21 Setembro 2021
Oito mulheres mortas nos últimos dez dias. Oitenta e seis desde o início do ano. Destas, 72 são vítimas de homicídios no âmbito familiar-afetivo e em 51 casos o assassino é o companheiro ou ex. Esses são os números implacáveis e assustadores do feminicídios na Itália.
O artigo é de Giorgio Beretta, publicado por Il manifesto, 19-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Fenômeno ao qual o Ministério do Interior dedica há alguns anos um relatório com atualizações periódicas que, no entanto, não especifica um ponto fundamental: a arma utilizada. Não é um elemento secundário.
Porque se é verdade que se pode matar com qualquer coisa, é igualmente verdade que – como várias pesquisas mostram - especialmente nos homicídios familiares e de tipo relacional, a arma do crime não representa um mero instrumento para cometer um assassinado, mas constitui um fator psicológico de particular importância na concepção e preparação da ação delituosa.
Os casos dos últimos dias demonstram isso. Em 15 de setembro, uma jovem mãe, Alessandra Zorzin, 21, foi morta em Montecchio Maggiore (Vicenza) por Marco Turrin, um segurança de 38 anos que vivia em Pádua: o homem, que em seguida se suicidou, não usou a arma que usava para o trabalho, mas outra registrada regularmente que trouxera de casa.
Anteontem, Stellio Cerqueni, um idoso de 88 anos, saiu de sua casa em Monfalcone (Gorizia) e foi para Sarmeola di Rubano (Pádua), onde matou sua filha, Doriana, com uma arma registrada legalmente. Em dez dias, portanto, dois em oito feminicídios foram cometidos com armas legais.
Não é um dado casual: da análise dos homicídios registrados no banco de dados do Observatório OPAL*, verifica-se que no ano passado, ante 93 homicídios de mulheres, 23 foram cometidos por proprietários legais de armas ou com armas em sua posse. Isso significa que um em cada quatro homicídios que teve como vítima uma mulher foi realizado com uma arma legal.
Este é um número impressionante se considerarmos que na Itália apenas uma pessoa em cada dez entre a população adulta possui uma licença regular para porte de armas. “Ter uma arma em casa - relata o Censis - representa uma tentação formidável de usá-la e muitos assassinos possuem uma licença regular”.
Não existe uma solução simples para combater a violência contra as mulheres e prevenir o flagelo do feminicídio: precisamos agir em várias frentes e de forma sinérgica. É preciso um trabalho de longo prazo para erradicar as raízes da cultura machista e patriarcal por meio de uma ação capilar de educação, formação e informação: ação para a qual não contribuem palavras como as proferidas por Barbara Palombelli em referência aos feminicídios ("É lícito se perguntar se as mulheres tiveram um comportamento exasperante") que tendem a vitimizar as mulheres.
Mas é necessário, imediatamente, tirar das mãos dos potenciais assassinos as armas que usam para matar. Armas que na maioria dos casos portam legalmente com a cumplicidade, é preciso dizer com clareza, de regras que permitem o fácil acesso (falei sobre isso em dois dos meus artigos recentes: aqui e aqui).
A arma do feminicídio é cada vez mais uma arma de fogo legalmente registrada. E será assim por muito tempo se as regras não forem alteradas.
*Observatório permanente sobre armas pequenas e políticas de segurança e defesa - Opal
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As armas legais dos feminicídios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU