04 Fevereiro 2015
“70% dos nem-nem estão entre as famílias representadas dentro dos 40% mais pobres”, constata o pesquisador.
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E se o jovem, além de ser pobre, for mulher e tiver alguma deficiência o quadro ainda piora. “A taxa maior (de nem-nem) está entre as jovens até 29. São mulheres que estão nessa condição ou porque se casou, ou porque teve um filho precocemente ou teve um filho na idade não precoce e saiu do mercado de trabalho. (...) Outro fator que ajuda a compor essa taxa são pessoas com algum tipo de deficiência física ou com algum tipo de doença. Isso dificulta que a pessoa tenha acesso às escolas e ao mercado de trabalho. O problema de acessibilidade das escolas do Brasil ainda é grande”, avalia Cardoso.
A reversão desse quadro não é tarefa simples. Claro, requer ações mais incisivas do Estado na melhora e qualificação da escola, principalmente pública. Pagar melhor professores e equipar melhor as escolas são tarefas dos governos. Mas a sociedade também precisa ter sua parcela de contribuição. Muitas famílias, diante da falta de motivação com o ensino e da situação financeira, acabam achando melhor o jovem entrar de vez no mercado de trabalho e deixar os estudos. Sem essa formação, acaba em subemprego e ainda logo pode perdê-lo, entrando na cadeia nem-nem. É o que Adalberto Cardoso chama de “cultura de desvalorização da escola como cultura de qualificação profissional”. Na visão dele, quebrar essa cultura é colocar a escola de qualidade como um trampolim para uma boa inserção do jovem no mercado de trabalho.
Adalberto Moreira Cardoso é doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo - USP. Além disso, atua como professor e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ e pesquisador associado do Centro Brasileiro de Análises e Planejamento e do Warwick Institute for Employment Research.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Segundo o IBGE, um quinto dos jovens brasileiros é da geração nem-nem. A que o senhor atribui esse percentual?
Adalberto Cardoso - Na verdade, a proporção é um pouco menor. Um quinto foi no Censo de 2010. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Pnad de 2013 trouxe uma taxa um pouco menor, de 16 por cento. De todo o jeito, não há uma causa apenas. São muitas. A grande maioria desses jovens nem-nem é de mulheres. Agora em 2013 era de 74%, dos jovens na faixa de 16 a 29 anos. Então, a taxa maior está entre as jovens de 23 e 24 anos, até 29. São mulheres que estão nessa condição ou porque se casou, ou porque teve um filho precocemente ou teve um filho na idade não precoce e saiu do mercado de trabalho. Não necessariamente isso configura um problema social. Pode ser simplesmente a reprodução de um padrão marital do Brasil, que é antigo. Você tem papeis femininos assumidos pelas mulheres. Isso mudou muito nos últimos anos, pois você tem cada vez menos mulheres na condição nem-nem porque tiveram filho ou porque casaram. Há um processo de modernização da sociedade brasileira em que as mulheres ficam mais tempo na escola e também entram mais cedo no mercado de trabalho. Então, essa taxa de mulher nem-nem por causa de filho ou casamento vem caindo.
Outra causa é que as mulheres que tem filho muito precocemente, ainda na adolescência 14, 15, 16 anos. Por exemplo, uma garota de 16 anos que tem um filho. A chance de ela ser nem-nem é de 80%. Isso contribui para compor essa taxa. Essa mulher sai da escola muito cedo, não entra no mercado de trabalho porque está cuidando do filho. Tem ainda os casos de jovens de famílias muito pobres que estão em casa cuidando de irmãos ou dos pais doentes. São famílias pequenas que não tem outra forma de cuidar dos seus, doentes ou crianças, e que obriga um dos seus filhos, em geral a mulher jovem, a assumir a tarefa. Essa pessoa também sai da escola e não está no mercado de trabalho.
Outro fator que ajuda a compor essa taxa são pessoas com algum tipo de deficiência física ou com algum tipo de doença. Gente com problemas estruturais de fala, audição, de mobilidade. Isso dificulta que a pessoa tenha acesso às escolas e ao mercado de trabalho. O problema de acessibilidade das escolas do Brasil ainda é grande. Escolas para surdos e mudos existem, mas não são simples e nem de fácil acesso, principalmente para famílias mais pobres. Um dado importante é que 70% dos nem-nens estão entre as famílias representadas dentro dos 40% mais pobres.
IHU On-Line - Questões relacionadas a etnia ou classe social impactam nesse dado?
Adalberto Cardoso - A renda é um fato importante. E está ficando cada vez mais importante. A renda familiar explica hoje mais do que qualquer outra coisa. A renda per capita da família onde há o nem-nem tem um efeito maior do que todos os outros fatores juntos. Entre as famílias mais pobres, a chance de um jovem de 16 anos ser nem-nem é muito maior do que nas famílias mais ricas. Então, a classe social conta, especialmente para os muito jovens. Até porque também os jovens de famílias mais pobres deixam a escola muito cedo para trabalhar, aos 16, 17 anos, em geral em empego muito ruim e precário, quase sempre no setor informal. O problema é que essa pessoa, em geral de famílias mais pobres, deixou a escola para ter que trabalhar e perdeu seu emprego. Vai continuar nessa roda viva de empregos precários, baixa renda. E ao longo da sua vida isso vai ter um efeito muito grande. Isso quer dizer que a situação de nem-nem é um elemento importante na produção de desigualdade em longo prazo, porque os jovens que são nem-nem numa cerca idade, sofrerão esse efeito para o resto da vida. Essas pessoas não se qualificaram de maneira adequada. Pode ser que voltem a se qualificar mais tarde, mas aí já estarão numa idade ruim de competição com as pessoas que não deixaram a escola. Elas vão ter condições de competição muito pior. Isso ajuda a reproduzir uma parte da desigualdade brasileira.
“Jovens de famílias mais pobres deixam a escola muito cedo para trabalhar em geral em empego muito ruim e precário”
IHU On-Line - O senhor chama atenção para os jovens que tem algum tipo de deficiência, mas que as escolas não têm condições de suprir suas necessidades e dar uma educação de maior qualidade. No entanto, as empresas parecem sofrer desse mesmo mal. Não?
Adalberto Cardoso - Também. Não só as empresas, mas também as cidades brasileiras não são amigáveis para pessoas com deficiência física, principalmente com dificuldade de locomoção. Você não tem passeios bem adaptados para isso. Algumas grandes cidades tem isso, mas não por toda a cidade. E cidades menores do Brasil não têm mesmo. Então, as pessoas, em geral, dependem de outras pessoas para levar elas para o trabalho, pois não tem transporte público adaptado para isso. O que quer dizer que, entre as famílias mais pobres, a chance de a pessoa ser nem-nem é muito maior, porque as famílias mais ricas podem colocar enfermeiros, cuidadores, podem pagar escolas especiais. O ensino público em geral não tem qualidades de acessibilidade. Isso é uma barreira para uma parte grande das pessoas com deficiências.
IHU On-Line - A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE diz que esse fenômeno dos nem-nem também ocorre em outros países. Em quais? E quais as diferenças com a situação brasileira?
Adalberto Cardoso - Os dados a OCDE mostram que o fenômeno é mundial. Os dados do Brasil estão um pouco acima da médica mundial de 2010. Eu comparei dados do Censo com os dados da OCDE. E o Brasil estava, em 2010, com 20% e a média mundial é de 16%. Só que 2010 foi um ano em que houve pico da crise internacional no mundo inteiro. E os países da Europa foram os que mais sofreram. Mas a diferença é que houve um impacto conjuntural importante sobre uma geração específica de jovens. E é por isso que lá faz sentido você falar em geração nem-nem. No Brasil, isso é estrutural. Não é uma geração.
Não podemos falar de geração nem-nem, mas de gerações. Porque, todos os anos, se pegar a Pnad desde sempre, você vai ter uma proporção que varia de 14 a 20% de jovens que estão nessa situação. Então, não é uma situação específica conjuntural. É estrutural, que junta problemas na escola no Brasil com problemas do mercado de trabalho. Até certa idade, 22 anos, a “culpa” é do sistema educacional. Depois disso, são problemas relativos a baixa qualificação das pessoas que deixaram a escola muito cedo, com condições precárias do mercado de trabalho.
IHU On-Line - A OCDC também diz que, na maioria dos países, a situação é transitória. Ou seja, há aumento no índice e depois o seu declínio. O que precisa ser feito para resolver isso Brasil? Há uma solução a médio ou longo prazo?
Adalberto Cardoso - Assim como não há uma única causa, as medidas são muitas. E isso para populações diferentes. Por exemplo, os deficientes. É preciso condições de acessibilidade no Ensino Público. E isso para todos os tipos problemas de deficiência. Você precisa de políticas específicas para evitar que jovens tenham filho muito cedo. As escolas tem que ter educação sexual. Teria de ser parte obrigatória de escola pública fundamental. Não resolveria o problema, mas ajudaria.
Foto: fdb.org.br
Investimento na escola pública
Uma questão importante é a melhoria da escola pública. Uma parte dos jovens deixa a escola para trabalhar porque a escola é uma ruim. Ou, ainda, porque ele vai olhar para o lado e ver filhos de famílias mais ricas estudando em escolas de qualidade e sabe que não ter como competir com essas pessoas. Como vai passar no vestibular? Então, não investe na sua formação porque sabe que não vai entrar na universidade. Políticas de melhorias no Ensino Fundamental e Médio, mas também políticas de acesso, principalmente dos mais pobres, a universidade são importantes. Essas políticas existem hoje no Brasil e já está demonstrado que isso tem mudado as perspectivas do jovem com relação ao Ensino Médio. Mesmo que a qualidade do Ensino Médio seja considerada ruim pelos jovens, eles permanecem na escola porque tem perspectiva de entrar numa universidade. Ele vai ficar no Ensino Médio para tentar, de alguma maneira, entrar na universidade. Seja via Exame Nacional do Ensino Médio - Enem, ou outros programas de políticas de financiamento de ensino privado. Essa também é uma política correta que está sendo implementada no Brasil.
Desafio maior com realção às mulheres
No caso da proporção maior dos nem-nem, que são as mulheres de 22 a 24 anos, não tem o que fazer. Isso é fruto de uma dinâmica populacional que resulta de uma escolha individual de famílias ou das próprias mulheres e só o tempo muda. Felizmente, há muitos casos em que as mulheres ficam na escola mais tempo do que os homens nos dias de hoje. Quer dizer, você tem mais mulheres nem-nem do que homens. E as mulheres que estudam ficam mais tempo na escola.
A escolaridade das mulheres já é mais alta do que a dos homens há algum tempo no Brasil. Isso vai aumentando, é um processo de mudança cultural. As mulheres estão ficando mais tempo na escola e ao entrar no mercado de trabalho conseguem se colocar em situação mais vantajosa. Ainda que o salário delas continue menor do que o dos homens.
A questão para a mulher é que o filho, mesmo que ocorra no período da juventude, até os 29 anos, vai tirá-la do mercado de trabalho. A menos que ela seja de família rica ou que tenha um companheiro que ajude ou que seja capaz de colocar um babá para que ela tenha condições de sair por um período curto. Sai para licença maternidade e depois volta para o trabalho. Mas, no geral, o filho interrompe a carreira das meninas de maneira mais intensa. Isso se ocorre antes dos 29 anos contribui para constituir essa taxa nem-nem. E sobre isso não há o que fazer em termos de política.
IHU On-Line - A nova equipe econômica do segundo Governo Dilma Rousseff já acenou com aumento de impostos e outras medidas e ajustes com o propósito de equalizar a economia. Analistas preveem um 2015 muito difícil para o trabalho e renda. Como avalia essa questão? E como imagina que vai impactar nos nossos nem-nem aqui do Brasil?
Adalberto Cardoso - Crise econômica produz nem-nem e isso todos sabemos. Eu não consigo avaliar exatamente quais serão os efeitos das medidas atuais sobre o emprego daqui para frente. O que vai ocorrer, certamente, é uma consciência de certos agentes econômicos, investidores, etc. Um efeito que é puramente irracional. As pessoas acham que diante de políticas de austeridade o Brasil vai melhorar. E aí o efeito é o contrário do que se imagina: mais investimento. Porque os empresários simplesmente não investiram nos últimos dois anos esperando que o governo mudasse. O governo não mudou, mas a política de governo mudou. E mudou numa direção que os empresários pediram.
Então, eu não sei o que pode acontecer e seu impacto sobre o crescimento de emprego e tudo mais, se vai ser isso que todo mundo está prevendo de queda do Produto Interno Bruto - PIB e com isso redução de emprego e renda. O Brasil, nos últimos três ou quatro anos, com taxa de investimento muito baixa, com taxas de PIB muito baixas, também manteve as taxas de desemprego muito baixas. Quer dizer: o número de empregos formais continuou sendo alto e vem diminuindo a cada ano, mas continua sendo muito alto. Há uma dinâmica subterrânea na economia brasileira que nem todo mundo entende direito. É isso que tem permitido que, mesmo em situações de crescimento muito baixo, o emprego seja mantido.
IHU On-Line - De que forma o trabalho imaterial se torna uma alternativa para esses jovens?
Adalberto Cardoso - É uma questão muito complexa. Esse tipo de trabalho, que tem muitas formas, não é uma coisa só. Ele tem formas muito precárias
“A situação de nem-nem é um elemento importante na produção de desigualdade em longo prazo”. |
IHU On-Line - O senhor coordenou o estudo “Juventude, desigualdades e o futuro do Rio de Janeiro”. O que esse trabalho revelou sobre esses jovens e o futuro das relações com o trabalho? E que inferências podemos fazer em nível de Brasil?
Adalberto Cardoso - O estudo teve muitas faixas. Ele estudou cultura juvenil, participação dos jovens em igrejas, ação coletiva dos jovens, os momentos de junho de 2013, o impacto das políticas de pacificação das favelas na vida dos jovens, além do impacto no mercado de trabalho e também sobre a economia do Rio de Janeiro. Não tem uma resposta única para isso, pois são muitas as dimensões.
Perspectivas para o trabalho
Em termos de mercado de trabalho, por exemplo, uma das questões analisadas são os nem-nem. Mas também os novos empregos gerados com os novos investimentos no Rio de Janeiro, o crescimento da indústria do petróleo no norte do estado e o impacto disso na qualificação de jovens pelas universidades do norte do estado. Cidades como Campos e Macaé cresceram muito e deram muitas oportunidades aos jovens. A própria cidade do Rio de Janeiro, com as obras para Copa do Mundo, Olimpíadas, renovações do centro da cidade, todas as obras que estão sendo feitas, geram muitas oportunidades de emprego. Houve uma dinamização da economia do Rio de Janeiro muito fora da curva em comparação com o Brasil, por causa desses investimentos todos. São investimentos de larga escala e a gente está falando de 150, 200 bilhões de Reais em investimentos em quatro ou cinco anos. É muito dinheiro e concentrado num período muito curto. Então, o Rio está mudando. A cidade cresceu para a zona oeste, o centro está todo renovado. E o estado do Rio está mudando muito em função do petróleo.
UPP's e a política de pacificação
As políticas de pacificação das favelas da cidade do Rio também tem muito impacto nos índices de mortes de jovens por causas externas, diminuiu muito. Teve uma queda brutal na queda de homicídios de jovens. Houve, também, queda nas brigas de gangue aqui no Rio ou pelo menos diminuíram muito e, ainda houve queda nos autos de resistências da polícia, que são os assassinatos puro e simples. Esses autos eram muito dirigidos para os jovens de favela. Em geral, eram jovens negros e moradores de favelas que eram tidos como traficantes e eram mortos como se tivessem reagido. As taxas disso sempre foram muito altas e caíram muito com as Unidades de Polícia Pacificadora - UPP. Houve um impacto da política de pacificação na efetiva pacificação das comunidades de jovens nas favelas. No entanto, houve questões sérias do outro lado. Ou seja, um aumento grande da repressão à vida cotidiana nas favelas.
A presença da polícia é intimidatória, não é democrática. A polícia do Rio de Janeiro está longe de fazer o que estava proposto nas políticas de pacificação. Era para ser uma polícia de proximidade, um policiamento comunitário, com apoio das comunidades. E isso não ocorre. O que ocorre é mais propriamente um policiamento ostensivo, autoritário e violento, ainda que não em termos de morte. São efeitos mistos.
A população aprova a pacificação, mas reprova os métodos. A polícia não tem tradição de policiamento comunitário e nem tradição de polícia de proximidade. A tradição da polícia do Rio de Janeiro é de abordagem violenta das classes pobres. E isso é um aprendizado longo. Os estudos estão mostrando que a geração que sofreu na mão da polícia é incapaz de encarar essa polícia de pacificação como polícia que pode ser amiga da população. Mas isso, no futuro, pode ser que as novas gerações, que vão crescer nesse ambiente pacificado, vejam a polícia não como inimiga. Mas a polícia precisa mudar muito os seus métodos.
IHU On-Line - Qual o papel de sociedade, governos e escola para que se quebre esse ciclo da geração nem-nem no Brasil? Estamos diante de que desafio e que pistas nos indicam caminhos para tentarmos superar essa peculiaridade que afeta, sobretudo, as mulheres e os grupos escolares de mais baixa renda no Brasil?
Adalberto Cardoso - Duas coisas já ajudariam muito. Primeiro: uma melhoria substancial no ensino público, Fundamental e Médio. Já está ocorrendo em algumas regiões do Brasil, já se tem o efeito de investimento em escola pública. É uma coisa muito lenta, que leva 20, 30 anos para aparecer. O Brasil gasta hoje em educação, em termos de PIB per capita, para população em idade própria para escola, a partir de sete anos de idade, a mesma coisa que a Europa. É em torno de 20%. O nosso problema é que o PIB per capita é muito pequeno. É muita diferença, ainda mais num país que as diferenças sociais são muito grandes e a população carente é muito espessa. São alguns milhões de brasileiros dependendo desse investimento para melhoria de sua vida. Então, o caminho é a melhoria da educação pública e investimento de recursos pesados na qualidade do ensino.
“Ensino Fundamental e Médio de boa qualidade segura os estudantes na escola”.
Esse investimento não quer dizer só construir escola e equipamentos de qualidade, mas também pagar melhor os professores. Esse é o grande gargalo do ensino público do Brasil: a capacidade pequena do Estado de remunerar de maneira adequada os professores. Assim, você não atrai para o serviço público os professores mais bem preparados. O ideal seria que o Brasil formasse mestres em doutores para dar aula em Ensino Fundamental e Médio. Isso não acontece. Nossos mestres e doutores vão ou tentar permanecer na universidade ou tentar outro ruma no mercado privado.Ensino Fundamental e Médio de boa qualidade segura os estudantes na escola.
Valorização e reconhecimento à escola
Outro aspecto que também teria impacto importante é um trabalho que só pode vir do Estado, juntando as melhorias na qualidade da escola pública com uma reeducação das famílias para a importância da educação na vida de sues filhos. Você ainda tem o problema que em algumas regiões do país, em determinadas situações familiares, a imagem que se tem é de que a escola não adianta. Que não leva a nada. É ainda muito alta no Brasil a taxa de famílias que acham que os filhos, num certa idade, têm mais é que trabalhar. Em parte é porque, nas férias escolares, colocam os filhos para trabalhar para não ficarem na rua. E acontece de um jovem estar trabalhando nas férias, começam as aulas e ele não volta. E aí, mais adiante, vai perder o emprego e se torna nem-nem. E aí você tem um ciclo de que famílias de baixa renda acabam produzindo nem-nem em taxa maior e que, por sua vez, terão piores condições de vida o futuro. E vão reproduzir famílias da mesma maneira. É um ciclo que depende de políticas e ações de Estado para mudança dessa cultura familiar. Em certos casos, ocorre por avaliação das famílias e por outro lado é uma cultura de desvalorização da escola como cultura de qualificação profissional.
Por João Vitor Santos
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Geração 'nem-nem'. As desigualdades sociais e de gênero. Entrevista especial com Adalberto Cardoso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU