28 Novembro 2020
"Nosso reconhecimento e nossa gratidão pela resistência que fazem as mulheres indígenas do Brasil pela sustentação estratégica que realizam na preservação e na continuidade das lutas dos povos indígenas", escrevem em manifesto a Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) e o Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (FOREEIA).
Eis o manifesto.
A Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI) e o Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena do Amazonas (FOREEIA), neste 25 de novembro – Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher – solidarizam-se com a mulher indígena do Amazonas, da Amazônia e do Brasil, submetida, pelo estado brasileiro e parcela da sociedade nacional, a diferentes modos cotidianos de violência de marginalização e ao não respeito aos direitos fundamentais consagrados pela Constituição Federal.
Racismo e discriminação são marcas históricas na relação da sociedade ocidental com os povos indígenas e, particularmente, na relação com mulheres e crianças. Trata-se de uma história cujas páginas envolvem atos de exploração sexual, violação, estupro e mortes em uma série de eventos nos processos de contatos e da invasão dos territórios indígenas desde à “conquista” da América à atualidade, nos subcontratos e ou informalidade na prestação de serviços domésticos nos centros urbanos que, em geral, ignoram direitos trabalhistas e as submetem a regime de trabalho semelhante ao do escravismo.
Sem atenção adequada à saúde, à moradia e ao transporte, mulheres indígenas enfrentam o descaso governamental, a crescente precarização das políticas públicas destinadas a elas, às crianças, aos idosos e aos povos indígenas; o acesso à educação básica ou outras oportunidades de estudos são reduzidas; enfrentam as drásticas consequências da pandemia da Covid-19 em suas vidas e das comunidades; os efeitos emocionais que a violência estrutural e social produzem em seus corpos, em sua existência. Respondem com resiliência, tecem redes solidárias; posicionam-se em defesa das culturas indígenas, produzem vivências culturais libertárias, reafirmam as identidades e a disposição de seguirem marcha, criam alianças em favor da vida com dignidade e respeito ao pluriétnico que as situam no mundo.
Nosso reconhecimento e nossa gratidão pela resistência que fazem as mulheres indígenas do Brasil pela sustentação estratégica que realizam na preservação e na continuidade das lutas dos povos indígenas.
A FAMDDI e o FORREIA, frutos dos fios da fibra indígena, reafirmam neste 25 de novembro, o compromisso de caminhar junto às mulheres indígenas, dos coletivos que as representam e ser parceiros no ecoar das vozes, das denúncias e na celebração das conquistas; permanecerão marchando com as mulheres indígenas nas lutas pela construção de um Brasil, de uma Amazônia e de um Amazonas onde o RESPEITO aos povos indígenas se concretize de fato nas ações governamentais, no estabelecimento de programas que assegurem às mulheres indígenas e aqueles por elas representados tratamento digno, valorização dos seus conhecimentos, dos saberes e das formas de vida por esses povos preconizadas.
Vidas de mulheres indígenas importam!
Este manifesto é assinado por:
Associação das Mulheres Indígenas do Rio Negro (AMARN)
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (ADUA)
Conselho Indigenista Missionário (Cimi Norte I)
Fórum de Mulheres Afro-Ameríndias e Caribenhas (FMAC)
Mandato Popular – Dep. José Ricardo (PT-AM)
Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas – MUSAS
Rede de Mulheres Makira -Eta
Serviço de Ação, Reflexão e Educação Sociambiental na Amazônia (SARES)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas (SJP-AM)
Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya)
Leia mais
- “Quando a mulher indígena percebe e descobre a força que tem, nada e nem ninguém pode pará-la. Ela avança, e avança com determinação”. Entrevista com missionárias indígenas
- Racismo institucional e repressão cultural: “Tão bonito que nem parece índio”
- Por que a violência contra mulheres indígenas é tão difícil de ser combatida no Brasil
- Pesquisa revela uma década de violência contra mulheres indígenas em São Gabriel da Cachoeira
- Mulheres indígenas, raiz e tronco da luta pelo território
- “Dizer que nós mulheres indígenas não enfrentamos violência de gênero é mentira”
- Mulheres indígenas dizem basta à violência e à invisibilidade
- Dia Internacional da Mulher Indígena: momento de lutar para “poder expressar aquilo que sentem”
- Organizações de Mulheres Indígenas no Brasil: resistência e protagonismo
- O patriarcado da conquista e as mulheres indígenas
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pelo fim da violência contra a mulher indígena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU