia uma belíssima sucessão, e eu lhe perguntei, um pouco surpreso, o porquê da sua hesitação. E então ele me contou, com o sorriso nos lábios, que em certos momentos a simplicidade e a franqueza do patriarca tinham lhe colocado em apuros, justamente como teólogo e professor de ecumenismo.
O que acontece – disse-me ele – é que Luciani estava curioso para verificar a preparação filosófica e teológica dos estudantes da Faculdade, em particular dos seminaristas, e que, portanto, assistia amigavelmente até aos exames, no seu caso os de teologia ecumênica. Ele se sentava ao lado do professor e escutava em silêncio, mas, às vezes, quando algum estudante expunha teses bastante abertas ao diálogo e ao reconhecimento das riquezas das outras Igrejas, também chamadas de "irmãs", ele parecia surpreso e gentilmente intervinha perguntando ao estudante: "Mas onde você você leu essas coisas?". Diante da resposta do aluno, de que as havia lido nos textos e nas notas de aula do professor Pattaro, ali ao lado, o patriarca, sorrindo, comentava benevolente: " Ah, então tudo bem. Mas, a meu ver, é uma heresia"...
O padre Pattaro também sorria, contando-me o fato, mas era evidente que, enquanto pensava a respeito, pessoalmente, não ficaria feliz com a eleição de Luciani e que, justamente como teólogo ecumenista, temia que o movimento ecumênico e, por isso, nele também, a realização do Concílio sofreriam com isso...
Era o dia 6 de agosto, portanto: há 35 anos exatos. O curso do SAE terminou, e do conclave saiu Albino Luciani, João Paulo I. Com Pattaro, eu não havia me encontrado mais. Antes do conclave, de Roma, eu havia acompanhado a Assis o cardeal Michele Pellegrino, arcebispo de Turim, e, ao ser perguntado sobre uma previsão sobre o sucessor de Paulo VI, ele me dissera tranquilamente: "Se não elegermos um italiano, o papa será Wojtyla". Sabe-se que eles elegeram um italiano: Albino Luciani, mas "Wojtyla" viria em breve...
Eu não havia me encontrado mais com o padre Germano Pattaro e pensei que talvez ele estivesse um pouco desapontado... Pois bem, no fim da primeira semana de setembro, entre os dias 5 e 10, recebi um telefonema do padre Germano, que me disse que, no dia seguinte, viria a Roma e me pediu algumas informações a respeito.
Obviamente, fiquei curioso e lhe perguntei o motivo dessa viagem, e ele me contou que João Paulo I tinha lhe telefonado e lhe havia proposto se transferir para Roma como seu "conselheiro ecumênico". Fiquei atordoado, como talvez ele tivesse ficado antes. E a explicação? Aqui está: no dia 5 de setembro, entre os braços de Luciani, durante uma audiência concedida ao Patriarcado de Moscou, o Metropolita Nikodim, o número dois do Patriarcado, havia falecido.
Entre parênteses: eu o havia conhecido de passagem do ano anterior, em Moscou, em uma circunstância bastante complicada...
Pois bem: aquela sua morte, em um ato de fé extrema, com o nome de Jesus nos lábios, tinha sido para Luciani tão surpreendente, edificante e comovente – disse-me Pattaro – que o papa se sentiu na necessidade de aprofundar os temas do conhecimento e do futuro do ecumenismo na sua nova veste de bispo de Roma: daí a exigência de ter um conselheiro ecumênico experiente... Daí o telefonema a Pattaro em Roma...
Sabe-se que os eventos, depois, foram cruciais. O padre Germano começou a se preparar para a transferência, mas não teve tempo para realizá-la plenamente por causa da repentina morte de Luciani. Ele ficou em Veneza, continuou o seu ministério: como padre próximo das pessoas, dos estudantes, dos jovens e dos pobres, e como teólogo ecumenista, que se sentia obrigado a cultivar as sementes lançadas pelo Concílio no campo da sua Igreja, fiel e livre ao mesmo tempo, respeitoso e capaz de aprofundar até mesmo os temas mais candentes da teologia e da pastoral.
São exemplares os seus escritos teológicos, além daqueles sobre o ecumenismo, também sobre a teologia do matrimônio cristão... Muito amado por jovens e idosos, lembrado até hoje por muitos, crentes e não crentes, católicos e não católicos, um tumor no pâncreas o levou para a passagem final no dia 27 de setembro de 1986, onde não há mais espera e diálogo, mas sim visão e alegria eternas...
6 de agosto de 2013, portanto: ocasião para recordar tantas coisas e, com Paulo VI, também João Paulo I e o padre Germano Pattaro; com eles, de passagem, também Michele Pellegrino e João Paulo II.
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Na morte de Paulo VI, há 35 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU