04 Outubro 2021
“A abordagem de Francisco para com as pessoas LGBTQIA+ é de acompanhamento pastoral, movendo-se lentamente, com certos limites, evitando as declarações dramáticas que algumas pessoas podem almejar. O seu enfoque sempre esteve na pastoral de cuidado com as pessoas, defendendo-as da violência e apoiando aqueles que com elas trabalham, de formas que não teriam sido apoiadas pelos seus antecessores”, escreve James Martin, jesuíta estadunidense, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 01-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Dois anos atrás, 30 de setembro de 2019, eu me encontrei com o Papa Francisco no Vaticano para falar sobre meu trabalho com católicos LGBTQ. Durante esse encontro, o Santo Padre pediu-me para que eu continuasse com meu ministério “em paz”. Esse foi um dos muitos passos que Francisco tem dado ao encontro dos católicos LGBTQIA+. Mas frequentemente as pessoas ignoram os pequenos passos que Francisco deu nesta área, os quais, quando juntos, são mudanças radicais para a Igreja Católica.
Como eu tuitei ontem, eu vejo 11 importantes passos que Francisco deu desde sua eleição como Papa em 2013. Vejamos cronologicamente:
1. Quando perguntado sobre os gays em 2013, Francisco proferiu as cinco palavras mais famosas do seu pontificado: “Quem sou eu para julgar?”. Com essas palavras, ele também se tornou o primeiro papa a usar a palavra “gay” tão publicamente. Isso foi uma “revolução da ternura”, para citar o Papa, contida em um questionamento.
2. Durante sua visita pastoral aos Estados Unidos em 2015, Francisco se encontro com seu ex-aluno, Yayo Grassi, e o companheiro de Grassi. O afetuoso encontro, não apenas com Grassi como também com seu companheiro, falou muito sobre a abordagem pastoral do Papa Francisco com os casais homossexuais.
3. Em sua exortação apostólica Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”), Francisco escreveu que quando se faz pastoral com a população LGBTQIA+, nós deveríamos “antes de tudo” afirmar a dignidade humana e o desejo da Igreja de se opor à violência contra eles.
4. Em 2016, em uma entrevista coletiva, no voo de volta da visita ao Azerbaijão, Francisco encorajou um ministério de “acompanhamento”, dizendo que Jesus nunca diria a um gay: “Afaste-se de mim porque você é homossexual”.
5. Durante uma entrevista coletiva no avião voltando do Encontro Mundial das Famílias em Dublin, Irlanda, Francisco disse que filhos LGBTQIA+ nunca deveriam ser expulsos de suas famílias pelos pais. “Não condene. Dialogue, entenda”, disse ele, resumindo o que diria aos pais. “Dê espaço à criança para que ela possa se expressar”. Os comentários do Papa podem ter salvo muitas vidas e evitado que muitos jovens ficassem desabrigados.
6. Seu encontro de 30 minutos comigo no Palácio Apostólico em 2019, foi listado em sua programação pública oficial e acompanhado por fotos da Sala de Imprensa da Santa Sé, um sinal de seu apoio à pastoral LGBTQIA+.
7. Em 2020, enquanto defendia o ensino tradicional da Igreja sobre o casamento entre um homem e uma mulher, Francisco, no entanto, sinalizou seu apoio às proteções legais para as uniões civis em um documentário chamado “Francesco”.
8. Também no ano passado ofereceu seu apoio a irmã Mónica Astorga, uma argentina que trabalha há 14 anos com transexuais, dizendo: “Deus, que não foi ao seminário nem estudou teologia, te recompensará abundantemente”.
9. Em março de 2021, ele nomeou Juan Carlos Cruz, um homem assumidamente gay e sobrevivente de abusos do clero, para uma comissão de alto nível do Vaticano. Em 2018, Cruz relatou que Francisco havia lhe dito “Deus te fez assim” (Francisco disse a mesma coisa publicamente durante sua entrevista coletiva na volta de Dublin naquele mesmo ano: “Sempre existiram gays e pessoas com tendências homossexuais”).
10. Em junho, ele escreveu uma carta calorosa por ocasião do webinar do Pastoral LGBTQIA+, e também afirmou suas orações por este “rebanho” de pessoas LGBTQIA+. “O coração de Deus”, disse ele, “está aberto a todas as pessoas”.
11. Em uma conversa no mês passado na Eslováquia, ele encorajou os jesuítas naquele país a alcançar pastoralmente “casais homossexuais”, não apenas indivíduos. Isso marca uma mudança significativa na abordagem do Vaticano.
Em conjunto, podemos ver como a abordagem de Francisco para com as pessoas LGBTQIA+ é de acompanhamento pastoral, movendo-se lentamente, com certos limites, evitando as declarações dramáticas que algumas pessoas podem almejar. O seu enfoque sempre esteve na pastoral de cuidado com as pessoas, defendendo-as da violência e apoiando aqueles que com elas trabalham, de formas que não teriam sido apoiadas pelos seus antecessores.
Desde sua eleição em 2013, Francisco tem se mostrado pastor para os católicos LGBTQ e suas famílias.
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Papa Francisco tem feito mudanças radicais para a Pastoral LGBTQIA+. Artigo de James Martin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU