Por: André | 18 Mai 2012
Sentado num jardim de Madri, o político mexicano Cuauhtémoc Cárdenas (Cidade do México, 1934) recorda o seu amigo, o recém-falecido escritor Carlos Fuentes: “um promotor e defensor das principais causas do país. Foi uma perda muito repentina para mim”. Cárdenas está em Madri convidado pela Fundação Ortega y Gasset para participar de uma conversa sobre os movimentos de esquerda no México, realizada nesta quinta-feira. Três vezes candidato à presidência, recusa a etiqueta de “líder moral” do Partido da Revolução Democrática (PRD), que fundou em 1989 após perder as eleições em um processo repleto de acusações de fraude.
A dois meses das próximas eleições presidenciais, em 11 de julho deste ano, Cárdenas opina que os mexicanos devem votar para que se produza “uma mudança real da situação atual, fruto de um projeto social e econômico posto em marcha nos anos 1980. Foram 30 anos de retrocesso econômico, de piora no social, de aumento da violência, de perda de controle de territórios cada vez mais vastos...”.
A entrevista é de Verónica Calderón está publicada no jornal espanhol El País, 16-05-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Você concorreu pela primeira à presidência em 1988. O México está pior do que naquela época?
Sem dúvida, as coisas estão piores hoje.
Passaram-se 12 anos desde que o Partido Ação Nacional (PAN, conservador) chegou à presidência. Que erros cometeram os governos de Vicente Fox e de Felipe Calderón?
O erro é seu projeto em si, que gerou exclusão e concentrou as rendas em grupos cada vez mais reduzidos. Agora, de acordo com o seu projeto, cumpriram suas metas. Se é isto o que queriam, foram estupendos.
Um projeto neoliberal?
E subordinado. Somos os melhores contribuintes de mão de obra barata para os Estados Unidos.
As pesquisas indicam uma cômoda vantagem para Enrique Peña Nieto, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Caso vença as eleições, voltará a hegemonia do histórico partido mexicano que governou o país durante 70 anos?
Não sei. O que sei é que creio que continuaria o projeto que o PRI e o PAN implementaram desde 1982. Muda o partido no Governo, mas o projeto tem sido o mesmo.
Qual a sua opinião sobre Peña Nieto?
Que é o candidato do PRI. Nunca me sentei para conversar com ele. Trocamos apenas saudações.
“É o candidato do PRI”. Soa contundente.
[Sorri.] Como se dissesse que Josefina Vázquez Mota é a candidata do PAN.
Há polêmica sobre a inclusão nas listas do senado do PRD de Manuel Bartlett, secretário de Governo – ministro do Interior –, durante a polêmica eleição de 1988: Manuel Bartlett. Você, como líder moral...
Não tenho muito claro o que quer dizer com isso. Não intervenho nas decisões que o partido toma e não opino a menos que me consulte.
Mesmo assim é Manuel Bartlett. Por quê?
Em primeiro lugar, ele chega como candidato do Partido do Trabalho [que se apresenta na coalizão com o PRD]. O que falta é uma ampla explicação sua sobre o que sabe de 1988 [da eleição presidencial].
Falta memória histórica no México?
Há quem prefira que muitos fatos não sejam lembrados.
As instituições democráticas são mais sólidas que naquela época?
Sim. Temos eleições melhores do que aquelas que tínhamos. Eu quero pensar que os votos são bem contados e que não haverá intromissões indevidas, a começar pelo presidente.
A quem atribui o aparecimento de movimentos como o dos indignados na Espanha?
À incapacidade dos partidos e dos governos de responder às necessidades da população. Ocorreu também em 68.
E servem para alguma coisa?
Sem dúvida. Contribuem para as causas das pessoas.
Uma pesquisa divulgada em 2011 aponta que os partidos políticos são a instituição pior avaliada do país. Apenas superados pelos deputados...
Que são a mesma coisa... [Risos.]
Por que o desencontro?
Porque os partidos estão afastados da população, trabalham mais para seus próprios interesses do que pela sociedade. Oxalá se distinguissem por estar fazendo propostas e não por outras coisas.
Nas campanhas, em alguns povoados mexicanos, as pessoas mostravam a imagem de seu pai [o ex-presidente Lázaro Cárdenas Del Río]. Por que se recorda um político tantos anos depois, ao passo que os atuais são tão impopulares?
Estavam em contato com a população. Tinham tempo e interesse para escutar. Não eram apenas visitas fugazes, como nesta campanha.
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“Os partidos no México trabalham mais por seus interesses do que pela sociedade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU