10 Agosto 2021
“A Conferência Eclesial da Amazônia, modelo de sinodalidade na Igreja”. Esse foi o tema do webinar organizado pelo Grupo de Pesquisa Teologia e Pastoral, da Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte, em parceria com o Centro Loyola, o Instituto Santo Tomás de Aquino e a PUC Minas.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
O evento, conduzido pelo Padre Geraldo de Mori e o Irmão Denilson Mariano, faz parte do projeto Tecendo Redes, diálogos on-line de Teologia Pastoral. O convidado foi Dom Cláudio Hummes, presidente da Conferência Eclesial da Amazônia.
O cardeal Hummes começou dizendo que, a pedido do Papa Francisco, “não é uma conferência episcopal, é uma conferência eclesial”, que inclui todos aqueles que fazem parte do Povo de Deus. Estamos diante da única conferência desse tipo no mundo, salientou Dom Cláudio, afirmando que “ela quer ser uma inspiração para toda a Igreja em termos de um caminho de sinodalidade, que hoje é de fato o caminho que a Igreja quer palmilhar na direção do seu futuro”.
Se faz necessário entender o que é, segundo o cardeal, sabendo que mesmo agindo ainda está esperando o reconhecimento canônico de Roma, seguindo as orientações do Papa Francisco. O estatuto que está sendo elaborado está demorando porque vai ser um modelo para outras conferências eclesiais pelo mundo afora, insistiu o presidente da CEAMA. Ele foi apresentando a história da CEAMA, partindo da Conferência de Aparecida, onde o Papa Francisco começou a perceber a importância da Amazônia, sendo arcebispo de Buenos Aires e o presidente da comissão de redação do texto, da qual também fazia parte o cardeal Hummes.
No Documento de Aparecida, lembrava o cardeal Hummes, aparecem questões que fazem referência à Amazônia, sobre o cuidado do meio ambiente, mas também sobre criar uma Igreja com rosto amazônico, uma Igreja inculturada, uma Igreja que sabe trazer elementos das culturas dos povos, uma Igreja que soubesse formular um plano de pastoral para toda essa região, formada por nove países e muitas culturas, mas que também respeitasse as diferenças, um trabalho a ser revisado continuamente, algo dinâmico, um processo.
A Igreja do Brasil, seguindo as reflexões do Concilio Vaticano II, de uma Igreja Povo de Deus, uma Igreja missionária, uma Igreja inculturada, vinha assumindo isso, seguindo o apontado pelo Documento de Santarém em 1972, e sendo discutido cada ano nas Assembleias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No início do milênio foi criada pela CNBB uma Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, que ele mesmo preside desde sua volta ao Brasil após ser Prefeito da Congregação do Clero. Ao longo da sua presidência visitou 34 dioceses e prelazias da Amazônia, visitando as comunidades locais, conhecendo as dificuldades da Igreja na Amazônia.
Aos poucos, Dom Cláudio disse que foi vendo a necessidade de um trabalho em rede, que tirasse as comunidades do isolamento e resolver juntos os grandes problemas, muitas vezes similares. Nessa conjuntura foi criada, em setembro de 2014, a Rede Eclesial Pan-Amazôniaca (REPAM), onde “todo mundo começou a se dar as mãos”, começando a visitar, a ouvir, a planejar juntos, a dialogar, e conversar sobre como ser Igreja inculturada, com rosto amazônico, como tinha sugerido Aparecida. Foi algo que desde o início o Papa Francisco apoiou e abençoou.
A partir dai foi surgindo a ideia de um Sínodo para a Amazônia, celebrado em outubro de 2019. Dom Cláudio destacou a importância do Documento Final e da Querida Amazônia, que são os sonhos do Papa Francisco a partir de tudo o que até ali foi formulado. O cardeal define a preparação do Sínodo para a Amazônia como “um grande exercício de sinodalidade”, em que a REPAM ouviu as comunidades para elaborar o Instrumento de Trabalho.
“Ali se viu como o povo quer falar, como o povo quer ser escutado”, segundo o presidente da REPAM, insistindo em que “o povo, ele também sabe para que lado sopra o Espírito Santo”, uma expressão do “sensus fidei”, de que “os fiéis também sabem o que é que a fé nos diz sobre como viver a fé nos tempos de hoje em vista do futuro”. Ele insistiu na necessidade de os bispos escutar o povo, as famílias, pois “no batismo todos recebem o Espírito Santo que lhes dá esse sentido da fé”, algo que considera fundamental para a sinodalidade, que “se baseia nisto na verdade”, no Povo de Deus que mostra como ser discípulo missionário hoje e se santificar.
Uma das propostas do Sínodo foi a criação de um organismo episcopal que pusesse em prática o Sínodo no território. Mas o Papa, que sempre está além de nós, lembrou Dom Cláudio, fez a proposta de um organismo que envolve todas as categorias do Povo de Deus, onde todos sejam membros. Um organismo com autonomia própria, o que fez com que surgisse a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). Era uma coisa totalmente nova, que aos poucos tinha que ser elaborada, vinculada ao Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), que segundo o cardeal também está fazendo um processo de renovação para ser mais sinodal.
A CEAMA foi criada em 29 de junho de 2020, que mesmo sem ser aprovada canonicamente vem trabalhando para pôr em prática o Sínodo no território. Dom Cláudio insistiu em que é um processo, “que se autocorrige, que se autoalimenta” com a força do Espírito e o sentida da fé do Povo de Deus. Por isso, o cardeal chamava a participar, a ser sujeitos desse processo, algo que a CEAMA está fazendo ao trabalhar o plano de pastoral para dinamizar, articular e acompanhar as propostas do Sínodo no território. Ele insistiu em que “é um trabalho em rede, com todas as culturas, com todos os países”.
Segundo o cardeal Hummes, não existe a formula mágica para que a sinodalidade comece a aparecer e sim o trabalho do povo para que isso avance, insistindo em sentar juntos, escutar juntos. Dom Claudio, falando do CELAM, que está preparando a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, disse que “está querendo se transformar dentro dessa dinâmica sinodal”, sendo um exemplo muito grande para as conferencias episcopais, que pela sua vez tem que estimular as dioceses e paróquia para que vejam que isso é possível fazer.
Segundo o presidente da CEAMA “é o Espírito Santo que renova a Igreja, mas através dessa sinodalidade, desse sentido da fé que dá ao Povo de Deus a capacidade de participar desse processo”. O cardeal insistiu na importância da comunicação, de ver através de que modos vislumbrar os processos que estão acontecendo, das redes sociais, um mundo em que não conseguimos entrar suficientemente, segundo Dom Cláudio.
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Dom Cláudio Hummes: “O povo, ele também sabe para que lado sopra o Espírito Santo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU