08 Setembro 2022
Do ponto de vista urbanístico, a cidade de Karlsruhe assemelha-se a um leque. E há realmente necessidade de ar fresco para relançar o caminho do diálogo, muitas vezes relegado à margem das agendas eclesiais, e hoje tragicamente sobrecarregado pelas repercussões da atualidade internacional. Começando, claro, com a guerra na Ucrânia. Um cenário, este último, que serve de moldura para a XI Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) cujos trabalhos terminarão amanhã na cidade alemã de Baden-Wuttemberg, às margens dos rios Alb e Pfinz e, claro, o Reno.
A reportagem é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire, 07-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Alguns números são suficientes para explicar a importância do encontro que começou em 31 de agosto: 800 delegados de todo o mundo, mais de 500 convidados e observadores de outras religiões, 300 estudantes e voluntários, para um total de cerca de 1500 pessoas por dia. Um encontro de fé e comunhão baseado em um tema tão vasto quanto importante: "O amor de Cristo impele o mundo para a reconciliação e a unidade". “Título” que, mais do que um guia aos trabalhos, representa uma espécie de chave analítica, um método para ler cristãmente as muitas emergências atuais. Dos conflitos em curso não só na Europa (basta recordar o Médio Oriente) à crescente pobreza, da emergência sem fim das migrações às consequências de quase três anos de pandemia. “Esta Assembleia assume uma importância semelhante àquela primeira de 1948 - explicou o secretário-geral interino do CMI, Ioan Sauca -. Na época o mundo estava emergindo do drama de um conflito total e devastador; hoje vivemos uma infinidade de conflitos, alguns muito conhecidos, outros esquecidos. Precisamos de um novo começo, precisamos de palavras de esperança para alcançar uma reconciliação entre os povos”.
Claro que, em comparação com os primeiros anos do CMI, os cenários são diferentes. Basta pensar na emergência climática que se tornou uma prioridade absoluta, que não admite mais atrasos, pena o futuro de nossos filhos e da própria sobrevivência da humanidade. Não é por acaso que, falando da sessão plenária de 1º de setembro, Dia o Cuidado da Criação, Sauca se debruçou sobre o dever da justiça climática, definindo-a como “central para o nosso testemunho como Igrejas. É uma questão teológica - acrescentou. O plano de Deus em Cristo era também a reconciliação e a cura de toda a criação”. Sobre mudança climática como "a maior ameaça ao nosso planeta" - também falou o líder ortodoxo Bartolomeu, chamando os cristãos ao "arrependimento cósmico".
“Nunca deveríamos reduzir nossa vida religiosa – acrescentou o patriarca ecumênico de Constantinopla em sua mensagem – a nós mesmos e nossos interesses”. Daí o convite a uma virada radical de perspectivas e práticas, passando de uma visão personalista para um olhar plural. Um "estilo" que ressoou também nas palavras do Papa. Na Mensagem enviada a Karlsruhe e lida pelo Cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Francisco destacou de fato que o tema da Assembleia, ou seja, "'O amor de Cristo move o mundo rumo à reconciliação e à unidade' constitui um convite urgente a todos os cristãos a trabalharem juntos para uma maior 'proximidade e unidade' entre as Igrejas, religiões, culturas, povos, nações e toda a família humana, e para promover a reconciliação em todo o mundo”.
Como se sabe, a Igreja Católica não é membro do Conselho Mundial das Igrejas, embora participe dos trabalhos da Comissão "Fé e Constituição". De fato, o CMI, hoje composto por 348 Igrejas em 110 países, para um total de cerca de 500 milhões de cristãos, inclui a maioria das Igrejas Ortodoxas, numerosas Igrejas Protestantes históricas e várias Igrejas independentes reunidas em comunhão para promover o diálogo e a reconciliação entre as diferentes tradições cristãs.
Uma perspectiva posta à prova pelo conflito na Ucrânia com as quebras causadas pelo apoio do Patriarca Kirill à invasão russa. Uma atitude que levou três igrejas-membro a pedir a expulsão do patriarcado de Moscou do CMI. Pedido rejeitado. "O Comitê Central - explicou Sauca - reiterou seu desejo de fazer de nosso organismo um espaço de diálogo livre, pelo que a expulsão foi rejeitada". A opção, portanto, continua sendo a de privilegiar o diálogo, mesmo em relação àqueles que, por seu lado, levantam barreiras. “Para responder às dificuldades do nosso tempo, precisamos uns dos outros - explica Sauca - e só podemos progredir se caminharmos juntos. Ouso dizer que se o CMI não existisse, hoje teríamos que inventá-lo ou reinventá-lo”.
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Em Karlsruhe, a XI Assembleia do CMI: “A unidade, esperança para o mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU