08 Julho 2021
Temos o primeiro mentiroso a sair direto da CPI para a cadeia. Roberto Dias, o sargento da reserva, mandalete do Centrão na cobrança das propinas das vacinas, foi preso agora por ordem do presidente da CPI, Omar Aziz, por mentir do começo ao fim do interrogatório.
O depoimento de Dias deixou claro o que todo mundo já sabia. O Ministério da Saúde foi tomado por duas facções, uma sob a liderança de Pazuello e dos coronéis, e a outra comandada pelo Centrão.
Dias foi derrubado pelos coronéis porque estava na facção com menos poder, mas possivelmente mais gananciosa.
Complicou-se a situação das facções das propinas. Quem mais irá mentir na CPI?
Preteou o olho da gateada
O general que substitituo o sargento
Atualizem as informações sobre os militares de Bolsonaro. Temos duas notícias hoje. A primeira é sobre um grande salto na patente do ocupante do cargo de diretor do Departamento de Logística da secretaria-executiva do Ministério da Saúde.
O diretor era o sargento da reserva da Aeronáutica Roberto Ferreira Dias, demitido após denúncia de suspeita de cobrança de propina em negociações sobre vacinas. Dias está depondo nesta quarta-feira na CPI do Genocídio.
O substituto do sargento será o general da reserva do Exército Ridauto Lúcio Fernandes (foto), nomeado hoje por Bolsonaro.
Fernandes entrou na Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello. O oficial já atuava desde janeiro na área de logística como assessor especial.
A outra notícia sobre militares é essa, publicada por Malu Gaspar, no Globo. O coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil, foi quem viabilizou o encontro do cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, representante da Davati Medical Supply, com o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, o poderoso coronel Elcio Franco.
A reunião dos coronéis aconteceu na manhã do dia 12 de março e estava prevista na agenda oficial do ministério. Mas não era para falar com a Davati, e sim para tratar do "Contrato Beep".
Teoricamente, deveria servir para o dono de uma rede privada de vacinação do Rio de Janeiro, a Beep, dar sugestões para regulamentação da lei que permitia a compra de vacinas para a iniciativa privada.
O Brasil 247 relata que, no horário marcado, o coronel Helcio apareceu com Dominghetti, o executivo da Davati Cristiano Carvalho e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), entidade religiosa com sede em Brasília (DF). Quando o secretário de Pazuello chegou, havia cerca de dez pessoas numa sala anexa ao seu gabinete, incluindo o representante da Beep, Vander Corteze.
No encontro, Dominghetti, Carvalho e o reverendo Amilton Gomes de Paula falavam da proposta das 400 milhões de doses de AstraZeneca. Foi discutido um preço de US$ 3,50, mas já estava cotada a US$ 17,50 por dose.
Àquela altura, Dominghetti já tinha feito a oferta ao diretor de logística do ministério, Roberto Dias, que, segundo o cabo, pediu propina de US$ 1 por vacina. O pedido teria sido feito no dia 25 de fevereiro, num shopping de Brasília (DF). Dias negou.
Depois os representantes da Davati tiveram um encontro com o secretário de Vigilância em Saúde, Laurício Monteiro, para a venda sair do papel. Mas o secretário disse que cabia ao 02 do ministério decidir sobre a compra de vacinas.
No dia 11 de março, o reverendo Amilton enviou email ao sócio da Davati nos Estados Unidos, Herman Cardenas, avisando da reunião.
O executivo indicado pela Beep para prestar informações também afirmou que pessoas do mercado de laboratórios indicaram Helcio porque descreviam o coronel como alguém que abria portas no governo.
Se Heinze se eleger a qualquer coisa depois de sua perfomance na CPI, será o caso de salgar o solo deste estado para que nem guanxuma nasça aqui.
Coronelada. Décadas atrás, era o modo de se referir ao golpe militar que, em 1967, instaurou a chamada Ditadura dos Coroneis na Grécia (cujos antecedentes são espetacularmente retratados no filme Z, de Costa-Gavras, proibido por mais de 20 anos no Patropi, disponível no iutube).
Agora o termo já pode ser usado para traduzir o ambiente promíscuo, propício a outro tipo de golpe, que se instaurou no Ministério da Saúde (e no Executivo em geral) a partir da ocupação militar da Administração Pública Federal. Nessa trambicagem das vacinas, a cada dia surge o nome de um novo coronel ou tenente-coronel, já se tem meia dúzia deles. E as suspeitas hoje subiram um degrau na cadeia alimentar, chegando ao coronel que ocupava o segundo posto na pasta. Coronelada, coronelaço, coronelagem.
Ao que tudo indica, esses novos circuitos de especulação com o bem público vieram se agregar aos circuitos já tradicionais no ramo, com eles ora cooperando, ora concorrendo, ora se atritando. O pau começou a comer, e essas escaramuças inundam agora a CPI. Tudo cheira mal. E contamina irremediavelmente o desgoverno, com a lama já alcançando a própria e horripilante figura despresidencial.
No desespero, Bolsorona aciona seu insuperável vomitório giratório. Já não convence ninguém para além da rede, cada vez mais estreita, de fanáticos, predadores e cafajestes que o apoiam incondicionalmente. Está no seu momento mais vulnerável. Melhor oportunidade para ir para cima dele$ talvez não se apresente mais tarde. Vamo que vamo.
CPIndo
A foto do ano!
A cada dia que passa, fica mais claro que o deputado Jair Bolsonaro nunca apareceu nos maiores escândalos de corrupção da história da república porque era insignificante demais pra isso. Ignorante, sem influência e lanterna absoluto nas eleições pra presidência da Câmara, decidiu organizar suas próprias maracutaias pra multiplicar o patrimônio da família. O repórter Lúcio de Castro já tinha demonstrado, com notas fiscais e registros de reembolso do Congresso, que Bolsonaro era o cara que enchia o tanque do carro com mil litros de gasolina a cada ida no posto. Agora o UOL divulga áudios em que ex-assessores contam, em detalhes, como funcionava o rateio dos salários de funcionários fantasmas nos gabinetes controlados por Jair, que não por acaso botou os filhos todos e mais um pouco na política. Não surpreende, portanto, o amadorismo comovente dos esquemas recém-descobertos nas negociações bilionárias de vacinas. Gente medíocre nem disfarça.
Leonardo Sakamoto
O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, confirmou, nesta terça (6), que recebeu Jair Renan, filho do presidente da República, e representantes de uma empresa em audiência. Detalhe: o encontro foi solicitado pelo gabinete do papai após intermediação do rebento 04.
Realizado em novembro de 2020, a reunião havia sido trazida a público pela Veja. Segundo a revista, a tal empresa, Gramazini Granitos e Mármores, patrocina a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, de Jair Renan. Ao contrário dos irmãos Flávio, Carlos e Eduardo, ele ainda não entrou para a política.
O ministro disse à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados que a empresa queria falar sobre uma "inovação tecnológica" na área habitacional - a pasta é responsável pelo Casa Verde e Amarela, sucessor do Minha Casa, Minha Vida. Disse que não conhecia Jair Renan e que não se constrangeu com a presença dele uma vez que "entrou calado e saiu calado".
Como se precisasse dizer qualquer coisa. Uma empresa conseguiu acesso privilegiado a um ministro através de um sobrenome. E um sobrenome sentou-se no gabinete do ministro, com todo o seu peso.
Na época da matéria da Veja, bolsonaristas que tanto reclamaram das relações entre o empreendimento de um dos filhos de Lula com corporações que tinham interesses nas gestões petistas, responderam diante da notícia do 04: "E o PT?" Considerando que o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente e sua família já foram longamente criticados por isso, inclusive com ações na Justiça, a pergunta agora é outra: "E o Jair Messias?"
O clã Bolsonaro nunca compreendeu a necessária separação entre cargos públicos e interesses privados. Não são os únicos políticos ao adotarem esse comportamento, mas insistem nele com frequência. Isso faz com que a ação de Jair Renan seja entendida não como um deplorável desvio pontual, mas como mais uma evidência de um problema estrutural, que começa na família e se esparrama pela República.
Evidências de que o problema é crônico não faltam. Nesta segunda (5), reportagem de Juliana Dal Piva, no UOL, divulgou gravações indicando que o presidente desviava salários de servidores de seu gabinete quando era deputado federal, as chamadas "rachadinhas". E tudo aponta para o fato de que ele era o patriarca do esquema das rachadinhas nos mandatos dos outros filhos.
Ele também recebeu auxílio moradia tendo imóvel próprio, em Brasília, quando era deputado federal. Deu carona para familiares em helicóptero das Forças Armadas no casamento de um dos filhos já como presidente. Abusou do nepotismo ao tentar indicar um dos filhos para embaixador nos Estados Unidos. E diante das críticas sobre isso, afirmou em 18 de julho de 2019: "Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou."
Para um presidente que defendeu a "meritocracia" para que pobres acessassem benefícios sociais, é bastante constrangedor ver que, no caso de sua família, a meritocracia não se dá através de conquistas derivadas do esforço pessoal, mas do sobrenome. Para o clã Bolsonaro, a meritocracia é hereditária.
E as instituições da República, o seu playground.
(Leia a íntegra do texto no post do blog)
Está criado o cenário para o agravamento da guerra civil no Haiti, depois do assassinato do presidente.
Por questão humanitária, pelo conhecimento que têm do país e pela especialização na solução de conflitos, os generais de Bolsonaro que já atuaram como interventores da ONU no Haiti deveriam ser enviados de novo pra lá, e com urgência, sob a liderança de Augusto Heleno.
Fiz essa fala em novembro do ano passado. Ontem o governo Bolsonaro entrou no @STF_oficial para barrar a Lei da Conectividade que garante internet e aparelhos para estudantes e professores da escola pública.
Via Paulo Suess
Sonhar mais um sonho impossível
Vencer o inimigo cruel
Clamar com a voz da Justiça
Manter da balança o fiel
Saber conceder o perdão
Amar e exibir seu troféu
Voar com as asas cortadas
Chegar às estrelas do céu
Minha missão
É correr atrás
Dos sonhos desfeitos
Que não voltam mais
Viver na ilusão
De um mundo melhor
E disposto a sacrificar-se
Com fé e amor
E eu sei, quando enfim eu me for
Já cumprida a missão
Vai calar-se sereno e fiel
Esse meu coração
E o mundo então vai saber
Que um homem cumpriu seu papel
Lutou com bravura e coragem
Chegou às estrelas do céu!
está com Adalberto Müller.
1- Não é todo dia que aparece uma tradução de Hölderlin que liga sua poética da natureza à cosmologia ameríndia. Esse foi o feito mais recente do admirabilíssimo amigo Adalberto Müller na revista cult.
2- Cito palavras de sua introdução: "Talvez o caráter místico de sua poesia seja este: o de elaborar uma teologia negativa, em que a herança antiga e a cristã convergem rumo a uma filosofia da natureza em que os deuses parecem estar sempre 'escapando' da razão. Ao mesmo tempo, o mundo divino parece encantar-se na relação com a natureza."
3- Também não é todo dia que alguém finalmente observa uma certa teologia negativa no grande poeta alemão. Na verdade, todo o debate entre Adorno, Heidegger e Benjamin roda em torno desse ponto, sempre muito mal compreendido.
4- Viva Adalberto Müller!!
Não dá para esquecer
Foi numa segunda-feira, por volta de 10h30, há exatos nove meses. Luiz Cancelier morreu naquele dia e tornou-se a primeira vítima do Estado de exceção implantado no Brasil a partir da deflagração da Operação Lava Jato, que afronta perigosa e acintosamente a Constituição Federal. Não por acaso, a delegada responsável pela prisão e humilhação de Cao Cancelier veio da República de Curitiba, do time de policiais federais que atua a serviço do juiz federal Sérgio Moro. Nove meses depois, a Operação Ouvidos Moucos não apresentou qualquer prova que pudesse comprometer a idoneidade do reitor. E o Estado brasileiro não assumiu sua responsabilidade pela tragédia. Entre os que conheceram e conviveram com Cao Cancelier, sobra uma certeza: não dá para esquecer essa história, que entra para o cômputo da histeria insana, vingativa e moralista que ignora direitos e violenta a cidadania. Leia aqui.
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