19 Julho 2023
"Não estamos poluindo apenas a Terra – já estamos causando estragos também no espaço".
O artigo é de Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.
Há 60 anos, em 1963, já havíamos colocado em órbita cerca de 400 satélites e outros objetos; hoje são cerca de 34 mil, boa parte dos quais, após terem esgotado sua vida útil, transformaram-se em lixo.
Muitos desses objetos são ou foram extremamente úteis, viabilizando telecomunicações, previsão acurada do tempo etc., mas agora transformaram-se em um problema para novos lançamentos de satélites e outras naves.
Quem confirma isso é a SpaceX, uma das muitas empresas de Elon Musk, que informou que seus satélites Starlink tiveram que fazer mais de 25 mil correções de curso nos últimos seis meses para evitar colisões com outras espaçonaves e detritos. Os cerca de quatro mil Starlinks em órbita, compõem uma constelação de satélites que visa fornecer serviços de telecomunicações.
Esse número de correções de curso vem crescendo, é o dobro das mesmas manobras feitas nos seis meses anteriores e também é um número que tende a aumentar: segundo analistas, satélites desse tipo serão forçados a fazer até um milhão de correções de curso a cada seis meses para não colidir com outros artefatos.
Segundo a Agência Espacial Europeia, que monitora o assunto há algum tempo, esses 34 mil objetos são apenas os maiores de 10 centímetros, mas diz também que fragmentos menores também podem causar problemas.
É oportuno lembrar que os objetos que orbitam abaixo de 36 mil quilômetros tendem a queimar quando reentram na atmosfera, mas os que os que permanecem acima dessa altitude podem continuar orbitando por centenas de anos.
Até agora as colisões espaciais reais têm sido raras: a última aconteceu em 2021, quando um satélite chinês colidiu com os restos de um foguete lançado em 1996 – não há registros de outros casos nos dez anos anteriores.
Apesar disso, a situação preocupa; o cientista da NASA Donald J. Kassler enunciou o que vem sendo chamado síndrome de Kessler ou efeito Kessler, afirmando que o aumento constante de detritos no espaço causaria um aumento nas colisões, o que geraria mais detritos e mais colisões, em uma espiral que acabaria por tornar a órbita da Terra inutilizável.
O Brasil tem poucos satélites em órbita: em meados de 2022 eram 13, além de outros três em parceria com China, Estados Unidos e Japão. Sete desses satélites pertenciam à Embratel Star One, que foi a maior operadora de satélites de comunicações da América Latina, incorporada à Claro em 2018.
Se levarmos em conta que a SpaceX diz ter a intenção de aumentar o número atual de seus satélites de 4 mil para 30 mil nos próximos anos, além de outras empresas como a Amazon estarem pretendendo criar constelações similares, fica claro que essa é uma questão a ser abordada com urgência.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cresce a poluição no espaço - Instituto Humanitas Unisinos - IHU