Por: André | 12 Fevereiro 2015
O filósofo e teólogo argentino Juan Carlos Scannone (foto) foi professor de grego clássico e de literatura do Papa Francisco e conviveu com ele 10 anos. Conhece-o desde jovem e, além disso, faz parte da mesma corrente teológica, a Teologia do Povo, na qual se enraíza Bergoglio. A partir dela se entende melhor “a reforma da Igreja que Francisco está fazendo” que, apesar das “resistências que está encontrando”, faz com que “a Igreja volte a ser vista com enorme simpatia”.
Fonte: http://bit.ly/1uBHmAY |
A reportagem é de José Manuel Vidal e publicada no sítio Religión Digital, 10-02-2015. A tradução é de André Langer.
Convidado pelo centro Entreparéntesis e a revista Razón y Fe, da Companhia de Jesus na Espanha, dirigidas pelo jesuíta Daniel Izuzquiza, Scannone encontra-se em Madri, para dar várias conferências, e compartilhou com os meios um café da manhã de trabalho. A primeira coisa que quis deixar claro é que as reformas do Papa Francisco e muitas das coisas que diz e faz deitam suas raízes na Teologia do Povo, considerada um ramo da Teologia da Libertação com acentos próprios.
Em síntese, trata-se de uma teologia que se baseia nas categorias de povo, piedade popular e opção preferencial pelos pobres. Seus máximos expoentes foram Lucio Gera, Rafael Tello e Justino O’Farrell, junto com o próprio Juan Carlos Scannone. Esses são os autores de cabeceira e os máximos inspiradores do Papa Francisco.
Essa é também a teologia que sustenta a Evangelli Gaudium de Francisco e que, segundo Scannone, se vê fielmente retratada na figura geométrica do poliedro. “Para o Papa, a figura não é a esfera, mas o poliedro, onde se respeitam e assumem as diferenças”, explica o professor jesuíta. Essa é a razão pela qual “fala de multiformidade e de harmonia multiforme, onde cada pessoa e cada setor tem de contribuir”. Ou, dito de outra maneira, “Francisco aposta na harmonia na diferença”.
A Teologia do Povo é um ramo da Teologia da Libertação, diferente da apadrinhada por Gustavo Gutiérrez, mas muito próxima em muitas coisas. Por isso, Scannone assegurou que a teologia do dominicano peruano nunca foi condenada pela Igreja. Mais ainda, foi admitida pelo então cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que, em um encontro na Alemanha, chegou a abraçar o Gustavo Gutiérrez e a dizer publicamente que assinava sua teologia em sua totalidade.
“O que Roma condenou foi a teologia mais radical de Hugo Assmann, que utilizava a luta de classes como princípio hermenêutico determinante, mas não as demais Teologias da Libertação”, insiste Scannone.
O Papa prioriza o tempo sobre o espaço
Francisco, a quem Scannone definiu como “um pastor que teologiza” a partir da Teologia do Povo, está encontrando “enormes resistências no Vaticano” às suas reformas, das quais “nem todos gostam”. E isso que a única coisa que Francisco quer é “reformar a Igreja no sentido evangélico”.
Apesar das resistências, o Papa segue em frente, apoiando-se no Povo de Deus e dando prioridade ao tempo sobre o espaço. Por exemplo, no Sínodo, onde “houve uma enorme liberdade e diálogo profundo”, e onde a dinâmica papal segue tendo o tempo como prioridade “para amadurecer as coisas e ouvir a todos”.
Scannone está convencido de que as reformas de Francisco são “obra do Espírito Santo” e que, de fato, “as coisas já mudaram, e muito”. De tal forma que “se algo acontecesse ao Papa, a situação na Igreja nunca voltaria a ser como antes”.
Um sinal evidente de que Francisco mudou o rosto da Igreja está em que, segundo o professor jesuíta, “o mundo está enlouquecido com o Papa, a Igreja volta a ser vista com simpatia em todas as partes e os espíritos estão se movendo, como dizia Santo Inácio”. Sem que isso signifique “uma emenda à totalidade dos dois pontificados anteriores de João Paulo II e de Bento XVI”. Harmonia na diferença, chave da primavera do Papa Bergoglio.
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As reformas de Francisco e seus discursos têm suas raízes na 'Teologia del Pueblo', diz Juan Carlos Scannone - Instituto Humanitas Unisinos - IHU