20 Janeiro 2025
O novo filme de Ali Abbasi, "O Aprendiz", conta a história da ascensão de Trump e sua amizade com Roy Cohn.
A reportagem é de Simona Siri, publicado por La Stampa, 19-01-2025.
É o filme que Donald Trump tentou barrar até o fim. “O Aprendiz” não é sobre o presidente, nem sobre a celebridade, nem sobre o bem-sucedido empresário do setor imobiliário. Em vez disso, narra a formação ética e moral do Donald no seu começo, aquele que está tentando se desvincular do pai e que está abrindo caminho na Nova York dos anos 1970 graças à amizade do inescrupuloso Roy Cohn, ex-estrategista de Nixon e Reagan. Uma relação que, de acordo com Gabriel Sherman, o jornalista estadunidense que escreveu o roteiro, explica muito sobre o político de hoje.
“Em 2016, cobri a campanha presidencial e as pessoas que trabalhavam com ele diziam que seu comportamento lembrava o de Roy Cohn e sua falta de escrúpulos. Depois, quando soube como a relação deles havia terminado, como Roy se sentiu traído por Donald ter se distanciado quando ele contraiu AIDS, achei tudo muito shakespeariano e revelador.”
Ali Abbasi, iraniano, dirigiu o filme porque, segundo ele, estava fascinado pelas nuances cinzentas da natureza humana. “Gosto de explorar universos com complexidades morais, com personagens complexos e imperfeitos”. O fato de ser iraniano, além disso, permitiu-lhe uma visão certamente pessoal da realidade estadunidense. “Algumas das coisas que vi no sistema de poder estadunidense, especialmente dessa direita, me fizeram lembrar, de forma surpreendente, da República Islâmica, onde cresci. Estou me referindo à maneira como os interesses mesquinhos do indivíduo estão ligados a uma estrutura ideológica mais ampla. Nos EUA, você pode ser patriota, comunista ou inimigo do povo, dependendo se vocês cortar ou não os impostos. No Irã, se usam termos diferentes - revolucionário, verdadeiro muçulmano - mas também lá tudo se resume a interesses pequenos e pessoais. É o mesmo conceito com formulações diferentes”.
Sebastian Stan é o ator que dá a Trump seu rosto e sua voz. Para ele, o filme é uma oportunidade de “aprender como ele se tornou o que é e, por mais desconfortável que possa ser, tentar entender o que o torna tão atraente para uma parcela tão ampla da população”.
Nascido e criado na Romênia, Stan também diz que o filme é uma reflexão sobre “o sonho americano e os efeitos que pode ter sobre o indivíduo. Se você quiser entender o resultado das eleições, a resposta está na influência que Cohn teve sobre Trump: é daquele tipo de ideologia baseada no negacionismo e no niilismo que se origina a moderna política estadunidense”.
“Trump não tem filtro”, continua Sherman, ”e acho que isso também explica porque as pessoas o acham tão atraente. A pergunta que temos que fazer é se as pessoas sentem assim tanto não poder mais dizer ou fazer nada sem medo de ofender alguém que encontraram uma forma de alívio em alguém como ele que, ao contrário, fala e faz o que quer. Basta ver como está escolhendo seus ministros, personalidades de direita não qualificadas, mas fiéis. Basta ver como tratou sua primeira esposa, seu mentor mais próximo, seu irmão: agora o mundo inteiro é prisioneiro de seus impulsos e, mesmo que seja insensato prever o futuro no governo Trump, há todos os ingredientes para que as coisas deem muito errado.”