Prevenção de abuso infantil deve prevalecer sobre o medo na Igreja Católica

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01 Abril 2014

"Muitos irão criticar minha participação na recém criada Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores. Os que pensam ser esta comissão apenas uma cortina de fumaça, ou que a Igreja é incapaz de ser sincera nesta questão, podem supor que eu esteja, ao participar na comissão, desapontando as vítimas, conspirando e traindo a luta delas por justiça. Compreendo os sentimentos e respeito o direito destas pessoas a pensarem assim", escreve Marie Collins, em artigo publicado por The Irish Times, 31-03-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Segundo ela, "desde o dia em que me dirigi ao meu padre abusador tenho seguido meu coração e meus instintos na forma como lutar por justiça. Fiquei ao lado de meus princípios e sempre falei a verdade. Aceitei esta nomeação não para machucar alguém, mas para aproveitar a oportunidade de levar adiante a luta até o coração da Igreja. Se eu estiver errado e, no futuro, ficar mostrado que isto foi um engano, não tentarei esconder o fato: virei a público e o admitirei".

Eis o artigo.

Muitas vezes fiquei desapontada e frustrada em minhas esperanças por mudança na forma como a Igreja Católica lida com a questão do abuso infantil. Às vezes fiquei desanimada ao ponto de não querer ter mais nada a ver com ela. Isso foi particularmente verdadeiro após minha participação na fracassada Comissão Lynnott, da Igreja, cuja tarefa era escrever orientações de proteção às crianças na Irlanda em 2003. Por que então aceitar a nomeação para a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores?

Tenho feito a mim mesmo esta pergunta. Seria eu uma otimista incurável ou uma boba? Espero que nenhum dos dois. Aceitei pela mesma razão que decidi aceitar o convite para falar no seminário do Vaticano chamado “Rumo à Cura e à Renovação” sobre o abuso infantil em Roma, no ano de 2012: salvar as crianças de abuso é mais importante do que qualquer medo pessoal de dor ou humilhação. Se houver uma pequena chance que seja de que esta comissão possa trazer alguma mudança para dentro da Igreja que leve as crianças a serem melhor protegidas e as vítimas a serem melhor tratadas, então eu não posso dar as costas a ela.

Não tenho dúvida de que muitos irão criticar minha participação aqui. Os que pensam ser esta comissão apenas uma cortina de fumaça, ou que a Igreja é incapaz de ser sincera nesta questão, podem supor que eu esteja, ao participar na comissão, desapontando as vítimas, conspirando e traindo a luta delas por justiça. Compreendo os sentimentos e respeito o direito destas pessoas a pensarem assim. Desde o dia em que me dirigi ao meu padre abusador tenho seguido meu coração e meus instintos na forma como lutar por justiça. Fiquei ao lado de meus princípios e sempre falei a verdade. Aceitei esta nomeação não para machucar alguém, mas para aproveitar a oportunidade de levar adiante a luta até o coração da Igreja. Se eu estiver errado e, no futuro, ficar mostrado que isto foi um engano, não tentarei esconder o fato: virei a público e o admitirei.

Tratamento destrutivo

Há dois anos, num simpósio no Vaticano, falei aos bispos e líderes congregacionais de todo o mundo. Falei em termos claros sobre minha experiência pessoal de abuso sexual por parte do clero. Falei também do efeito devastador que esta experiência teve em minha vida e em minha família, bem como do tratamento destrutivo posterior dos servos da Igreja, de quando tentei levar à Justiça a pessoa que me abusou. Falei do que faltava à Igreja para uma mudança de atitude e, em termos práticos, para garantir que outros não tenham as mesmas experiências.

Minha esperança era a de que, mesmo se apenas uma pequena porcentagem aprendesse algo a partir de minhas palavras, se elas os influenciassem em suas políticas protetoras das crianças ou mesmo na forma como eles viessem interagir com seus sobreviventes, já seria algo válido.

Fiquei impressionada com os organizadores do seminário. A motivação foi claramente educar as lideranças presentes sobre todos os aspectos relativo ao abuso de forma que eles pudessem levar as aprendizagens às suas dioceses e congregações. Enquanto alguns participantes de fato “sacaram” a ideia, houve, por outro lado, os que afirmaram não existir, por razoes culturais, abusos em seus países.

Houve também as atitudes e crenças antigas em matéria de “escândalos”, “direito canônico” e da importância da “confidencialidade”, elementos que levaram a Igreja a estar na situação que hoje se encontra. Estava claro que, para fazermos estes homens darem um passo adiante quanto a esta questão, tínhamos uma tarefa enorme.

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