02 Abril 2014
A decisão das Forças Armadas de abrir sindicâncias para apurar tortura em suas instalações pode ajudar os militares da ativa a se distanciarem da ditadura e melhorarem a imagem com a opinião pública. Estudiosos do período dizem ainda que a demora de 50 anos em começar a abrir os porões pode ser explicada pelo grande espírito de corporativismo nessas instituições.
— É um fato marcante (a decisão de investigar), um primeiro passo para uma profunda revisão histórica da atuação militar. Uma tentativa de separar o joio do trigo, deixar de lado o sentimento de corpo de proteger os que praticaram tortura e virar essa página da ditadura — disse Leonardo Trevisan, professor do departamento de economia da PUC-SP e autor do livro “O pensamento militar brasileiro”.
A reportagem é de Sérgio Roxo, publicada pelo jornal O Globo, 02-04-2014.
Jorge Ferreira, professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse acreditar que as cobranças da sociedade motivaram o Exército, a Marinha e a Aeronáutica a aceitarem apurar a tortura:
— Foi uma decisão política dos comandos militares cedendo a uma pressão dos setores organizados da opinião pública. Não é possível continuar por tanto tempo negando o que todos sabem. Todo mundo sabe que houve tortura dentro das instalações militares.
Ferreira elogiou a decisão, mas lembrou que isso ainda não é suficiente:
— É preciso abrir a documentação que está em poder dos militares.
Corporativismo Militar
Para o coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Sérgio Adorno, apesar de ter demorado, a decisão indica uma vontade da nova geração de militares de passar as instituições a limpo.
— É só com a exposição com o que de fato ocorreu é que vamos superar trauma e, de alguma maneira, avançar para ter Forças Armadas que respeitem a ordem democrática — disse.
Trevisan, Ferreira e Adorno acreditam que os princípios da carreira militar fizeram com que as Forças Armadas demorassem 50 anos para começar a contribuir com as apurações sobre o que houve na ditadura.
— O espírito corporativo das organizações militares leva a uma proteção à crítica externa. Eles são extremamente hierarquizados — avaliou Adorno.
Ferreira disse acreditar que, se não for jogada luz sobre o que aconteceu nas instalações militares, as instituições como um todo vão arcar pela participação no período.
— Enquanto não admitirem o que aconteceu e os nomes não surgirem, os militares vão continuar com esse ônus.
Trevisan destacou que os militares que estão na ativa não faziam parte das Forças Armadas na ditadura. Os atuais integrantes de Exército, Marinha e Aeronáutica também têm formação cultural melhor, o que os distancia de agentes de repressão.
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50 anos do golpe. Investigação das Forças Armadas: ‘É primeiro passo para profunda revisão histórica’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU