Por: Jonas | 17 Abril 2014
Um dos que o acusam não é desabituado a esse tipo de iniciativa, mas, desta vez, a quilométrica carta (de 89 páginas) que os metropolitas da Igreja greco-ortodoxa (Andrés de Dryinoupolis, Pogoniani de Konitsa; e Serafino de Pireu e de Faliro) acabam de enviar ao papa Francisco foi publicada, em grego e em inglês, por um sítio web muito popular da Grécia.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 15-04-2014. A tradução é do Cepat.
Os dois metropolitas gregos se dirigem ao Papa desta maneira: “Sua excelência Francisco, líder do Estado da Cidade do Vaticano”, sem reconhecê-lo como bispo. Afirmam que desejam se dirigir a ele “com amor”, conduzidos pela vontade de fazer retornar “os hereges” à Santa Igreja ortodoxa, da qual o Papa (sempre citado entre aspas) teria se distanciado. Os dois bispos se dizem fora “do espírito ocidental e ecumênico”, e definem como “papismo” a “heresia” e o “delírio espiritual” que se professa em Roma. Eles também afirmam que rezam “incessantemente” para que os “iludidos” do Papa e seus “adeptos” renunciem a sua “heresia”. Por isso, evidentemente, pedem ao Papa que “volte” à ortodoxia.
As páginas dedicadas ao ecumenismo, definido como “sincretista”, são duríssimas. Os dois metropolitas gregos não reconhecem à Igreja católica o status de Igreja, nem a validade da celebração dos sacramentos nela, nem o status de bispo ao Papa. Além disso, indicam que é “blasfemo”, além de “‘escritural’ e ‘patristicamente’ infundado”, o “primado petrino” e a jurisdição do Papa sobre toda a Igreja. Também definem como “blasfêmia” contra o Espírito Santo a doutrina da infalibilidade papal, demonstração do “orgulho satânico” que teria “possuído” o Pontífice. O “papismo” “não é uma Igreja, mas uma comunidade religiosa, uma para-sinagoga, uma heresia... uma perversão absoluta da verdade”, escrevem no longo documento.
Na carta também há uma detalhada descrição daqueles que, segundo os dois bispos gregos, seriam os erros mais graves. Entre eles, ter “aceitado a proposta do Diabo” de governar um Estado “em troca de sua fidelidade a ele”. Passa-se, em seguida, para diferentes argumentos: a delicada questão teológica do “Filioque” no Credo niceno-constantinopolitano, a infalibilidade, a jurisdição, o “batismo por aspersão e a separação” deste sacramento em respeito à confirmação, as formas da consagração eucarística, o fato de que os leigos não comunguem com o cálice, o não conceder comunhão às crianças pequeninas, os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção de Maria, a doutrina sobre o Purgatório, as indulgências, o celibato obrigatório para o clero e, inclusive, o reconhecimento das comunidades chamadas “uniatas”.
Em seguida, apresentam muitas páginas cheias de acusações reunidas de diferentes sítios de internet e de jornais, para procurarem demonstrar que o pecado habita no Vaticano (cita-se, por exemplo, o fato de que certos filmes “românticos” e também pornográficos teriam sido baixados de computadores do Vaticano).
As acusações mais diretas contra Francisco vão desde a bênção das motos Harley Davidson até o estilo da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, passando pelas indulgências que o Papa concederia através do Twitter. Cita-se também a nomeação de Ernst von Freyberg como presidente do IOR, após a renúncia de Bento XVI e a clamorosa renúncia de Gotti Tedeschi. E voltam a desenterrar as velhas acusações contra Bergoglio, essas que apontavam que teria colaborado com o regime militar argentino.
Muitas das páginas da carta são dedicadas à destruição do Concílio Vaticano II e de sua abertura para o diálogo inter-religioso. Um ataque violento contra o judaísmo e contra a linha que o papa Ratzinger havia apontado, em particular, por “ter exonerado o povo judeu da responsabilidade pela crucificação de Jesus”. Em relação ao judaísmo, segundo os dois metropolitas gregos, com a “satânica Cabala e o demoníaco Talmude” crucifica “todos os dias o Salvador do mundo”.
Não perdoam Francisco pelo lava-pés na “Missa in Coena Domini”, que aconteceu no reformatório juvenil da Casa del Marmo (durante a Semana Santa de 2013), nem as próximas canonizações de João XXIII e João Paulo II.
O metropolita Serafino, em março de 2012, havia lançado uma série de anátemas contra diferentes personagens, um deles foi Bento XVI. No mês seguinte, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu enviou uma carta ao arcebispo Jerônimo, primaz da Igreja da Grécia, definindo como inaceitáveis as ações de alguns hierarcas daquela Igreja, sobretudo no que diz respeito às suas críticas sobre a participação no diálogo com os que não são ortodoxos. As inaceitáveis posturas destes dois bispos são bem conhecidas entre os ortodoxos (alguns, inclusive, consideram que eles são uma espécie de “talibãs”) e não contam com muito eco; o que surpreende é que sejam toleradas pelo Sínodo da Igreja ortodoxa grega.
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Papa é acusado de heresia por dois bispos ortodoxos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU