29 Outubro 2021
A Diocese de Pádua contra Jair Bolsonaro. Parece um confronto improvável, mas é tudo verdade. D. Claudio Cipolla, 134º sucessor de São Prosdócimo, não concordou com a concessão da cidadania honorária ao Presidente do Brasil pela Prefeitura de Anguillara Veneta, já objeto de furiosas polêmicas "leigas". O estilo é contido, mas o conteúdo é inequívoco: a homenagem “criou forte constrangimento”, afirma o comunicado da Diocese, lembrando “os bispos do Brasil que, justamente nestes dias, estão denunciando em alto e bom tom a violência, os abusos, a exploração da religião, devastações ambientais e ‘o agravamento de uma grave crise sanitária, econômica, ética, social e política, intensificada pela pandemia’”.
A reportagem é de Alberto Mattioli, publicada por La Stampa, 28-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por isso, vade retro Bolsonaro. Que estará em Roma no próximo fim de semana para o G20 e depois planeja viajar para o Vêneto. Luis Roberto Lorenzato, deputado da Liga Norte pela cota dos italianos no exterior, brasileiro e muito amigo do presidente, relatou isso ao Mattino di Padova. Na próxima segunda-feira, Bolsonaro deveria comparecer em Anguillara, 4.000 habitantes, onde nasceu Vittorio Bolsonaro em 12 de abril de 1878, que emigrou para o Brasil aos dez anos, um dos dezesseis trisavôs de Jair, treze dos quais são italianos, dois alemães e um brasileiro.
"Bolsonaro certamente encontrará forte neblina na região", disse um colega local. E também muitas polêmicas.
A prefeita de Anguillara, Alessandra Buoso, sem partido, mas à frente de uma junta com presença da Liga Norte, conferiu-lhe cidadania honorária, violentamente contestada na cidade e na região. Ela se defende explicando que quer homenagear o Brasil e a epopeia dos emigrantes vênetos. Mas já estão sendo anunciadas manifestações e protestos.
Bolsonaro gostaria de combinar a sua visita ao povoado dos seus antepassados com a da basílica de Santo Antônio, do qual se diz devoto. Mas mesmo em Pádua ele é persona não tão grata. A diocese assumiu oficialmente a posição divulgada; os frades da basílica dizem oficiosamente que não haverá nenhuma delegação para recebê-lo, enfim, Bolsonaro fará suas devoções como simples fiel. E o prefeito da cidade, Sergio Giordani, de centro-esquerda, informa que não está programando nenhum encontro e que sua agenda já está lotada para a segunda-feira.
Em suma, mal vindo, Sr. Presidente. É claro que Bolsonaro, rebatizado de ‘Bolsonero’ por suas posições de extrema direita, não escolheu o melhor momento para sua turnê italiana. Ainda ontem, uma comissão do Senado brasileiro aprovou um relatório de 1.200 páginas pedindo que ele fosse indiciado por nove crimes, incluindo crimes contra a humanidade. Na mira, está a sua gestão desarrazoada da pandemia, que no Brasil já matou 600 mil pessoas. Segundo o relator da comissão, senador Renan Calheiros, Bolsonaro é "um serial killer". O Facebook e o YouTube já removeram um vídeo no qual o presidente fazia uma correlação desvairada entre Covid e AIDS. Algo que faria até Santo Antônio perder a paciência.
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Pádua não quer a visita de Bolsonaro. Os frades de Santo Antônio trancam o acesso à basílica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU