Velejam do oriente os marinheiros de Bari e Veneza carregando os ossos de São Nicolau. A Ásia Menor não é mais segura, os muçulmanos ameaçam os restos mortais do bispo de Myra. Sete séculos se passaram desde sua morte, quando Bizâncio resplendecia. O povo o quis bispo, depois aclamou-o santo. No primeiro século do segundo milênio, sua fama percorre de ponta a ponta todo o mundo cristão.
O comentário é de Marco Ventura, professor de Direito canônico e eclesiástico da Universidade de Siena, publicado por Corriere della Sera, 03-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Bari e Veneza compartilham as relíquias. Dois anos depois de desembarcar na Puglia, no outono de 1089, o próprio papa testemunhou a transladação do santo para uma basílica ainda inacabada de São Nicolau. A jornada está apenas começando. Ainda mais a oeste e ao norte, nas terras da longa escuridão, expande-se o santo que vem do nascer do sol.
Em sua vida, havia salvado três meninas da prostituição e três meninos da matança. As moças encontraram-se munidas de um dote, os rapazes, já carne salgada, ressuscitaram. Santo do nascimento, do renascimento, Nicolau se espalha pelos Alpes, na Sibéria é chamado de Nikkulai, no norte da Itália é Nicolò, na Holanda e nas Flandres é Sinter-klaas. O último salto o leva através do oceano, mais a oeste. Nos Estados Unidos ele se torna Santa Claus: o santo agora é “Santa”. Quanto mais viaja, mais muda de nome, feições, cores.
Em 1931, pela primeira vez, a Coca-Cola o utiliza na propaganda de Natal. A dupla Coke Santa torna-se indissociável, a ponto da Coca-Cola ter que especificar isso hoje no seu site: “Não criamos a lenda de Santa Claus, mas com a nossa publicidade fizemos dele o personagem alegre que conhecemos”. Ícone bizantino e bonequinho comercial, caçador de arianos e símbolo do diálogo entre os cristãos, São Nicolau espera por você, no solstício de inverno, se precisar de luz.