Por: André | 11 Junho 2014
Intitularam-na com a mesma citação bíblica escolhida pelo Papa para a sua homiliaem Lampedusa, em julho do ano passado. A pergunta de Deus a Caim: “Onde está o teu irmão?” E referiram-se expressamente à ilha recordando a tragédiade 03 de outubro passado, na qual o naufrágiode um barco custou a vida de mais de 300 pessoas, a maioria proveniente do seu país. É com estas palavras corajosas que os quatro bispos católicos da Eritreia se dirigem ao país em uma carta pastoral de 38 páginas com data de 25 de maio de 2014, 21º aniversário da independência do país.
Fonte: http://bit.ly/1hEkvOJ |
A reportagem é de Giorgio Bernardelli e publicada no sítio Vatican Insider, 10-06-2014. A tradução é de André Langer.
Os eparcas de Asmara, Barentu, Keren e Segeneiti dirigem sua pergunta “Onde está o teu irmão?” ao próprio país, transformado sob a mão de ferro do presidente Isaías Afewerki em um dos países africanos do qual mais gente tenta fugir atualmente. Com fugas que se transformam em odisseias, não apenas no Mar Mediterrâneo, mas também no deserto do Sinai, que os eritreus percorrem para tentar chegar a Israel, confiando-se nas mãos de traficantes inescrupulosos, exatamente como os escafistas.
“Onde está o teu irmão? Dado que o entorno em que vivemos agrava a situação, em vez de encontrar soluções que impeçam a repetição de incidentes semelhantes aos de Lampedusa, esta pergunta nos tira o sono”, escrevem os bispos da Eritreia. Com uma denúncia direta das condições de vida no país, os bispos enfrentam – por exemplo – a questão da falta de liberdade de expressão, por causa da qual “nossos jovens fogem para países onde há justiça, trabalho e onde podem se expressar sem medo e em voz alta”. E acrescentam: “Não haveria nenhuma razão para procurar países ‘doces com o mel’ se já vivessem em semelhante lugar”.
Os bispos eritreus assinalam, além disso, a desagregação das famílias por causa da emigração: “os membros de cada família – continua o documento – estão, atualmente, dispersos entre o serviço nacional, o exército, os centros de reabilitação, as prisões, com os anciãos deixados sozinhos sem ninguém que os cuide. Tudo isto está fazendo da Eritreia uma terra desolada”. Eles analisam também a questão dos presos, milhares dos quais, segundo a Anistia Internacional, estão nas prisões da Eritreia por motivos políticos e de consciência. “Qualquer pessoa que for presa – escrevem os bispos – deve ser tratada com humanidade, e depois, baseando-se nas acusações, deve ser apresentada a um tribunal onde o caso será tratado de maneira justa”.
A carta pastoral “Onde está o teu irmão?” é uma intervenção muito importante para um país como a Eritreia, governado por Afewerki desde a independência, em 1993, onde não existe nenhuma forma de oposição política. Uma cortina de ferro que atacou duramente a liberdade religiosa: em um Estado onde 50% da população é cristã, são reconhecidas apenas três Igrejas oficiais: a ortodoxa etíope, a católica (2,5% da população) e a evangélica.
Todas as demais confissões protestantes estão fora da lei e muitos dos seus fiéis encontram-se nas prisões simplesmente por este motivo. Inclusive as três principais igrejas têm que comungar com as ordens de Afewerki: é emblemático o caso da Igreja Etíope ortodoxa, a confissão majoritária, cujo patriarca – Abuna Antonio – foi deposto do seu cargo em 2005 pelo homem forte de Asmara, porque não estava suficientemente alinhado com suas posições políticas. Circunstâncias que fazem da intervenção dos quatro bispos católicos algo ainda mais significativo.
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O grito dos bispos da Eritreia: “Onde está o teu irmão?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU