Por: André | 29 Janeiro 2014
Eles têm a tarefa de supervisionar o IOR. Quatro dos cinco são novos. Foram nomeados pelo PapaFrancisco, para surpresa de todos. Que se apressa também, agora, para renovar a composição da Comissão Teológica Internacional.
Fonte: http://bit.ly/1aFgKVT |
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 28-01-2014. A tradução é de André Langer.
Além do organograma da cúria romana e da escolha de novos pastores para importantes sedes episcopais, como Colônia, Madri e Chicago, no ano que apenas começou o Papa Francisco deverá ocupar-se também da nomeação, menor mas não menos significativa, dos novos membros da Comissão Teológica Internacional.
Criada por Paulo VI em 1969, a Comissão foi renovada – mais ou menos regularmente – de quinquênio em quinquênio.
Os atuais 30 membros, cujos mandados estão chegando ao seu fim, foram nomeados em 19 de junho de 2009, quando era Papa Bento XVI e o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, à qual a Comissão está subordinada, era o cardeal estadunidense William J. Levada.
Agora Francisco ocupa a cátedra de Pedro e à frente da Congregação está o alemão e ratzingeriano Gerhard L. Müller, proximamente cardeal.
De acordo com os estatutos, é tarefa da Comissão “estudar os problemas doutrinais de grande importância, especialmente os que apresentam aspectos novos, e deste modo oferecer sua contribuição ao magistério da Igreja”.
O último produto da Comissão, tornado público há poucos dias, é um documento que tende a rechaçar a acusação de que a fé monoteísta seja por si só produtora de violência.
Fazem parte da Comissão “especialistas das ciências teológicas de diversas escolas e países, que são eminentes por ciência, prudência e fidelidade ao magistério da Igreja”. São nomeados pelo Papa, “a juízo de quem são propostos pelo cardeal prefeito” da Congregação para a Doutrina da Fé, “após consulta às Conferências Episcopais”.
Bento XVI tinha grande familiaridade com esta instituição. Simples professor de teologia foi nomeado membro para o primeiro e o segundo quinquênio por Paulo VI, que, em 1977, o chamou para dirigir a Arquidiocese de Munique e o criou cardeal. Na qualidade de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger presidiu depois “ex officio” a Comissão de 1981 até 2005.
Ao contrário, trata-se de verificar em sua totalidade o interesse que Francisco reservará à Comissão, da qual fez parte no primeiro quinquênio o seu mestre de teologia, padre Lucio Gera.
Em todo o caso, será interessante observar os critérios que o Papa utilizará para nomear os novos membros, isto é, se dará mais espaço a teólogos leigos, teólogas e se ampliará a representação latino-americana.
Os primeiros leigos nomeados membros da Comissão foram John Finnis e William May, em 1986 (quarto quinquênio), ao passo que as primeiras teólogas entraram em 2004 (sétimo quinquênio) e foram Sara Butler e Barbara Hallensleben, ambas confirmadas em 2009.
No total, dos quase 150 membros que passaram pelos oito quinquênios, os leigos foram meia dúzia e as mulheres apenas duas. Entre os atuais 30 membros, além disso, há apenas quatro latino-americanos.
Os estatutos excluem explicitamente que possam ser contados entre os membros da Comissão também especialistas não católicos, embora prevendo que pudessem ser consultados. E efetivamente o monge protestante Max Thurian o foi em 1992, depois da sua ordenação como sacerdote católico, em 1987. Mas não falta quem, sobre este ponto, espera outra das “lágrimas” que caracterizam o atual pontificado.
Será curioso também ver se e como o Papa Francisco recorrerá à Comissão no caso de nomeações episcopais e curiais importantes, como fizeram seus predecessores.
Efetivamente, é chamativa a lista de membros da Comissão Teológica promovidos ao episcopado e depois premiados com a púrpura. Além de Ratzinger, basta recordar os casos de Carlo Caffara, Willelm J. Eijk, Pierre Eyt, Walter Kasper, Karl Lehmann, Jorge A. Medina Estévez, John Onaiyekan, Christoph Schönborn, Luis Tagle e do próprio Müller. Uma linha inserida por Francisco em seu discurso aos núncios recebidos em audiência no dia 21 de junho de 2013 faria pensar que com o atual pontífice seria mais difícil que isso aconteça.
Disse, efetivamente, Francisco aos representantes pontifícios que participaram do dia dedicado a eles no âmbito do Ano da Fé: “Na delicada tarefa de realizar a investigação para as nomeações episcopais, estejam muito atentos para que os candidatos sejam pastores próximos das pessoas. Este é o primeiro critério. Pastores próximos do povo. É um grande teólogo, uma grande cabeça: que vá para a universidade, onde fará muito bem!”.
* * *
No que diz respeito aos teólogos, se verá. Mas o Papa Francisco, com um movimento repentino, renovou a Comissão Cardinalícia de vigilância do Instituto para as Obras de Religião (IOR), os cinco cardeais que estão no vértice da cadeia de comando do impropriamente chamado “banco” vaticano.
Em 16 de fevereiro do ano passado, Bento XVI, em um dos seus últimos atos de governo, renovou a composição desta Comissão por um quinquênio, confirmando os cardeais Tarcisio Bertone, Jean-Louis Tauran, Odilo Pedro Scherer e Telesphore P. Toppo e colocando Domenico Calcagno no lugar de Attilio Nicora, em função da incompatibilidade de funções, uma vez que já era chefe da Autoridade de Informação Financeira, órgão de controle do IOR.
Mas de fato, o Papa Francisco anulou essa decisão, substituindo quatro dos cinco membros nomeados por seu predecessor. Salvo Tauran, entraram os cardeais Christoph Schönborn, Thomas C. Collins e Santos Abril y Castelló, e também o próximo purpurado Pietro Parolin, sucessor de Bertone como secretário de Estado.
No comunicado que anunciou a nomeação dos cinco cardeais não se disse quem será o presidente da Comissão. Mas indiscrições da imprensa identificam-no em Abril y Castelló, de 79 anos de idade, que completará em setembro próximo, bem conhecido de Bergolgio porque foi núncio em Buenos Aires de 2000 a 2003, antes de ser enviado à menos prestigiosa Eslovênia, porque – conta-se na cúria – nas nomeações episcopais e em outras questões preferia dar ouvidos mais ao então arcebispo da capital argentina do que aos seus superiores romanos da época: o cardeal secretário de Estado Angelo Sodano e o substituto – hoje também cardeal – Leonardo Sandri, argentino. Terminada a sua carreira diplomática por ter chegado à idade limite em 2011, Abril foi valorizado no pontificado de Bento XVI e com Bertone na Secretaria de Estado: nomeado arcipreste de Santa Maria Maior em novembro desse mesmo ano, no mês seguinte foi criado cardeal e passou a integrar a Congregação para os Bispos.
Os estatutos do IOR estabelecem que sejam os cardeais membros da Comissão que escolhem entre si o presidente e não prevêem aprovações ou ratificações papais. Mas é fácil imaginar que os cardeais votem no nome que o Papa fez saber informalmente ser seu preferido.
Caso se confirmar a eleição de Abril y Castelló, a Comissão, neste caso, não será presidida pelo secretário de Estado. Mas isto não é nenhuma novidade. Bertone e Sodano foram presidentes. E o foi, anteriormente, Jean Villot. Mas Agostino Casaroli, também ele membro da Comissão de 1979 a 1994, não a presidiu. Os presidentes na época foram Agnelo Rossi, de 1979 a 1989, e Bernardin Gantin, de 1989 a 1994.
A isto se pode acrescentar que Parolin ingressa no IOR três meses depois da nomeação como secretário de Estado. Bertone ingressou em 14 de outubro de 2006, um mês depois de ter substituído Sodano. Mas este último teve que esperar quatro anos, mas depois ficou na Comissão – junto com Bertone, mas mantendo a presidência – até o final de 2007, quando completou 80 anos. Também Casaroli permaneceu na Comissão até depois dos 80 anos. Bertone, pelo contrário, foi exonerado pouco tempo depois de completar 79 anos de idade.
Mas fica ainda “ad interim” a nomeação como prelado do IOR do discutido mons. Battista Ricca. Uma nomeação formalmente adotada pela Comissão Cardinalícia, como prevê o estatuto, mas imposta de fato pelo Papa Francisco, como se infere no comunicado da Sala de Imprensa vaticana, que o anunciou no dia 15 de junho de 2013. Na nota, efetivamente, se especificou que a nomeação de Ricca foi adotada “com a aprovação do Santo Padre”, aprovação que não é prevista nas normas.
O Conselho de Superintendência do IOR, pelo contrário, é presidido desde 15 de fevereiro de 2013 pelo alemão Ernst von Freyberg, que assumiu o lugar de Ettore Gotti Tedeschi, bruscamente defenestrado em maio de 2012.
O sítio do IOR anuncia que a data limite do mandato de toda a junta leiga está prevista para dezembro de 2015. Mas à luz dos acontecimentos do último ano – sobretudo da tempestade que se abateu sobre o Instituto imediatamente depois da investigação da magistratura italiana sobre mons. Nunzio Scarano – ainda é cedo para dizer se e como o atual organograma do IOR será mantido.
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Os cardeais que zelam pelas finanças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU