08 Janeiro 2015
L’Avvenire sai a campo em defesa do Papa. Um Francisco que, a despeito das viradas, começa a ser circundado pelas críticas e mordido pelos lobos. Com um editorial de seu diretor, Marco Tarquinio, com título “A barca de Pedro, os “contra-remadores”, e a confiança em Francisco”, o cotidiano dos bispos desencadeia o último ataque. “Belas as cartas sobre a rispidez saída pré-natalícia contra o nosso Papa – escreve Tarquinio. Um sinal que merece resposta, embora aqui polêmicas tão deselegantes e conduzidas de modo capcioso e deformante não encontrem eco. Em cena permaneceram as verdadeiras palavras e os verdadeiros gestos de Francisco. O Papa da Igreja “pobre para os pobres” e “hospital de campo” no nosso mundo frequentemente feroz com os feridos e os mais débeis”. Mas, quem são os “contra-remadores”? Explica-o um dos leitores de Avvenire: quem “faz publicidade a favor daqueles que remam contra”.
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicado pelo jornal La Repubblica, 03-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
O ataque tinha chegado aos 24 de dezembro, no Corriere della Sera, da parte do escritor Vittorio Messori. “Um gesto combinado – escreve Tarquinio – para fazer rumor com a pretensão de “marcar” o Natal”. Messori de fato se tinha lançado numa requisitória contra Jorge Bergoglio, falando de uma “confissão que voluntariamente teria deixado de fazer, se não me tivesse sido requerida”, definindo Francisco um Papa “imprevisível, a ponto de demover também algum cardeal que tinha estado entre os seus eleitores”. No artigo, acrescentava: “Imprevisibilidade que continua perturbando a tranquilidade do católico mediano”.
Belas, mas poucas as cartas dos leitores publicadas em Avvenire. Muitas, no entanto, as reações que chegam agora da base, de toda a Itália. Do movimento “nós somos Igreja” ao Centro de Estudos “Edith Stein” de Lanciano, de “Uma Igreja de mais vozes” de Ronco di Cossato Biella à Comunidade Le Piagge Firenze (As plagas Florença), e depois a Coordenação das Teólogas Italianas, a Comunidade Michea de Nápoles, o grupo Impegno Missione de Casavatore (Nápoles) com o missionário comboniano Alex Zanotelli, as Comunidades cristãs de base-Itália, de S. Paulo-Roma, de Oregina-Genova, de Norte Milão, a revista “Padres Operários”, o Centro Balducci - Zugliano (Udine). Todos em defesa de uma coleta de assinaturas reunidas sob o endereço firmiamo.it/fermiamo gliattacchia papa Francesco. Entre os primeiros que assinam o apelo, dom Luigi Ciotti, representante do Gruppo Abele e de Libera. Diz Vittorio Bellavite, coordenador de “Noi siamo Chiesa” [Nós somos Igreja]: “Esta tomada de posição vai bem além da polêmica com Messori. Diz respeito à situação geral na Igreja e às difusas, quase sempre silenciosas, hostilidades em relação ao Papa Francisco”. Explica dom Paolo Farinella, pároco da Igreja de San Torpete, nos cantões de Genova, e autor da iniciativa: “O ataque é mirado e frontal, “requerido”, uma verdadeira declaração de guerra, ameaçadora na substância de uma advertência de cunho mafioso: o Papa é perigoso. É tempo que volte a fazer o Sumo Pontífice e deixe governar a Cúria. O autor não cita os nomes dos “mandantes”, mas se coloca em segurança dizendo que sua intervenção lhe “foi requerida”. Dom Farinella argumenta, e identifica no “ataque frontal de cinco cardeais (Müller, Burke, Brandmüller, Caffara e De Paolis)” o que reforçou “o front dos adversários que veem no Papa Francisco “um perigo” que é preciso bloquear a todo custo”.
O ponto é que o nó da Igreja reformista de Bergoglio chegou ao limite. Ou se dissolve ou se corta. Após a clamorosa renúncia ao pontificado de Bento XVI, o súbito aparecimento de um Pontífice argentino, com o nome desafiador de Francisco, confundiu os fiéis e a hierarquia. As suas palavras, as tantas iniciativas, até os símbolos adotados (calçados de andador, bolsa de trabalho preta, cruz de prata simples) conquistaram os fiéis. Mas, as reações na Cúria, sobretudo após as bastonadas de Bergoglio sobre as 15 doenças que a infestam, são as mais diversas. Da Sala Clementina alguns cardeais saíram outro dia de cabeça baixa, com as orelhas que tiniam.
E agora a lista dos inimigos do Papa “vindo do fim do mundo” começa a fazer-se plena. Primeiro começou a tagarelice sobre o “Papa estranho”. Depois, ante o claro ímpeto reformista, o diálogo entretido com os não crentes e ateus, no Sínodo de outubro com as aberturas aos divorciados recasados e aos homossexuais, as dúvidas dos conservadores sobre Bergoglio acabaram por nutrir um dossiê encorpado. Uma prática que se robustece nos últimos dias.
Aos 13 de dezembro, no complexo de S. Spirito in Sassia, a dois minutos da Praça São Pedro, houve uma convenção com o título “A crise da família e o caso dos Franciscanos da Imaculada”. Uma reunião na qual a divisão do Instituto dos frades de batina azul, agora comissariados por Francisco, apareceu compactando o front conservador. Os relatórios falavam de “processo desestabilizador entrou na Igreja, e o Sínodo dos Bispos o mostrou de modo evidente” (Claudio Circelli), o de “divórcio, aborto, eutanásia, etapas desta inexorável marcha anti-humana, nos encontramos ante um plano de matriz totalitária” (Elizabetta Frezza). Enfim, “diálogo acolhida amor paz são palavras líquidas mutuadas pela modernidade, que não significam absolutamente nada” (Piero Mainardi).
Todas estocadas contra o Papa. Comenta o professor Mario Castellano, católico e atento observador das vivências do Instituto comissariado: “O tradicionalismo, nas suas várias expressões, tanto aquelas ainda colocadas na Igreja, como aquelas lefebvrianas, que põem em discussão o Magistério a partir do Concílio, seja enfim aquelas a favor da sede-vacante, pela qual é negada a Autoridade papal, escolheu como terreno o conflito dos Frades Franciscanos da Imaculada com o objetivo de minar a unidade do Catolicismo”.
É de 12 de dezembro o artigo de Antonio Socci em “Libero”, no qual se fala de Bergoglio como “ídolo da mídia, dos membros do Parlamento europeu”, mas, sobretudo, “da esquerda no Ocidente”. E não é por acaso que a primeira página de Le Nouvel Observateur de 11 de dezembro fosse dedicada ao Pontífice, sob o título: “Quem quer a pele de Francisco?” Profetiza em seu livro recém saído na França (“Jusqu’où ira François?“) o vaticanista de Le Figaro, Jean-MarieGuénois: “Terá êxito Francisco?“
De certo ponto de vista, este Papa agitador já teve êxito. Se tudo parasse amanhã, o chute dado ao formigueiro deixará uma marca duradoura. De agora em diante, nada será como antes. Amém.
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Todos os Inimigos do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU