Por: Jonas | 05 Fevereiro 2014
O general Abdel Fattah al Sisi pode se tornar um dos candidatos às eleições presidenciais. E a grande maioria dos coptas manifestou-se a seu favor. Se havia alguma dúvida em relação às intenções do militar, que no dia 31 de julho do ano passado colocou fim à presidência islamista de Mohamed Morsi, chega uma nova confirmação com o anúncio de uma iminente reorganização do governo, sobretudo do posto do ministério da Defesa. Ou seja, na dimensão do que Abdel Fattah al Sisi deve abandonar para se propor como candidato presidencial para as eleições que ocorrerão no mês de abril. No mais, a campanha com sua imagem, que aparece nas ruas do Cairo, já anunciava eloquentemente sua decisão.
Fonte: http://goo.gl/C9oMYK |
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Vatican Insider, 03-02-2014. A tradução é do Cepat.
Não é nenhum segredo que esta candidatura seja bem vista pela Igreja copta. No domingo, 26 de janeiro (dia marcado novamente por um terrível saldo de mortos em razão dos combates entre o exército e aqueles que apoiam o derrotado Morsi), o papa copta, Tawadros, visitou Abdel Fattah al Sisi junto com uma delegação de outros seis bispos coptas. No dia seguinte, quando o Conselho Supremo das Forças Armadas promoveu o general ao grau de marechal de campo, o Papa copta enviou-lhe um telegrama de felicitações, no qual escreveu: “esta promoção é verdadeiramente merecida”.
Mensagens semelhantes, segundo apontou a agência Fides, foram enviadas pelos líderes de outras duas comunidades cristãs egípcias, em comunhão com Roma: o patriarca de Alexandria dos coptas católicos, Ibrahim Isaac Sidrak, e o eparca de Alexandria dos armênios católicos, Kricor Okosdinos Coussa.
Apesar de não estarem, aparentemente, relacionados com a candidatura presidencial, são gestos que apontam um apoio contundente para Abdel Fattah al Sisi. Um dos motivos desta decisão é a amarga experiência que viveram os coptas durante a presidência de Morsi, mediante a qual a Irmandade Muçulmana tratou de abrir o caminho para um papel muito maior do islã na vida civil. Isso sem falar da violência contra as Igrejas. Inclusive, no momento atual, os riscos para os cristãos no Egito são muito elevados, como confirmou há poucos dias o assassinato de um policial que vigiava uma Igreja dedicada à Virgem Maria em um dos bairros periféricos da imensa área metropolitana do Cairo.
No entanto, existem vários perigos para a Igreja copta sob a ala do exército. Entre os que estão suportando o férreo trato de Abdel Fattah al Sisi também há alguns que propõem uma terceira via, ou seja, uma alternativa tanto ao partido dos militares como à Irmandade Muçulmana. É emblemático o caso de Alaa Abd El-Fattah, blogueiro egípcio protagonista dos dois dias históricos de 2011, na Praça Tahrir, e que se encontra preso desde novembro do ano passado por suas denúncias dos métodos pouco ortodoxos que os militares usaram em diferentes ocasiões. Alaa tem um recorde único: primeiro foi preso por Mubarak, depois por Morsi e agora pelo general Abdel Fattah al Sisi.
Trata-se de um caso isolado? No Cairo há muitos que dizem o contrário, e que sustentam que há muitos jovens liberais que não suportariam o retorno do “homem forte” do exército.
A revista copta “Watani” reconheceu que o número dos 36% de eleitores que votaram no referendo constitucional fica muito abaixo das expectativas. “Devemos trabalhar para obter a confiança dos que não votaram”, escreveu em um editorial o diretor Youssef Siddhom. Trata-se de um trabalho pouco fácil em um país no qual a divisão continua sendo tão profunda. E isso poderia ser conquistado se, de alguma maneira, os coptas conseguissem evitar ficar amordaçados em um abraço asfixiante com os militares.
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Os coptas, o general Abdel Fattah al Sisi e a divisão no Egito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU