20 Outubro 2015
Tolstói tinha enquadrado o problema em uma frase genial. "Todas as famílias felizes se assemelham umas às outras; cada família infeliz é infeliz a seu modo." Sim, porque seccionar a família e os seus problemas, apresentá-la em cada situação, colocá-la nos diversos contextos culturais e, além disso, conseguir identificar um remédio válido para cada núcleo doente é uma obra que não se apresenta tão fácil, dado o aumento exponencial das separações e a queda dos casamentos católicos.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 17-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa sexta-feira, no Sínodo sobre a família, era o dia das intervenções dos auditores, os peritos da matéria: alguns casais e, além disso, uma dezena de mulheres. A infelicidade do casal foi o ponto comum em muitas intervenções. As projeções ideais da família católica perfeita, ícone de santidade, não podiam deixar de se defrontar com as enormes dificuldades postas pela cotidianidade.
Os testemunhos
As auditoras, especialistas no campo – professoras, psicólogas, terapeutas – se revezaram no microfone, e o papa, presente na Aula, não perdeu uma palavra das suas intervenções, prestando atenção às nuances de um quadro variado, composto por luzes, mas também por sombras. Porque cada família, no fundo, continua infeliz à sua própria maneira.
Foram destacadas muitas realidades para a assembleia. Em muitas regiões, a cultura machista impede que a mulher seja até protegida. E, assim, os núcleos familiares acabam escondendo um inferno, com todos os tipos de abuso e de violência. Nas zonas mais pobres, persiste o tráfico de seres humanos. As primeiras vítimas são as próprias mulheres, junto com as crianças.
A historiadora Lucetta Scaraffia, editora do caderno mensal do L'Osservatore intitulado Donna Chiesa Mondo, ao contrário, foi intérprete de um grito incomum, jamais ouvido em uma Aula sinodal, pedindo diretamente ao papa que escute mais o mundo feminino, porque só "as mulheres são as grandes especialistas em família". Como se dissesse que elas já não podem mais ser excluídas da análise, como se fez no passado.
Depois, ela levantou objeções sobre a adoção de modelos familiares decididamente abstratos, pouco relacionados com a realidade. Esquemas que, no fundo, fazem referência a núcleos perfeitos, hipotéticos, limitadamente relacionados com a vida de todos os dias, feita de confrontos, de dificuldades, de exclusões, de erros, de fadigas. Ninguém é perfeito, imagine uma família. "A Igreja precisa ouvir as mulheres."
O Papa Bergoglio, de vez em quando, anotava algo em um pedaço de papel. Assentia com a cabeça. Também se fez presente o rosto sofredor das mães solteiras, jovens, talvez nem casadas, que, com grande coragem, se encarregam da criação dos filhos. Famílias sofredoras e distantes do clichê da família perfeita que, nesses dias, foi o refrão dos Padres sinodais.
Tanto que um jornalista espanhol, durante uma das primeiras coletivas de imprensa, perguntou com que base uma assembleia de Padres sinodais, célibes e com voto de castidade, podia pensar em analisar a fundo os problemas de um casal de esposos que lida com a existência real, o crescimento dos filhos, os altos e baixos conjugais. "O que vocês podem saber?"
A resposta dada ao jornalista foi uma pausa de silêncio um pouco envergonhado, quebrado pelas palavras de um bispo. "Mas nós também fomos filhos muito tempo atrás."
O debate já se encaminha para a conclusão. No próximo sábado, se votará. O ponto nodal da comunhão aos divorciados recasados permanece no centro da disputa. A Aula também voltou a se dividir nessa sexta-feira.
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As mulheres agitam o Sínodo: "Somos nós as grandes especialistas em família" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU