03 Junho 2014
Foi realizado no dia 29 de maio, o projeto "Farmácia Viva", no município de Manaquiri, a 50 quilômetros de Manaus. O evento discutiu, entre outras coisas, as tentativas do Brasil de fazer o registro de plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a Atenção Primária de Saúde que esbarraram na "desculpa" de que não se detinha a ética, a toxidade e a eficácia dos fitoterápicos.
A reportagem foi publicado pelo portal A Crítica, 30-05-2014.
"As plantas realmente curam, porque elas são medicamentos. Isso não é crendice", afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Juan Revilla, coordenador científico do evento. Ele informou que a Amazônia possui inúmeras plantas que curam e que poderiam ser vendidas para o mundo "faltando apenas a vontade política de fazer". "A Amazônia possui cerca de 30 mil plantas conhecidas, sendo que dessas somente 5 mil se conhecem o seu uso", revelou.
O projeto “Farmácia Viva” é uma estratégia que visa incentivar as comunidades de Manaquiri a terem plantas medicinais nos seus quintais a partir de mudas produzidas no viveiro do Centro de Treinamento de Produtores Rurais do município. O viveiro existe desde 2006 e conta com 120 espécies de plantas e mais de 50 mil mudas produzidas numa área de 150 hectares (equivalente a 150 campos de futebol).
Há 15 anos, Revilla é representante da região Norte junto ao Ministério da Saúde para a discussão da inclusão de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) para a Atenção Básica. Segundo o pesquisador, em 2006, depois de várias rodadas de discussões e, por sugestão dele, foi aprovada uma resolução pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), onde se recomenda que Estados e municípios façam inventários, criem grupos de trabalhos, estudem sua flora local para incentivar o uso das plantas medicinais e desenvolvam produtos fitoterápicos regionais. O pesquisador lamenta que Manaquiri nada fez depois que a resolução foi assinada.
O pesquisador afirma que Manaquiri poderia tratar aproximadamente 95% dos doentes que procuram o SUS com plantas medicinais sem ter que utilizar os medicamentos convencionais. “O ideal seria ter uma farmácia de dispensação, onde os remédios medicinais estivessem disponíveis a todos”, reforça Revilla. Segundo o pesquisador, os benefícios do uso da “Farmácia Viva” é que esses medicamentos não têm efeito colateral e o custo é bem menor. Porém, é preciso ter a orientação adequada no uso das ervas e plantas.
De acordo com o pesquisador, a unha de gato é a única planta amazônica que tem registro na Anvisa, cuja lista é composta por 78 plantas que não são brasileiras, como o eucalipto e a alcachofra. E ele se pergunta onde está a nossa biodiversidade.
O projeto
O projeto “Farmácia Viva” é uma parceria entre o Inpa e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), por meio da coordenação do curso de Bacharelado em Saúde Coletiva, do núcleo do Careiro. O evento reuniu acadêmicos de diversos municípios, profissionais de Saúde e pesquisadores com o objetivo de promover o conhecimento e práticas no contexto da saúde.
Para a acadêmica Aline Gadelha, o “Farmácia Viva” preenche uma lacuna. “Queremos organizar o SUS tirando o excesso das Unidades de Saúde ensinando os moradores do Careiro e de Manaquiri que eles podem ter horta em sua casa e curar até 30% das doenças que acometem a família. Queremos transformar a saúde trazendo qualidade de vida para a população”, disse.
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Plantas da Amazônia com poder de cura poderiam estar no SUS, diz pesquisador do Inpa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU