''Numerário dessa seita''? Opus Dei ''corrige'' a homilia do papa

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08 Mai 2014

Ao ouvir de novo, em voz alta, o que foi transmitido pela Rádio Vaticano, a partir do minuto 4'28" da gravação, é possível ouvir o Papa Francisco concluir assim a sua homilia da manhã dessa terça-feira, 6 de maio, na capela de Santa Marta: "E hoje, pensando nesses dois ícones – Estevão, morrendo, e as pessoas, os cristãos, fugindo, indo por toda a parte para a violenta perseguição – perguntamo-nos: como é o meu testemunho? Sou um cristão testemunha de Jesus ou sou um simples numerário dessa seita? Sou fecundo porque dou testemunho, ou permaneço estéril porque não sou capaz de deixar que o Espírito Santo me leve adiante na minha vocação cristã?".

A nota é de Sandro Magister, publicada no blog Settimo Cielo, 07-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Sim, isso mesmo: "numerário dessa seita". Expressão certamente não honrosa no raciocínio feito pelo papa. Para a previsível decepção do Opus Dei, dos quais justamente os "numerários" constituem o núcleo duro, formado por leigos com o vínculo do celibato.

Por exemplo, era "numerário" do Opus Dei o antecessor do padre Federico Lombardi, à frente da Sala de Imprensa vaticana, Joaquín Navarro-Valls.

E é "numerário" também o atual "consultor para a comunicação" da Secretaria de Estado, o norte-americano Greg Burke.

O escritório da Secretaria de Estado, à qual Burke presta a sua consultoria, presidido pelo Mons. Carlo Maria Polvani, sobrinho do núncio nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, também supervisiona o L'Osservatore Romano.

E uma pista da decepção do Opus Dei pôde ser vista justamente na forma como o L'Osservatore Romano da tarde dessa terça-feira relatou – como faz todos os dias – a homilia matinal do papa.

No parágrafo final do relato, a palavra "numerário" não existe: foi substituída pela mais inócua "membro":

"O Papa Francisco, em conclusão, lembrou que, dos 'dois ícones' propostos pela liturgia – Estevão que morre e os cristãos que dão testemunho por toda a parte – surgem, para cada um, algumas perguntas: 'Como está o meu testemunho? Sou um cristão testemunha de Jesus ou sou um simples membro dessa seita? Sou fecundo porque dou testemunho ou permaneço estéril porque não sou capaz de deixar que o Espírito Santo me leve adiante na minha vocação cristã?'"

Sem perturbar a histórica aversão pelo Opus Dei por parte da Companhia de Jesus, da qual Jorge Mario Bergoglio é membro eminente, certamente chamou a atenção o uso pejorativo por parte do papa do termo "numerário" associado a "seita".

Curiosamente, no L'Osservatore Romano dessa quarta-feira, há um artigo na página 5 de autoria do Mons. Polvani, justamente o chefe desse escritório, que, três páginas depois, corrigiu a homilia do Papa Francisco.

* * *

POST SCRIPTUM – Poucas horas depois da publicação desse post, um renomado membro do Opus Dei, professor da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, nos transmitiu este esclarecimento:

"O Papa Bergoglio é de língua nativa espanhola, e, em espanhol, 'numerário' significa simplesmente membro estavelmente incorporado em uma instituição. Assim, um 'professor numerário' de uma universidade se distingue de um 'professor supranumerário'. Essa terminologia se aplica a muitos tipos diferentes de instituições e, em espanhol, não tem nada a ver especificamente com o Opus Dei. Portanto, o L'Osservatore Romano simplesmente corrigiu um espanholismo do nosso papa, razão pela qual me parece ser um engano ler uma alusão ao Opus Dei."