21 Julho 2014
Enquanto na Itália e na Europa se discute (e se gera divisão sobre) as políticas mais eficazes para gerir os desembarques de pessoas que fogem da África e do Oriente Médio, problemas e dinâmicas similares são registrados do outro lado do oceano.
A reportagem é de Stefano Femminis, publicada na revista Popoli, 16-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os Estados Unidos e o México estão lutando com uma onda de chegadas de migrantes da América Central, com uma particularidade: muitíssimos deles são menores não acompanhados.
A situação é tão dramática que, sobre o tema, intervieram tanto o presidente dos EUA, Barack Obama, que pediu ao Congresso a alocação especial de dois bilhões de dólares, quanto – várias vezes – a Conferência Episcopal dos EUA.
É impossível saber o número oficial dos migrantes que entram ilegalmente nos Estados Unidos, mas uma estatística indicativa é dada pelo número de pessoas detidas pela Polícia de Fronteira norte-americana, na fronteira com o México: dos 13 mil menores de 2012, passou-se para os 24 mil do ano seguinte, até chegar aos 52 mil nos primeiros meses de 2014 (somam-se a eles os 10 mil jovens detidos em território mexicano).
Não é por acaso, portanto, que o Pentágono, excepcionalmente, tenha pedido que três bases militares na Califórnia, Oklahoma e Texas se encarreguem da acolhida de uma parte dessas pessoas. Acolhida à espera de expulsão, naturalmente.
Como esclareceu no início de julho o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, "é improvável que a maioria dos menores não acompanhados que chegam da América Central e são interceptados na fronteira cumpram os requisitos para obter uma ajuda humanitária. Por isso, essas pessoas não terão uma base legal para permanecer nos Estados Unidos".
A Casa Branca lê esses fluxos migratórios em chave unicamente econômica. De acordo com muitos observadores, na base desse aumento de menores, haveria as violências que ocorrem particularmente na Guatemala, El Salvador e Honduras, violências relacionadas tanto ao tráfico de drogas quanto à chaga das gangues juvenis (conhecidas como maras ou pandillas).
É o que pensa, por exemplo, Dom Mark Seitz, bispo de El Paso (Texas), que clamou em alta voz à Câmara dos Deputados que declare a existência de uma crise humanitária e que dê proteção aos migrantes, especialmente aqueles em condições mais frágeis.
Os seus apelos foram assumidos pelos bispos dos Estados Unidos, México e dos três países centro-americanos citados, que, que, em uma declaração conjunta emitida no dia 13 de julho, dizem-se "profundamente comovidos com o sofrimento de milhares de meninos, meninas e adolescentes que migraram para os Estados Unidos e que agora se encontram detidos para depois serem deportados".
Há muita espera, além disso, para eventuais declarações a respeito do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado vaticano em visita nestes dias ao México.
A correlação entre migrações ao "Eldorado" norte-americano e violência sofrida na pátria também é confirmada por José Luis Rocha, especialista em imigração e colaborador da revista Envío, publicada pela UCA, a universidade dos jesuítas centro-americanos.
Autor de várias viagens ao longo das rotas migratórias, Rocha confirma que – embora nem sempre os meninos o declarem abertamente – o medo é uma das motivações que os levam à fuga: "Por exemplo, os meninos acolhidos pela Kino Borders Initiative (uma entidade ligada aos jesuítas) inicialmente declaravam ter ido embora por motivos econômicos, mas as coisas são sempre misturadas. Falando com eles mais profundamente, descobre-se que o projeto é o de se reunir com a mãe há anos em Los Angeles, e não em Maryland, e há na base a consciência de que, na Guatemala ou em Honduras, a probabilidade de levar um tiro na cabeça, como aconteceu com muitos dos seus amigos, é bem mais alta do que a de encontrar um emprego. Evitar a pobreza, a separação familiar e a violência: são três motivações que estão sempre juntas para esses meninos".
Os dados sobre as taxas de violência em um país como Honduras são impressionantes: San Pedro Sula (segunda maior cidade) conquista há três anos o dramático recorde de cidade mais violenta do mundo (com exceção dos países em guerra, como a Síria): em 2013, 187 mortos a cada 100 mil habitantes.
Consequência lógica do fato de que, nesse lugar, se concentram 27% das armas registradas em todo o país. Uma taxa não muito inferior (102,2) é registrada na capital, Tegucigalpa.
Rocha destaca outra estatística, para lembrar que não é só a Europa que se fecha como uma fortaleza diante desses fenômenos: "Se abordamos a questão dos refugiados, calculando a extensão do território e o número de refugiados acolhidos por mil quilômetros quadrados, descobrimos que, na frente da classificação mundial, está Malta, com 26.351 refugiados, seguida pelo Líbano (12.968) e, depois, Jordânia, Ruanda, Países Baixos, Paquistão. Os Estados Unidos estão no fim da classificação, com apenas 28 refugiados por cada mil quilômetros quadrados".
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Migração aos EUA: o que está por trás do boom de menores centro-americanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU