"Reativar os restos atrofiados do nosso pensamento metafórico... O percurso oferecido por Roberta Russo mostra ao leitor que os símbolos unificam realidades aparentemente diferentes e distantes. O símbolo da árvore da vida e outros símbolos cristãos, presentes na Bíblia e na tradição, revelam em suas imagens e narrativas as verdades íntimas da fé e, ao mesmo tempo, as verdades intimas do ser humano. A comunicação simbólica supera os limites do tempo e do espaço, os limites da contingência histórica e da rotina diária, os limites da matéria e da corporeidade. Porque, se é verdade que o símbolo nunca é tão catedrático quanto a palavra, ele sugere ao inconsciente muito mais do que a realidade pela qual somos nutridos e a fé que professamos", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro A árvore da vida e outros símbolos cristãos (Paulinas, 2021, 296 p.), de autoria de Roberta Russo.
Eis o artigo.
Roberta Russo é uma estudiosa italiana de história sacra e misticismo, dedica-se, há anos, à publicação de temas religiosos. É autora do livro: A árvore da vida e outros símbolos cristãos (Paulinas, 2021, 296 p.). Sabemos que a temática dos símbolos atrai não somente místicos, poetas e artistas, com o também estudiosos das tradições religiosas. O símbolo é um modo de pensar a realidade que perpassa a cultura humana e, de modo próprio as grandes tradições religiosas. Diferentemente da linguagem racional que distingue e separa para poder explicar e convencer, a linguagem simbólica atrai por sua força de ligação que resulta na comunhão de ideias, de afeto e de vida.
O leitor encontrará no presente volume uma visão geral do pensamento simbólico cristão introduzindo no “jardim secreto” do imaginário simbólico cristão que marcou a história do Ocidente, do hebraísmo à era pós-moderna. Com uma linguagem popular, mas que não renuncia a ser precisa, essa pesquisa leva em conta as fontes acadêmicas mais credenciadas, oferecendo informações essenciais sobre o passado e o presente daqueles símbolos em torno dos quais o homem moderno ainda hoje se questiona.
A autora destaca que “a árvore do mundo, ou árvore da vida, é um dos símbolos mais antigos, ricos em significado e conhecidos na história humana. Em torno deste arquétipo do imaginário coletivo, ainda hoje rico de encanto e mistério, floresceu o universo simbólico de toda a humanidade e do cristianismo” (p. 9). Assim sendo, os 100 temas que compõe este livro oferecem um mapa sobre os grandes símbolos que perpassam o cristianismo presentes em suas fontes e em suas práticas.
A obra está estruturada em dez (10 blocos) assim distribuídos:
- A árvore da vida (p. 15-44): 1) árvore do mundo: o arquétipo (p. 119); 2) a árvore da vida: o princípio (p. 20-22); 3) árvore do conhecimento: agarrar a sabedoria (p. 23-24); 4) árvore da cruz: Jesus venceu a morte (p. 25-26); 4) Tau: o patíbulo do Messias (p. 27-29); 6) árvore de Jessé: a linhagem de Davi (p. 30-32); 7) árvore de Natal: a vida que não morre (p. 33-35); 8) figueira: infidelidade e sabedoria (p. 36-38); 9) candelabro: a árvore da luz (p. 39-41); 10) jardim (p. 42-44).
- Símbolos cosmogênicos (p. 45-72): 11) abismo: dissolução e imensidão (p. 47-48); 12) arco-íris: uma ponte entre o céu e a terra (p. 49-51); 13) céu: a metade do mundo (p. 52-53); 14) estrelas: desejo e universalidade (p. 54-55); 15) compasso: a arquitetura do universo; 16) livro: o liber mundi (p. 58-60); 17) lua: a virgindade fecunda (p. 61-63); 18) nuvens: o tempo da provação (p. 64-66); 19) sol: uma promessa de felicidade (p. 67-69); 20) zodíaco: macrocosmo e microcosmo (p. 70-72).
- Símbolos bíblicos (p. 73-100): 21) serpente: sedução e energia (p. 75-77); 22) dragão: a hostilidade de Deus (p. 78-80); 23) arca: palavra e presença de Deus (p. 81-83); 24) maça: o fruto proibido (p. 84-85); 25) levedura: corrupção e o Reino de Deus (p. 86-88); 26) Babel: confusão e sede de conhecimento (p. 89-91); 27) baleia: morte e ressurreição (p. 92-93); 28) espada: guerra e paz (p. 94-95); 29) anjos e demônios: a luta entre o bem e o mal (p. 96-98); 30) vinha: o povo de Israel (p. 99-100).
- Símbolos das catacumbas (p. 101-129): 31) cordeiro: inocência e confiança (p. 103-105); 32) âncora: a crux disfarçada (p. 106-107); 33) pomba: leveza e inocência (p. 108-110); 34) fênix: ressurreição e imortalidade (p. 111-112); 35) monograma de Cristo: entre alfa e ômega (p. 113-115); 36) barco: da vida para a vida (p. 116-118); 37) palma: glória e triunfo (p. 119-121); 38) pastor: Jesus salva (p. 122-123); 39) pavão: beleza e eternidade (p. 124-126); 40) peixe: o sinal secreto (p. 127-129).
- Símbolos antropomórficos (p. 131-155): 41) Adão: terra e sangue (p. 133-134); 42) Adão e Eva: reconhecer-se como casal (p. 135-136); 43) Abraão: o ventre dos justos (p. 137-138); 44) Messias: o ungido do Senhor (p. 139-140); 45) Virgem Maria: maternidade e divindade (p. 141-143); 46) magos: os buscadores de Deus (p. 144-146); 47) Apóstolos: os sinais de reconhecimento (p. 147-148); 48) Evangelistas: o tetramorfo (p. 149-150); 49) Pantocrator: o soberano em tudo (p. 151-152); 50) Longino: a lança sagrada (p. 153-155).
- Símbolos numéricos (p. 157-180): 51) um: o absoluto (p. 159-160); 52) três: a perfeição (p. 161-162); 53) quatro: a terra e a totalidade (p. 163-164); 54) cinco: o pentagrama e os pães de Cristo (p. 165-166); 55) seis: a imperfeição (p. 167-168); 56) sete: a completude (p. 169-171); 57) oito o oitavo dia (p. 172-173); 58) doze: completo (p. 174-175); 59) quarenta: espera e preparação (p. 176-177); 60) cem: bênção e promessa (p. 178-180).
- Símbolos arquitetônicos (p. 181-208): 61) porta: a passagem (p. 183-184); 62) torre: para além do cotidiano (p. 185186); 63) coluna: o eixo do mundo (p. 187-189); 64) pedra: fundamento e solidez (p. 190-192); 65) escada: para Deus (p. 193-195); 66) vitral: a magia da luz (p. 196-198); 67) altar: a mesa (p. 199-201); 68) cúpula: a abóbada do céu (p. 202-203); 69) labirinto: o caminho para o Absoluto (p. 204-206); 70) Jerusalém: a cidade de Deus (p. 207-208).
- Símbolos místicos (p. 209-235): 71) nudez: diante da verdade (p. 211-212); 72) beijo místico: a união com Deus (p. 213-215); 73) fogo: queimar de amor (p. 216-218); 74) montanha: rumo a Deus (p. 219-221); 75) coração: o lugar da conversão (p. 222-223); 76) deserto: meditação e tentação (p. 224-226); 77) noite: o silêncio de Deus (p. 227-228); 78) luz: o numinoso (p. 229-231); 79) girassol: buscar a iluminação (p. 232-233); 80) sopro: fôlego e vento (p. 234-235).
- Símbolos teológico-espirituais (p. 237-264): 81) credo: o símbolo da fé (p. 239-241); 82) Trindade: representações simbólicas (p. 242-244); 83) jejum: uma profissão de fé (p. 245-247); quaresma: o tempo da penitência (p. 248-250); 85) cinzas: caducidade (p. 251-252); 86) peregrinação: a vida como passagem (p. 253-255); 87) sangue: vida e expiação (p. 256-257); 88) coroa: dignidade e realeza (p. 258-260); 89) cinto: prontidão e vigilância; 90) pérola: o Reino de Deus no coração (p. 263-264).
- Símbolos rituais (p. 265-294): 91) água: humildade e transparência (p. 267-269); 92) óleo: força e vigilância (p. 270-271); 93) pão: o alimento universal (p. 272-274); 94) vinho: o sangue de Cristo (p. 275-277); 95) cálice: salvação e destino (p. 278-280); 96) mão abençoando: invocando o bem (p. 281-283); 97 veste branca: a vida nova em Cristo (p. 284-286); 98) incenso: a oração sobe ao céu (p. 287-289); 99) ícone: um rosto e uma esperança (p. 290-292); 100) amém: a adesão a Cristo (p. 293-294).
Reativar os restos atrofiados do nosso pensamento metafórico... O percurso oferecido por Roberta Russo mostra ao leitor que os símbolos unificam realidades aparentemente diferentes e distantes. O símbolo da árvore da vida e outros símbolos cristãos, presentes na Bíblia e na tradição, revelam em suas imagens e narrativas as verdades íntimas da fé e, ao mesmo tempo, as verdades intimas do ser humano. A comunicação simbólica supera os limites do tempo e do espaço, os limites da contingência histórica e da rotina diária, os limites da matéria e da corporeidade. Porque, se é verdade que o símbolo nunca é tão catedrático quanto a palavra, ele sugere ao inconsciente muito mais do que a realidade pela qual somos nutridos e a fé que professamos.
Um texto de qualidade excelente. A linguagem simples traduz os estudos clássicos e atuais sobre a temática e oferece um roteiro didático para os interessados em aprofundar-se no assunto. Recomendável para agentes de pastoral e catequistas, para os grupos de estudos bíblicos e ministérios litúrgicos.
Leia mais