15 Mai 2014
Em maio de 1981, o cardeal Agostino Casaroli, secretário de Estado do Vaticano, enviou uma carta ao reitor do Instituto Católico de Paris elogiando o polêmico padre jesuíta Teilhard de Chardin.
A nota é publicada por Jesuit Restoration 1814, 12-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Instituto Católico de Paris estava comemorando o 100º aniversário de nascimento de Teilhard. Casaroli estava escrevendo em nome de João Paulo II.
Essa carta se tornou famosa e é considerada a carta de "reabilitação" de Teilhard, que tinha sido acusado de heresia e impedido de ensinar. A carta foi publicada mais tarde na primeira página do L'Osservatore Romano e está traduzida abaixo:
"A comunidade cientifica internacional e, mais amplamente, o mundo intelectual inteiro preparam-se para celebrar o centenário do nascimento do padre Teilhard de Chardin. A ressonância surpreendente das suas pesquisas, unida ao fascínio da sua personalidade e à riqueza do seu pensamento, caracterizaram de modo duradouro a nossa época.
Uma forte intuição poética do valor profundo da natureza, uma percepção aguda do dinamismo da criação, uma ampla visão do devir do mundo se cruzavam nele com um inegável fervor religioso.
Ao mesmo tempo, a sua tenaz vontade de diálogo com a ciência do seu tempo e o seu otimismo intrépido perante a evolução do mundo deram às suas intuições, através do fulgor das palavras e da magia das imagens, uma considerável ressonância.
Totalmente voltada para o futuro, essa síntese da expressão comumente lírica e permeada de paixão do universal contribuiu para voltar a dar aos homens, tomados pela dúvida, o gosto da esperança. Mas, ao mesmo tempo, a complexidade dos problemas abordados, assim como a variedade das abordagens utilizadas não deixaram de levantar dificuldades, que motivam, justamente, um estudo crítico e sereno – tanto no plano científico, quanto no filosófico e teológico – dessa obra fora do comum.
Não há nenhuma dúvida de que as celebrações do centenário no Instituto Católico de Paris ou no Museu de História Natural, na Unesco, assim como na Notre-Dame de Paris, são, sob esse ponto de vista, a oportunidade para um estimulante debate, através de uma justa distinção metodológica dos planos, em beneficio de uma rigorosa instância epistemológica.
Sem dúvida, o nosso tempo recordará, para além das dificuldades da concepção e das deficiências da expressão dessa audaciosa tentativa de síntese, o testemunho da vida unificada de um homem aferrado por Cristo nas profundezas do seu ser, e que teve a preocupação de honrar, ao mesmo tempo, a fé e a razão, respondendo quase que antecipadamente a João Paulo II: "Não tenham medo, abram, escancarem as portas a Cristo, os imensos campos da cultura, da civilização, do desenvolvimento".
Sinto-me feliz em lhe enviar esta mensagem, em nome do papa, para todos os participantes do simpósio presidido por Vossa Excelência no Instituto Católico de Paris, em homenagem ao padre Teilhard de Chardin, e expresso-lhe a minha fiel dedicação.
Cardeal Agostino Casaroli
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12 de maio de 1981 – Carta reabilita Teilhard de Chardin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU