23 Novembro 2024
O artigo é de Consuelo Vélez, teóloga colombiana, publicado por Religión Digital, 19-11-2024.
Então Pilatos voltou a entrar no pretório, chamou Jesus e lhe disse: “És tu o Rei dos judeus?” Respondeu Jesus: “Dizes isso por ti mesmo, ou outros te disseram isso a meu respeito?” Pilatos respondeu: “Acaso sou eu judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. O que fizeste?” Respondeu Jesus: “Meu Reino não é deste mundo. Se meu Reino fosse deste mundo, os meus servos teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu Reino não é daqui.” Então Pilatos lhe disse: “Logo, tu és Rei?” Respondeu Jesus: “Sim, como dizes, sou Rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo, para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (Jo 18, 33-37).
Este domingo conclui-se o ciclo litúrgico com a festividade de Cristo Rei. Seguindo o Evangelho de João – muito diferente dos Evangelhos Sinópticos – ficará evidente quem é Jesus, por que ele é julgado e por que será crucificado. Sabemos que Pilatos disse às autoridades religiosas judaicas, quando lhe entregaram Jesus, que o julgassem segundo a sua Lei, mas eles alegaram que não podiam aplicar a pena de morte e que Jesus era um malfeitor (Jo 18, 29-32). Então Pilatos entra novamente para interrogar Jesus, e o diálogo gira em torno do “reinado”, causa civil que Pilatos poderia julgar. Mas é aí que se revela a diferença de planos em que ambos se situam.
Pilatos fala dos reis deste mundo, e Jesus deixa claro que seu reinado é distinto. Ele diz explicitamente que seu reino é de paz, caso contrário teriam combatido para que ele não fosse preso. Também afirma que seu reino é um reino de verdade. Nesse ponto, é importante entender que na Bíblia a verdade não é uma palavra que se conforma com a realidade, mas com a aliança. Nesse sentido, a verdade é fidelidade, lealdade, amor. Portanto, o que esse interrogatório revela é o que esteve presente no Evangelho de João desde o início: crer ou não crer em Jesus é o verdadeiro julgamento. E aqui Jesus se afirma como aquele que testemunha a verdade, diante da qual alguns a aceitam – ouvem sua voz – e outros a rejeitam.
É importante entender que, ao falar de dois reinos, não se está referindo ao mundo do sagrado e do profano, ou do religioso e do secular. Jesus não fala de outro mundo diferente do único mundo em que vivemos, mas da atitude que se assume neste mundo: a de crer nos valores do reino, a de crer nele ou a de rejeitá-lo. O mundo da luz é o reinado de Deus, que começa a ser vivido na história concreta. O mundo das trevas são os antivalores do reino, que também são vividos aqui e agora. Jesus contrasta, então, o mundo do crer e do não crer, do reino e do antirreino, do discipulado ou da rejeição ao chamado.
A solenidade de Cristo Rei, portanto, não significa celebrar Jesus ao estilo dos reis do mundo, com seus valores, estilos, poder e majestade. O Cristo Rei é aquele que realiza a plenitude do serviço, da misericórdia, da inclusão, em outras palavras, das bem-aventuranças, onde os primeiros são os pobres e não está distante a perseguição por parte de tantos que não aceitam esse agir de Deus. Lamentavelmente, as imagens que temos de Cristo Rei revelam mais a majestade dos reis deste mundo do que o reinado que Jesus testemunhou com suas palavras e obras. É tarefa nossa, como discípulos, testemunhar o verdadeiro reinado com nossas palavras e obras.
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Celebrar a Cristo Rei é viver o reinado do serviço aos últimos. Artigo de Consuelo Vélez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU