11 Novembro 2020
O ano de 2020 está sendo nefasto para a camada de ozônio que protege a vida na Terra das radiações solares. O buraco que se abre a cada temporada na Antártida cresceu 50% em relação a 2019. A redução do escudo no Ártico alcançou níveis recordes nesta primavera. Estes dados servem para lembrar como é difícil – quando é possível – reverter o dano ambiental causado pelas atividades humanas.
A reportagem é de Raúl Rejón, publicada por El Diario, 09-11-2020. A tradução é do Cepat.
A quantidade de gases liberados que destroem ozônio e que ainda persistem na atmosfera faz com que, quando se dão certas condições, o buraco na camada dispare. Este ano chegou a um máximo de 24,8 milhões de quilômetros quadrados sobre a Antártida, no último dia 20 de setembro (três vezes o tamanho dos Estados Unidos). São 8,4 milhões a mais que em 2019, um ano especialmente bom. Este buraco é “tão grande e profundo” que irá persistir durante este mês de novembro, conforme acaba de prever a Agência Estadunidense de Oceanos e Atmosfera (NOAA). Está acima da média da última década.
“Lembra-nos o buraco de 2018 que também foi muito grande”, explica Vincent-Henri Peuch, diretor do sistema da União Europeia de observação da atmosfera Copernicus. Desde 2000, só houve oito anos com buracos maiores do que este. As observações por satélite detectaram uma coluna de mais de 6 quilômetros de altura na estratosfera, onde ocorreu uma “quase eliminação completa do ozônio”, segundo confirmam a NASA e a NOAA.
O buraco da camada de ozônio no hemisfério sul ocorre entre os meses de agosto e outubro. No entanto, o processo análogo no polo norte ocorre em março e abril. A destruição da camada, em 2020, “alcançou níveis sem precedentes em amplas zonas do Ártico”, como revelou a Organização Meteorológica Mundial (OMM). A última vez que se observou uma destruição desse porte, ainda que inferior, foi em 2011. O processo foi freado ao aumentar a temperatura em abril e com a entrada de um fluxo de ar rico em ozônio das partes mais baixas da atmosfera.
“A estratosfera no Ártico continua sendo vulnerável diante das substâncias que destroem o ozônio ligadas às atividades humanas. O nível de perda de ozônio de cada ano particular depende das condições atmosféricas, mas os dados de 2020 nos obrigam a continuar atentos”, alertou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, ao ver os números recordes desta temporada.
A perda de ozônio, tanto no norte como no sul, acontece porque ainda persistem altos níveis de gases que o destroem na atmosfera. Os compostos duram décadas, uma vez liberados, e em condições meteorológicas de temperaturas muito baixas, disparam as reações químicas que devoram o escudo de ozônio. Esse escudo atua como um protetor solar que impede a passagem das radiações ultravioletas.
Esta radiação está associada ao surgimento do câncer de pele, melanomas, supressão do sistema imunológico, cataratas e outros danos nos olhos e envelhecimento precoce. Os cientistas estudam atualmente até que ponto a mudança climática pode estar fazendo com que a estratosfera (a parte da atmosfera entre 10 e 50 quilômetros de altura que, em condições normais, tem uma temperatura quase constante) esteja se resfriando e facilitando que se observem temperaturas abaixo dos -78 graus, condições propícias para provocar as reações que destroem a camada de ozônio.
Embora a produção e concentração destes compostos como o cloro e o bromo diminuíram graças ao Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, sua vida longa faz com que o buraco siga sendo reproduzido ano a ano. Em 1980, teve uma extensão média de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. Desde então seu tamanho explodiu e, em 1990, esse valor médio estava em 19 milhões. Este ano, entre setembro e outubro, o buraco teve em média de 23,5 milhões de quilômetros quadrados.
“O buraco teria sido de 1,6 milhão de quilômetros maior, caso houvesse uma concentração de cloro na estratosfera como no ano 2000”, segundo calculam os cientistas da NASA para destacar o valor do Protocolo de Montreal.
A tendência à queda na concentração de substâncias destruidoras fez com que se tenha medido uma recuperação em algumas partes da camada, de 1 a 3% por década, a partir de 2000. A última avaliação mundial sobre a camada de ozônio calcula que, nesse ritmo, seria possível voltar aos valores de 1980, em 2035, no hemisfério norte, e no ano de 2060, na Antártida.
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2020 está sendo um ano nefasto para a camada de ozônio que protege a vida na Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU