Por: André | 23 Mai 2014
Francisco está preocupado com o México. Com os problemas que esse país enfrenta. Dificuldades “sérias” e “graves” que o Papa conhece bem. Violência, narcotráfico, migração e morte. Falou sobre isso no dia 19 de maio com um grupo de bispos mexicanos que recebeu por ocasião da visita ‘ad limina’ a Roma. Pediu-lhes que permaneçam sempre com o povo e que “negociem com Deus” pelo povo.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 19-05-2014. A tradução é de André Langer.
Francisco recebeu no Palácio Apostólico do Vaticano cerca de 70 prelados do México. Entregou-lhes um longo discurso por escrito, o qual preferiu não ler. Em compensação, pronunciou breves palavras improvisadas e depois saudou um a um os bispos, entregando a cada um deles uma medalha de bronze.
Em sua mensagem disse ter “aprendido muito” do seu encontro, assinalou que em diversos setores mexicanos se vivem “problemas sérios”, mas reconheceu que a Igreja ali “está assentada sobre fundamentos muito fortes”.
“Parte dos seus filhos atravessam a fronteira, todos os problemas das migrações, aqueles que não chegam do outro lado. Muitos filhos morrem, filhos assassinados nas mãos dos “coiotes”. Todos estes são problemas sérios. E depois a droga, que vocês sofrem muito seriamente. Quando um camponês te diz: que queres que faça? Se cultivo milho vivo um mês, se cultivo ópio, vivo todo o ano!”, constatou.
Pouco antes do discurso de Jorge Mario Bergoglio, havia tomado a palavra o presidente da Conferência do Episcopado Mexicano (CEM), o arcebispo de Guadalajara, José Francisco Robles Ortega.
O cardeal fez um discurso duro. Fez uma análise crua da realidade de seu país. Denunciou os flagelos que ferem a alma do México, incluindo a falta de solidariedade política, a corrupção galopante e as profundas divisões em diversos setores da sociedade...
Ao Papa assinalou que o povo do México junto com seu governo buscam dar-se as estruturas adequadas para um desenvolvimento justo e sustentável para todos. Mas reconheceu a “difundida e endêmica pobreza em um grande setor da população, com tudo o que isto acarreta: ignorância, doenças, êxodo rural e a emigração para o vizinho país do norte”.
Descreveu o sofrimento de muitos migrantes que muitas vezes são vítimas de assaltos, extorsão, violações e mortes. Também se referiu à presença e atividade do narcotráfico, que causou profunda divisão, muitas mortes, danos à saúde física da juventude e à saúde moral das famílias, que foram causas, além disso, da ruptura de tecido social.
“Não obstante, somos um povo que ama, celebra e canta a vida. Temos que lamentar a forma como a cultura da morte foi dominando, manifestada em uma falta de respeito pela sacralidade da própria vida”, estabeleceu.
“Não apenas nas mortes violentas e cruéis do crime organizado, mas também na mentalidade abortista de alguns setores, muitas vezes impulsionada por políticas de agenda que atentam contra a nossa consciência, a soberania do nosso país e diretamente contra o santuário da vida, da família”, ponderou.
Defendeu que o povo mexicano gosta da convivência e pratica a solidariedade e a hospitalidade, mas lamentou “as profundas divisões em alguns setores da sociedade, provocadas muitas vezes por interesses de partidos políticos e grupos de poder que não buscam o bem comum, mas seu próprio benefício”.
Segundo o cardeal, na base destas “obscuras realidades” está a “arraigada cultura da corrupção, da impunidade e da ambição sem freios”.
“A ausência da cultura da legalidade, do compromisso social, da corresponsabilidade cidadã, a perda da consciência da moralidade dos atos e das omissões, enfim, a realidade do pecado”, apontou.
Também se referiu ao abandono e à indiferença de muitos batizados católicos; a acentuada ignorância religiosa, a ausência do compromisso de muitos leigos nas realidades temporais, e o desconhecimento e falta de aplicação da Doutrina Social da Igreja.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
México. Droga, violência e migrantes preocupam o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU