30 Setembro 2015
Ao defender que pessoas circulem livremente pelo globo, a presidente Dilma Rousseff deu um exemplo a países europeus que têm fechado a fronteiras a refugiados do Oriente Médio e norte da África, diz à BBC Brasil o representante do Acnur (agência da ONU para refugiados) no Brasil, Andrés Ramirez.
A reportagem é de João Fellet, publicada por BBC Brasil, 28-09-2015.
Em seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta segunda-feira (28), Dilma disse que "em um mundo onde circulam, livremente, mercadorias, capitais, informações e ideias, é absurdo impedir o livre trânsito de pessoas".
"Recebemos sírios, haitianos, homens e mulheres de todo o mundo, assim como abrigamos, há mais de um século, milhões de europeus, árabes e asiáticos. Estamos abertos, de braços abertos para receber refugiados", afirmou a presidente.
Para Ramirez, Dilma fez clara alusão a nações europeias que têm restringido a circulação de refugiados.
"Ela dá um recado a países europeus e, ao mesmo tempo, lidera pelo exemplo ao dizer que o Brasil vai manter suas portas abertas", ele afirma.
No entanto, diz Ramirez, apesar da forte mensagem política de Dilma sobre os refugiados, não é possível saber se a fala será acompanhada por mais recursos para receber e integrar essa população.
Nos últimos anos, milhares de imigrantes e refugiados que ingressaram no Brasil pela Amazônia passaram por abrigos sujos e lotados.
Em São Paulo, onde essa população se concentra, o principal abrigo para estrangeiros é mantido pela Igreja Católica.
Mas o representante do Acnur diz que as declarações da presidente tranquilizam refugiados que foram ou querem chegar ao Brasil, ao sinalizar que o país manterá sua política de abertura.
O discurso também fará com que mais refugiados saibam que o Brasil aceita recebê-los, diz Ramirez.
Segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça, o fluxo de refugiados ao Brasil tem aumentado desde 2011.
Hoje o país abriga 7.289 refugiados de 81 nacionalidades distintas. Os principais grupos provêm da Síria, Colômbia, Angola e República Democrática do Congo.
Segundo o Conare, entre 2011 e agosto deste ano, 2.077 sírios receberam o status de refugiado no Brasil.
O número é superior ao dos Estados Unidos (1.243) e de países no sul da Europa que estão na rota de refugiados e migrantes que buscam as nações mais desenvolvidas do continente.
Recursos para integração
Ramirez, do Acnur, também comentou a proposta do professor da FGV-SP Oliver Stuenkel, que em entrevista à BBC Brasil sugeriu que o país acolha 50 mil refugiados sírios.
Segundo Stuenkel, o governo poderia propor a países que não querem receber refugiados um esquema para financiar o acolhimento deles no Brasil.
O representante do Acnur diz que há precedentes para uma negociação desse tipo, já que o Brasil já recebeu refugiados colombianos que viviam no Equador.
"Foi um gesto de solidariedade com o Equador, um país com 3 milhões de habitantes e 60 mil refugiados reconhecidos."
"Com certeza isso no futuro poderia ser ampliado para outras nacionalidades extracontinentais", diz Ramirez.
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"Dilma dá exemplo à Europa ao abrir portas a refugiados", diz Acnur - Instituto Humanitas Unisinos - IHU