01 Dezembro 2015
Nesta semana, começará a funcionar no Brasil um novo serviço de compartilhamento de viagens de carro entre cidades, uma espécie de Uber de caronas. A startup francesa BlaBlaCar, com mais de 20 milhões de usuários em 19 países, chega ao Brasil com a proposta de conectar motoristas com espaço sobrando no carro a viajantes indo para o mesmo destino a fim de pegar uma carona e dividir os custos do trajeto. Em outras palavras, de “rachar” a gasolina e os pedágios.
A reportagem é de Heloísa Mendonça, publicada por El País, 29-11-2015.
No site brasileiro da startup já há, inclusive, preços sugeridos de viagens bastante procuradas pelos brasileiros. Ir para o Rio de Janeiro, por exemplo, saindo de São Paulo, pode custar para um caroneiro cerca de 60 reais. O valor é cerca de 24 reais mais barato que o de uma passagem de ônibus na classe convencional que realiza o mesmo percurso. O que revela que, em tempos de crise econômica, a ideia pode acabar funcionando bem no país por ser um opção mais em conta para o bolso do usuário. Se o sucesso da BlaBlaCar for grande como em outros lugares, há chances também do serviço gerar uma nova polêmica no setor de transportes. É que as empresas que fazem o serviço entre cidades, como as de ônibus rodoviários, podem reagir, assim como aconteceu com o aplicativo Uber, que hoje está em pé de guerra com os taxistas.
A BlaBlaCar já enfrenta uma batalha judicial na Espanha, um dos países com maior número de usuários da plataforma de carona. Lá, o sindicato de transportes de ônibus Confebús processou a startup por competência desleal e pediu que a plataforma seja suspensa. A empresa alega, no entanto, que os serviços são diferentes e que é uma mera rede social que atua como intermediária e não como uma empresa de transporte.
Uma longa viagem
A BlaBlaCar nasceu em 2006, produto de uma ideia do ex-empregado da NASA Frédéric Mazzella de utilizar uma plataforma de internet para facilitar o contato das pessoas que queriam compartilhar viagens de longas distâncias.
Entre 2006 e 2008, a equipe fundadora, formada por sete pessoas, investe na empresa 100 mil euros para colocá-la funcionado.
Em 2009, a companhia fica concentrada em três sócios: Mazzella, Francis Nappez y Nicolas Brusson.
A partir de 2009, a startup começa sua expansão fora da França. A Espanha é o primeiro, em 2010, a entrar no sistema. Hoje, a BlaBlaCar está em 19 países. Com o Brasil, serão 20.
Em 2011, supera o milhão de usuários em Espanha. Hoje tem 20 milhões de usuários e 360 empregados, a maioria deles na central de Paris.
O sistema do BlaBlaCar é simples: quem vai viajar de carro e tem lugares livres no veículo publica na plataforma com antecedência os detalhes do trajeto como ponto de partida e chegada, data e hora. Já os passageiros procuram os condutores que vão para o mesmo destino e reservam um assento. Os dois combinam os detalhes da viagem e pronto. É o condutor quem decide se aceita o passageiro ou não, mas a BlaBlaCar sugere um valor para cada trajeto levando em consideração os gastos com pedágio e gasolina. A ideia não é que o condutor lucre, apenas que ele divida os custos do trajeto e que o passageiro tenha uma viagem barata, mesmo quando decide fazê-la em cima da hora. As viagens são de 340 km em média.
No perfil, os usuários também podem se definir como Bla, BlaBla ou BlaBlaBla, de acordo com a sua vontade de conversar durante a viagem, daí surgiu o nome da empresa. O sucesso da plataforma mundo afora, principalmente na Europa, mostra que, em tempos mais austeros, economizar pesa mais que a desconfiança de pegar uma carona com uma pessoa que os usuários só viram através de um perfil no site. Sobre os riscos envolvidos de viajar com um desconhecido, a empresa explica que todos os membros têm e-mail e telefone verificados, além de perfil com informações como foto, veículo e avaliações de outros membros.
O modelo de negócios é parecido com o Airbnb, a plataforma que coloca em contato quem quer encontrar uma hospedagem e quem tem uma acomodação para alugar. A BlaBlaCar fica com uma fatia de cerca de 10% de cada transação mas, no caso do Brasil, a assessoria de imprensa da empresa não informou quanto será essa comissão.
Em plena expansão, a empresa tem duplicado a cada ano seus funcionários. Em setembro, a BlaBlaCar captou cerca de 176 milhões de euros, elevando seu valor de mercado para 1,6 bilhão de euros, o que faz da companhia uma das poucas startups de tecnologia europeias a superar a casa do bilhão.
Para o fundador e presidente da empresa, Frédéric Mazzella, o segredo do sucesso foi ter trabalhado bem em uma boa ideia. A dele surgiu na época do Natal. Mazella precisava ir para as casas do pais, que ficava longe de Paris, mas não encontrava passagens de trem nem de ônibus. Sem outra opção, acabou alugando um carro. No trajeto, comprovou a quantidade de pessoas que viajavam na direção do seu destino e como a grande maioria estava sozinha. Não teve dúvidas que um sistema de caronas facilitaria a vida de muitas pessoas.
"Quando você consegue a ideia se torna um pouco paranoico. O importante é não ficar paralisado e atuar rápido, como quando o jogador de rugby agarra a bola. Precisa começar a correr", afirmou Mazzella em uma entrevista dada ao EL PAÍS na sede em Paris em outubro.
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Sucesso na Europa da crise, chega ao Brasil BlaBlaCar, o “Uber da carona” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU