“Vexame mundial” – Frases do dia

Foto: Fotos Públicas/PR/Alan Santos

22 Setembro 2021

 

Nova York. Comitiva promove cenas inacreditáveis de degradação

 

“O balanço dos vexames de Jair Bolsonaro na 76.ª Assembleia-Geral da ONU mostrou como um governante pode estragar uma conquista da diplomacia do seu país. O presidente levou o Brasil a perder uma grande oportunidade de se fazer ouvir. Seu negacionismo agressivo com relação à pandemia, as insistentes falsidades, as referências reacionárias à família, além dos desvios de comportamento, superaram as expectativas. O contragosto começou na véspera, quando Bolsonaro teve de ouvir o discurso de más-vindas do prefeito de Nova York. A partir dali, enfrentou uma sucessão de reações que o obrigaram a zanzar de um lado para o outro fazendo-se de desentendido. A comitiva do governo brasileiro, sem agenda, seguiu o mestre, promovendo cenas inacreditáveis de degradação” - Rosângela Bittar, jornalista, O Estado de S. Paulo, 22-09-2021.

 

‘Malandro em delegacia de polícia’

 

“Se não sabia, o mundo percebeu, nesta terça-feira, que o Brasil é um país encurralado por seu presidente e este, um ser isolado do planeta. Como definiu o pré-candidato a presidente da República Aldo Rebelo, ele desempenha “o papel do malandro em delegacia de polícia”. Bolsonaro está tentando explicar o inexplicável”

 

Eduardo Bolsonaro no comando da política externa

 

“O discurso deixou claro que quem está no comando da política externa é o Eduardo Bolsonaro (filho do presidente e deputado federal pelo PSL em São Paulo). Foi um discurso para a base bolsonarista. Todo discurso tem uma audiência internacional e uma audiência doméstica. Bolsonaro privilegiou a doméstica. Não consigo apontar, nas reações internacionais, nenhuma recepção positiva” - Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais – O Estado de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Massoroca de mentiras e exageros

 

“O discurso de Bolsonaro foi uma massaroca de mentiras e exageros temperadas à base de muita ideologia e incongruências. Nada tem a ver com o interesse nacional e com política externa. As expectativas de moderação se revelaram falsas. Foi o discurso mais importante que Bolsonaro fez desde o último na ONU, o maior palco do mundo, abrindo a assembleia-geral com todos os chefes de Estado. É um diploma com selos de veracidade do projeto de poder dele, uma evidência irrefutável de como ideologizaram os mínimos aspectos da política externa brasileira” - Hussein Kalout, ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, pesquisador na Universidade de Harvard – O Estado de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Vexame mundial

 

“Há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro, após reiteradas ameaças de golpe e seguidas demonstrações de desapreço pelo decoro do cargo, comprometeu-se por escrito a dialogar. Como previsto, no entanto, suas promessas de moderação e racionalidade na tal Declaração à Nação não duraram nem um mês. Em discurso na ONU, Bolsonaro, como se estivesse falando a seus fanáticos apoiadores, esbanjou ignorância, má-fé e oportunismo, expondo o Brasil a um vexame mundial. Ou seja, foi o mesmo de sempre” – editorial “Vergonha” – O Estado de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Bolsonaro humilha e desonra o País internacionalmente

 

“Ao desprezar os fatos e a civilidade, Jair Bolsonaro humilha e desonra o País internacionalmente. Os gestos obscenos do ministro da Saúde contra manifestantes em Nova York não foram um deslize num momento de destempero. Trata-se da expressão mais pura do bolsonarismo. Nada é por acaso, como mostrou o discurso do presidente ontem. Nem mil Declarações à Nação mudarão o fato de que Bolsonaro é e sempre será Bolsonaro”

 

Vergonha

 

“A vergonha é um sentimento social, isto é, que azeita a vida em comunidade. Quando eu enrubesço de vergonha por ter violado uma norma social, estou paradoxalmente sinalizando que reconheço e aceito as regras. Sou, portanto, confiável. O sentido evolutivo de sentir vergonha por violações cometidas por terceiros é menos claro. Espero que sirva ao menos para que as pessoas não votem mais no violador” – Helio Schwartsman, jornalista – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Cercadinho

 

“O Jair Bolsonaro que subiu ao púlpito da Assembleia-Geral da ONU é o mesmo que desfila pelo cercadinho do Palácio da Alvorada. O presidente brasileiro levou ao evento sua cruzada conservadora e tentou maquiar a realidade para esconder fracassos do governo. Reforçou seu compromisso com o morticínio da pandemia e com uma agenda de desgaste da democracia” – Bruno Boghossian, jornalista – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Pacto com sua base fiel

 

“Nenhum ator político sério na arena internacional acredita que Bolsonaro tem interesse na preservação ambiental, na moderação política, na defesa irrestrita da democracia e na saúde da população. O presidente aproveitou o ceticismo e fez o que sabe fazer: reafirmou um pacto com sua base fiel”

 

Bolsonaro odeia o Brasil

 

“Não temos presidente. Bolsonaro odeia o Brasil. Não à toa, vem do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o gesto que melhor traduz o discurso mentiroso do presidente, em Nova York: um dedo do meio na cara de cada um dos brasileiros que ele não representa” – Mariliz Pereira Jorge, jornalista e roteirista – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Parte frontal da cueca fora da calça

 

“Os tupinambás que dançaram em 1550 em Rouen na festa da rainha Catarina de Médici eram pitorescos e seus costumes intrigavam os franceses. Já a comitiva de Jair Bolsonaro comendo pizzas numa calçada de Nova York não tinha graça alguma. Selvagem seminu, tudo bem, mas Gilson Machado, o ministro do Turismo da Terra dos Papagaios, estava com a parte frontal da cueca para fora da calça. Quem já viu coisa igual ganha um cinto. Ao seu lado, estava o doutor Marcelo Queiroga, quarto ministro da Saúde do governo de um país onde falta pouco para que seja atingida a marca dos 600 mil mortos. Queiroga comeu pizza de dia, mostrou o dedo à noite e ontem ouviu um discurso delirante. Está há seis meses na cadeira e tornou-se símbolo do caos da administração de Jair Bolsonaro. Quem achava que depois do general Eduardo Pazuello qualquer substituto seria boa escolha enganou-se” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Radicalização

 

“Os bolsonaristas radicais têm uma ligação cada vez mais emocional e psicológica com Bolsonaro. A base que anteriormente chamávamos de fiel está passando por um processo de fortalecimento e consolidação do discurso de defesa do presidente” – Esther Solano, doutora em sociologia e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ela, os radicais estão convictos de que Bolsonaro é perseguido por todos, e eles encaram isso como uma perseguição a eles próprios e ao Brasil que idealizam – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Masculinidade, branquitude, direita

 

“(Bolsonaro) é o empoderamento do homem médio, conservador, que nunca se sentiu visibilizado pela grande política, e hoje se vê reconhecido pelo bolsonarismo. É a exaltação da masculinidade, branquitude, e da direita. Para eles, caindo o Bolsonaro, eles caem junto, e tudo em que eles acreditam cai também; é como se eles voltassem para a invisibilidade”

 

2022 – Sem Bolsonaro

 

“A possibilidade de Jair Bolsonaro (sem partido) não disputar a sucessão de 2022 já começou a ser discutida entre os principais líderes do centrão. Por esse raciocínio, em vez de insistir em contestar as eleições em caso de dificuldade de vitória, o presidente escolheria outro candidato para apoiar, escapando de uma derrota fragorosa nas urnas. Bolsonaro, em troca, tentaria garantir apoio para se defender de processos na Justiça contra ele e os filhos, considerados inevitáveis caso ele deixe o poder” – Mônica Bergamo, jornalista – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Derrotar Bolsonaro é fácil. Mas o bolsonarismo...

 

“Derrotar Bolsonaro é possível com largas alianças à direita. Derrotar o bolsonarismo é uma tarefa bem mais difícil e exigiria um bocado de radicalidade” – Marcelo Coelho, escritor – Folha de S. Paulo, 22-09-2021.

 

Impeachment abriria caminhos para opções mais claras

 

“O crescimento de uma mobilização popular, culminando num impeachment, abriria caminho para opções mais claras no momento posterior das eleições. O corpo mole com relação ao impeachment pode resultar no mesmo que se viu durante a era Lula: um jogo de equilibrismo com a direita, que se torna mais difícil agora que seu ressentimento e radicalização vieram à tona. Meu raciocínio pode ser acusado de total irrealismo —o impeachment parece distante. Mas o irrealismo de hoje pode se revelar bem realista daqui a alguns anos. Esquecer a experiência de 2013, e dos anos que se seguiram, é também fechar os olhos para o que acontece”