02 Setembro 2013
A nomeação oficializada nesse sábado de Pietro Parolin à frente da Secretaria de Estado vaticana diz que muitas coisas estão destinadas a mudar do outro lado do Tibre. A revolução está apenas começando.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 01-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Jorge Mario Bergoglio, de fato, escolheu como o seu mais próximo colaborador, removendo-o de uma nunciatura "no fim do mundo", uma figura que, em 2009, ele teve que deixar essa mesma Secretaria de Estado, à qual, por um antigo costume, nunca se volta, senão como papa.
Uma padre de fronteira, Parolin, que o seu velho pároco em Schiavon, a cidade do Vêneto onde ele nasceu há 58 anos, define como "um filho do povo". O sinal que Francisco pretende dar é evidente: a nova Cúria Romana deve ser de serviço e não de poder, simples padres com capacidades técnicas e, ao mesmo tempo, com vocações pastorais. Chega de carreiristas e expoentes de grupos internos em luta entre si. Bergoglio empurra com força o ministério vaticano entendido eminentemente como serviço.
Um exemplo importante disso é a nomeação oficializada poucas horas antes da de Parolin do novo "prefeito" da Santa Sé. Como secretário do Governatorato, de fato, foi escolhido um padre argentino, o padre Fernando Vérgez Álzaga. Ex-secretário do cardeal Eduardo Pironio, não foi significativamente elevado ao episcopado, como aconteceu com muitos dos seus antecessores, entre eles o demissionário Giuseppe Sciacca. Francisco, em suma, visa a uma Cúria em que os cargos não correspondem a privilégios nem a dignidades particulares. Era assim na década de 1970, quando, por exemplo, o próprio governador era um simples leigo.
Bergoglio, desde o início do seu pontificado, deslocou o eixo do poder dos "ministérios" vaticanos, onde os cardeais prefeitos foram confirmados, mas apenas "donec aliter provideatur", isto é, enquanto nada for feito em contrário, ao "internato" de Santa Marta, o hotel onde o papa mora e onde governa, mantendo abertas as salas do seu apartamento, encontrando-se com velhos e novos amigos, dedicando tempo para a escuta, mais do que para as estratégias.
Muitos desses dicastérios vão mudar de rosto depois do encontro do início de outubro do papa com o Conselho da Coroa, os oito cardeais escolhidos para reformar a Cúria. Juntamente, também mudarão muitos nomes, novas levas para um Vaticano mais enxuto e menos protagonista.
Outros nomes permanecerão. Na Secretaria de Estado, Francisco mantém uma relação constante e de confiança com o sostituto, Giovanni Angelo Becciu, tanto que há quem não exclua que, se realmente o Conselho da Coroa decidir criar um "moderador curiae" (a proposta foi feita pelo cardeal Francesco Coccopalmerio), essa função poderá ser confiada ao próprio Becciu.
O único cardeal da Cúria presente no Conselho da Coroa é o presidente do Governatorato, o cardeal Giuseppe Bertello. Coube a ele gerir um dicastério que entrou, por causa das acusações de corrupção interna feitas por Dom Carlo Maria Viganò no caldeirão do Vatileaks. Bertello tem trabalhado nesses meses muito estreitamente com o novo papa a ponto de esperar dele também uma contribuição significativa para a esperada reforma de toda a Cúria.
Nas últimas semanas, dos Estados Unidos, levantou-se uma voz para pedir com força que Bergoglio agisse, que mudasse o secretário de Estado rapidamente, como desejado durante o conclave. Foi Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e chefe do episcopado norte-americano, que falou com o National Catholic Reporter sobre Francisco e disse: "Nós também queríamos alguém com boas capacidades administrativas e de liderança. Até hoje, não se viu muito isso". E com relação à mudança de Bertone: "Espero que, depois das férias de verão, se concretize algum sinal a mais com relação à mudança na gestão".
Bergoglio o ouviu, confirmando o peso de um episcopado, o norte-americano, que encontra na atual Secretaria de Estado um homem de confiança sempre pronto para servir de ponte entre Roma e os EUA. Trata-se de Peter Brian Wells, atual assessor para assuntos gerais. É ele, a quem também foi confiada a presidência do novo comitê para a segurança das finanças vaticanas, que desempenha hoje a função de vínculo entre as instâncias norte-americanas e o pontífice, que, com Bento XVI e João Paulo II, era desempenhada pelo cardeal Justin Francis Rigali, antes, e James Michael Harvey depois.
A propósito de finanças: está ganhando cada vez mais consideração o diretor da Autoridade de Inteligência Financeira, o suíço René Brülhart. Em Roma, cinco dias por semana, ele se hospeda em Santa Marta, onde não raramente ele se cruza com o papa. A sua tarefa é de vigiar as operações financeiras internas. Ele trabalha pela limpeza e transparência, sem medo de levantar casos espinhosos. Recentemente, foi ele quem disse que as operações suspeitas detectadas no IOR em 2013 são mais do que as de 2012.
No IOR, Francisco colocou homem de sua confiança, o novo prelado Battista Ricca. Diretor do "internato" de Santa Marta e da residência na Via della Scrofa, onde Bergoglio se hospedava quando vinha de Buenos Aires para Roma, ele tem a plena confiança do papa, embora alguns jornais tenham escrito que, antes da nomeação, o próprio papa teria sido mantido no escuro sobre "relevantes informações" sobre o passado do próprio monsenhor. Mas o papa, que considera que todo erro do passado não é "nada diante da misericórdia de Deus", continua no seu próprio caminho de reforma do banco vaticano, contando com a supervisão de Ricca.
Mais discretos, mas nem por isso conselheiros menos ouvidos e estimados, são Guzman Carriquiry, presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, e Santos Abril y Castelló, arcipreste de Santa Maria Maior. São amigos de longa data do papa, conhecedores da Cúria e dos seus homens. Francisco os ouve frequentemente. Depois, certamente, decide sozinho.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Sobem os padres, descem os cardeais: a Cúria simples do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU