18 Junho 2014
A revista internacional de teologia Concilium se encaminha ao 50º aniversário da sua publicação, que traz a data de início do primeiro número: 15 de janeiro de 1965. Com o primeiro fascículo deste ano, 1/2014, dedicado à temática Viver na diversidade, a revista percorre assim o 50º ano de atividades (1965-2014), para se preparar para celebrar o 50º aniversário no Rio de Janeiro, Brasil, na semana de Pentecostes de 2015.
A análise é do teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, publicada pelo blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 16-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No já histórico Editorial, assinado por Karl Rahner e por Edward Schillebeeckx no primeiro número da publicação (15 de janeiro de 1965), afirmava-se: "Em comparação com as enormes tarefas da Igreja em todo país, cada nação é 'teologicamente subdesenvolvida'. Nesta revista, a teologia de cada parte pretende ajudar as das outras nações a se desenvolver. Uma vez que existem muitas mais revistas do que o homem da prática pode se aproximar, deve haver outra que sirva de guia para elas e de relação para elas. A revista quer ser expressão da responsabilidade que a teologia católica traz em relação à vida real da Igreja".
E Congar dava este testemunho ao programa pastoral e ecumênico da nova revista: "Concilium tenta ser um radar, que prolonga na mutação contemporânea a grande tradição teológica. A teologia está sempre em busca. Isso é importante no momento em que somos agredidos por tantos problemas novos".
A revista, em 10 números anuais, era dividida em 10 seções, correspondentes às principais disciplinas teológicas: Sagrada Escritura (exegese), Dogma, Moral, Igreja e Mundo (teologia fundamental), Pastoral (teologia prática), Liturgia, História da Igreja, Espiritualidade, Direito Canônico, Ecumenismo. E era editada em oito edições: francesa, alemã, inglesa, norte-americana, holandesa, espanhola, portuguesa e italiana.
Depois de alguns anos e por cerca de uma década, chegou-se a 10 edições, com a adição da edição polonesa e japonesa (embora em edições parciais em quatro números por ano).
Uma novidade surpreendente também para a Buchmesse [Feira do Livro] de Frankfurt, no Meno, em setembro-outubro de 1965: a teologia pulava para o primeiro lugar.
A revista nascera no fervor pastoral e teológico do Concílio Vaticano II, a partir de uma ideia do editor holandês, Paul Brand, de Hilversum (Holanda), já durante a primeira sessão (11 de outubro a 8 de dezembro de 1962), que, presente em Roma, buscava agregar em torno do seu projeto editorial algumas assinaturas de teólogos-peritos.
No início, houve dificuldades, mas o projeto rapidamente se concretizou,a partir do dia 20 de novembro de 1962, quando se esclareceu a linha de renovação da assembleia, com o pedido de remodelar fundamentalmente o esquema (projeto de texto) sobre as Fontes da Revelação, no dia 20 de novembro; pedido acolhido pelo Papa João XXIII no dia 21 de novembro de 1962: essa é a data indicada por várias reconstruções historiográficas do início da Concilium.
Os primeiros teólogos a se agregarem foram o dominicano Edward Schillebeeckx, de Nijmegen, e o jesuíta Karl Rahner, de Innsbruck, aos quais logo se somaram o dominicano francês Yves Congar e dois jovens teólogos de língua alemã: Hans Küng, de Tübingen, e Johann Baptist Metz, de Münster.
São esses os Fundadores, aos quais se deve acrescentar dois nomes de leigos comprometidos (e essa já era uma novidade para uma revista teológica): o já citado editor Paul Brand, idealizador da Concilium; e o administrador presidente, especialista em orçamentos e economia, Anton van den Boogaard, de Nijmegen.
A organização prosseguiu, e, em Saarbrücken – na fronteira entre a França e a Alemanha –, realizou-se a assembleia constituinte da Revista Internacional de Teologia Concilium, no dias 19 a 21 de julho de 1963, na presença de 13 teólogos e de dois leigos (aos teólogos já nomeados, é preciso acrescentar, em particular, também Walter Kasper. Ausências justificadas: R. Aubert, Y. Congar, J. Ratzinger). Data da fundação da revista: 20 de julho de 1963 (documentada no Rapport Sarrebruck le 20 juillet 1963).
Os preparativos foram implementadas durante a segunda sessão do Concílio (29 de setembro a 4 de dezembro de 1963). Na reunião do Comitê de Direção e de todos os colaboradores e simpatizantes presentes em Roma, realizada em Roma no dia 28 de novembro de 1963, a notícia da nova revista foi divulgada ao público, em particular aos Padres conciliares. A partir dessa data, o projeto editorial tornou-se público, e a editora Queriniana garantiu os direitos em negociações que ocorreram nos anos 1963-1964 para a edição italiana.
Posteriormente, seria constituída a Stiftung-Concilium, no dia 5 de junho de 1964, e o Secretariado Geral da revista, com sede justamente na cidade de Nijmegen, e, posteriormente, na Universidade Católica de Nijmegen.
A revista Concilium programa temáticas e aborda problemas administrativos nas Assembleias Gerais, que se realizam todos os anos em diferentes cidades das nações em que se publica a edição correspondente. No que diz respeito à edição italiana, depois da primeira histórica Assembleia Geral do sábado, 24 de outubro de 1964 em Roma (no Foyer Unitas, Via S. Maria dell'Anima), a Assembleia Geral foi celebrada na Bréscia (1972), em Bolonha (1989) e novamente em Roma (1999), por ocasião do seu 35º aniversário (1965-1999).
Alguns fascículos merecem ser lembrados, porque concorreram para marcar um novo patamar da pesquisa teológica: o primeiro fascículo (1/1965) sobre a eclesiologia hoje, com o grande e influente artigo de Congar sobre o "povo de Deus"; o fascículo Conhecemos nós os outros? (2/1966), que dava início, também no campo teológico, a uma abordagem historiográfica dialógica para avaliar figuras e movimentos do protestantismo e da teologia evangélica; o fascículo Sobre a crise da linguagem religiosa (5/1973) – considerado o mais inovador na história da revista – que introduzia a perspectiva da teologia narrativa, destinada a ter um profundo impacto no âmbito da teologia sistemática; o fascículo Práxis de libertação e fé cristã (6/1974), que constituiu a primeira apresentação em nível internacional da teologia latino-americana da libertação, por uma Igreja e a serviço dos pobres: categorias que se tornaram de atualidade eclesial e social; o fascículo As mulheres na Igreja (1/1976), em que era nitidamente levantado o problema, que se tornou cada vez mais urgente, como assinala Walter Kasper na sua recente obra Igreja Católica (2011); o fascículo Teologias do Terceiro Mundo: convergências e divergências (5/1988), que nascia da colaboração da direção da Concilium com a Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (EATWOT).
Na história da revista, podem-se identificar algumas etapas: na primeira década, 1965-1972, a Concilium se articulava em dez números anuais marcados segundo as disciplinas teológicas e interpretava os grandes temas conciliares em chave ecumênica.
Na segunda década, 1973-1983, foi introduzida a dimensão da interdisciplinaridade. Congar escrevia na avaliação dos primeiros 20 anos de atividade (10/1983): "A Concilium já fez um esforço eficaz para sair do monopólio europeu. Não só os Estados Unidos, mas também a América Latina, a África, as religiões asiáticas tomaram a palavra na revista. Talvez seja apenas um início. Mas a aventura começou". E Rahner admitia: "Eu acredito que a Concilium não deve se envergonhar do seu passado e pode, ao contrário, ser grata a Deus e àqueles homens que tornaram possível a sua existência. Mas também considero que ela deve continuar vivendo com coragem e alegria, continuar cumprindo a sua tarefa: opportune et importune".
Nessa linha, na terceira década, 1984-1996, a revista introduziu duas seções produtivas: a seção da teologia do Terceiro Mundo e a seção da teologia das mulheres, contribuindo decisivamente para ampliar os horizontes teológicos.
Em uma quarta fase, que inicia em 1997, a revista aborda os grandes temas do debate cultural e teológico, conjugando interdisciplinaridade e interculturalidade, articulando-os em cinco áreas temáticas: 1) fé cristã; 2) ética e forma de vida; 3) Igreja e ecumene; 4) religião e religiões; 5) perspectivas globais; correspondentes a cinco fascículos anuais.
Essas cinco perspectivas permanecem, encontrando concretude de tratamento nos cinco fascículos anuais, ainda em curso, nas atuais seis edições (italiana, inglesa, português-brasileira, alemã, espanhola, sérvio-croata), à espera de celebrar o 50º aniversário no Brasil na semana de Pentecostes do próximo ano.
Também deram a sua contribuição à revista escritores não necessariamente teólogos, como o pedagogo brasileiro Paulo Freire, o historiador romeno-americano das religiões Mircea Eliade, o romancista alemão Heinrich Böll, com um texto sobre a alegria, o filósofo francês Paul Ricoeur, e o filósofo judeu lituano-francês Emmanuel Levinas. Uma tradição cultural a ser potencializada.
Enquanto isso, com o fascículo 1/2008, iniciava uma nova (quinta) fase: extinguia-se a Fundação-Concilium de Nijmegen, com sede na Universidade de Nijmegen, e ocorria a transferência da presidência e do secretariado geral ao Asian Centre for Cross-Cultural Studies de Madras (Índia). Assim o novo presidente, Felix Wilfred, explicava no artigo programático Ler os sinais dos tempos. "Concilium", companheira em uma viagem comum (1/2008): "A Concilium se autocompreende hoje na condição de estar a caminho, em viagem. [...] O fato de que a Concilium tenha eleito um presidente de um país em desenvolvimento é, ele mesmo, uma clara mensagem da viagem realizada através de fronteiras e vínculos. Também a decisão do corpo de teólogos representado na Concilium de colocar a secretaria da revista em Madras, na Índia, mostra como a Concilium tenta ler os sinais do tempo e construir uma nova identidade, em resposta aos tempos que mudam. A Concilium, como revista teológica, espera prosseguir o caminho que se prospecta e continuar de maneira criativa o próprio serviço voltado ao povo de Deus e ao mundo".
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O 50º aniversário da revista Concilium: um radar teológico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU