27 Outubro 2015
Acusações de abuso físico, psicológico e sexual por parte de líderes de um movimento católico fundado na década de 1970 levaram o grupo a prometer uma investigação interna.
A reportagem é de Barbara Fraser, publicada por Catholic News Service, 23-10-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
As alegações estão descritas em um novo livro, intitulado “Mitad Monjes, Mitad Soldados”, escrito por Pedro Salinas, ex-membro do Sadalitium Christianae Vitae, que entrevistou cerca de 30 outros ex-integrantes.
Os entrevistados, alguns dos quais eram menores quando se juntaram ao grupo e se mudaram para uma de suas casas de formação, recordaram os exercícios físicos ao estilo militar e o afastamento de amigos e familiares. Alguns disseram que os diretores espirituais lhes ordenavam a se despir e então tocavam os seus corpos, havendo vários relatos de estupro. Um dos acusados é o fundador da organização, Luis Fernando Figari.
Figari renunciou como presidente da Sodalitium no fim de 2010, depois que a organização retirou a sua proposta de beatificação do seu ex-vigário geral, hoje falecido, German Doig, na esteira de acusações de abusos sexuais.
Após uma entrevista televisionada com Salinas, no dia 18 de outubro, a organização emitiu um comunicado pedindo perdão a “todo aqueles que sofreram por causa de ações ou omissões cometidas por alguns membros de nossa comunidade” e oferecendo “a nossa disposição a escutar e ajudar”.
O comunicado fez notar que Figari vinha vivendo numa comunidade da Sodalitium, em Roma, sem envolvimento algum na coordenação da organização desde 2010. Após receber uma “série de testemunhos”, o atual Superior ordenou-lhe a “intensificar esta vida de retiro” em 2014, lê-se no texto divulgado.
Segundo os registros imigratórios reproduzidos na imprensa peruana, Figari tem visitado o Peru regularmente desde 2010.
Na quinta-feira, dia em que Salinas e a jornalista peruana Paola Ugaz, quem ajudou na pesquisa, apresentaram o livro publicamente, Alessandro Moroni Llabres, Superior Geral da Sodalitium, emitiu um segundo comunicado, chamando o primeiro de “inadequado”.
“Causa dor e vergonha a nós de maneira profunda que tais atos possam ter sido cometidos por Luis Fernando Figari, fundador e por muitos anos também Superior Geral de nossa comunidade”, diz o comunicado. “Nós condenamos os atos que possam ter ocorrido, especialmente os de abuso sexual”.
O texto divulgado notou que Figari sustenta ser inocente, “mas que não quis fazer declarações públicas, o que seria a sua obrigação moral”.
No comunicado, Moroni disse que a organização estava ciente das queixas que haviam sido registradas nos tribunais eclesiásticos. Falou que a Sodalitium estava comprometida em “investigar exaustivamente” as acusações de abuso e que iria cooperar com as autoridades civis e religiosas.
A promotoria peruana anunciou que estava abrindo uma investigação. Embora o estatuto de limitações para crimes sexuais tenha, provavelmente, se expirado para os casos descritos no livro de Salinas, se casos mais recentes foram encontrados, eles poderão estar sujeitos a serem processados.
Salinas disse vários membros da Sodalitium haviam registrado queixa junto ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Lima. Em nota emitida na quarta-feira, este tribunal afirmou não ter a autoridade para investigar casos envolvendo sociedades de vida apostólica, tais como a Sodalitium, e que havia encaminhado as acusações “aos departamentos vaticanos apropriados”.
As alegações contra a Sodalitium vieram na sequência dos escândalos envolvendo Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo no México, e do padre chileno Fernando Karadima.
O Papa Francisco tem defendido Dom Juan Barros Madrid, da Diocese de Osorno, Chile, contra os manifestantes que o acusam de ter acobertado casos envolvendo Karadima.
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Movimento católico peruano promete investigação após alegações de abuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU